sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Erasmo, Desidério (1469-1536)

Desiderius Erasmus Roterodamus ou Erasmo d Roterdão. Humanista, mais conhecido pela sua obra satírica Elogio da Loucura, onde critica particularmente os costumes eclesiásticos da época, mas de cuja obra também faz parte um ataque às teses de Lutero. Filósofo político, teólogo e poeta. Um dos inspiradores do jusnaturalismo cristão renascentista.

Contra a razão de Estado

No seu regime de príncipes, dedicado ao futuro Carlos V, coloca-se numa perspectiva radicalmente diversa da assumida por Maquiavel e da razão de Estado, considerando que não pode haver uma moral privada diversa da moral pública. O rei continua a ser considerado como imago Dei, pelo que deve estar mais vinculado à moral cristã do que os próprios súbditos. Faz depender a legitimidade do poder mais do exercício do que do título, enfatizando o facto das acções do príncipe estarem dependentes da lei e ao serviço do bem comum. Não admite também a resistência activa face aos poderes estabelecidos e condena as sedições.

Monarquia limitada

Defende uma monarquia limitada, controlada e temperada pela aristocracia e pela democracia onde os diversos elementos de equilibram uns aos outros. Era a perspectiva de Cícero e de São Tomás, algo que vai retomado por Montesquieu, Constant e Tocqueville.

Concórdia

No plano da política internacional assume-se como pacifista, considerando que a raiz da concórdia tem de situar-se no interior do homem. Não se mostra favorável ao conceito da própria guerra justa, estabelecendo-lhe inúmeras limitações, defendendo a arbitragem internacional.

Alguns ainda mantêm o universalismo da ideia medieval de res publica christiana, como o humanismo renascentista de Erasmo de Roterdão e Juan Luis Vivès, outros, continuando tal senda, até introduzem a ideia de comunidade universal, como os teóricos da neo-escolástica peninsular, de que se destacam Francisco de Vitória e Francisco Suarez.

Desidério Erasmo (1466-1536), principalmente em Institutio principis christiani, de 1516, e Querela pacis, de 1517, é um pacifista que tanto não advoga, como Dante, o imperium mundi de uma monarquia universal, como também parece não nutrir qualquer espécie de nostalgia pelo Império Romano, defendendo o pluralismo político e considerando que a paz não é contrária à multiplicidade dos reinos, desde que a lei evangélica seja respeitada, por considerar o reino de Cristo como o único reino universal.Adversário do maquiavelismo, adopta um programa prático de pacifismo que até se mostra céptico face à teoria da guerra justa, defendendo, pelo contrário, que seja encorajada a formação de uma consciência cristã comum, pela estabilização do estatuto territorial da Europa, pela intervenção necessária da população em matéria de declaração de guerra, pela organização da arbitragem e pela mobilização de todas as forças morais a favor da paz. Assim, tal como os estóicos, considerava que, todo aquele que se dedicasse às coisas sagradas das musas, era seu compatriota (homopatrida).

Como refere Martim de Albuquerque, concebia a Europa, como um conceito ético, como espaço cultural aglutinado pela religião cristã e sob um ideal pacifista, num mundo descentralizado e pluralista e que toda a discórdia se resolva em acordo sobre o ideal comum.

Retirado de Respublica, JAM

Foto picada de Consciência.org