quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Dostoievski, Fiodor 1821-1881

Romancista russo. Tal como Fichte, passa de um anticzarismo libertário a um messianismo nacionalista, anti-católico, anti-judaico e anti-socialista, que acaba por servir de inspiração doutrinária para o situacionismo dos Romanov.

Em 1849, quando estava detido na Fortaleza de S. Pedro e S. Paulo, na sequência de uma condenação à morte, chegou até a ser alvo de um torturante simulacro de fuzilamento. Contudo, a pena foi-lhe comutada, sendo deportado para a Sibéria donde regressa em 1859, publicando em 1866 o célebre romance Crime e Castigo.

Panteísmo

Num panteísmo, que tem algumas semelhanças com o pessimismo bem lusitano de Antero e de Pascoaes, considera que é preciso amar a terra até ao fim, até aos extremos das suas margens até ao céu; é preciso amar o céu até ao fim, até aos extremos limites do céu, até à terra.

Anarquista religioso

Segundo Kohn, Dostoievski foi fundamentalmente um anarquista religioso à cata de um Deus e um pessimista cristão que proclamou um Deus russo e a salvação do mundo através dele, contrariamente a Tolstoi, considerado um optimista humanitário que acreditou num Cristo racionalista e universal.

A procura da alma russa

Pelo menos, deixou um conselho indispensável para todos os que tentam penetrar na alma russa: não julgueis o nosso povo pelo que ele é, mas pelo que ele quereria ser. Em 1881 dizia que, contrariamente aos europeus, os russos seriam arianos, criticando os turcos e os judeus por se terem aproximado dos ocidentais. Assim, defendia a conquista do Turquestão para se continuar a estender sobre a Ásia o império russo, mesmo até à Índia, para que cresça a convicção da invencibilidade do czar branco. Já antes, em 1877, apoiava epicamente o esforço de guerra contra a Turquia, denunciando a gigantesca conspiração do catolicismo romano e a conjura universal clerical que apoiava os turcos contra os russos. Como uma das suas criaturas literárias dizia, o povo é o corpo de Deus. Um povo só existe quando possui o seu próprio Deus.

Era assim que se expressava Chatov em Os Possessos. Mais dizia : um povo só é povo enquanto tiver o seu deus especial e próprio e repudiar todos os outros deuses do mundo forte e cruelmente, enquanto acreditar que só com o seu deus pode vencer e todos os outros deuses derrotar [. . . ] Se um grande povo não acreditar que só nele está a verdade, se não acreditar que sozinho é chamado e capaz de despertar todos os outros povos e salvá-los com a sua verdade, então transforma-se imediatamente em material etnográfico, mas não num grande povo [. . . ] Mas como só existe uma verdade, um só único povo pode ter o único deus verdadeiro

Tragédia

Voltando à comparação entre Dostoievski e Tolstoi, já Berdiaev salienta que se no primeiro há tragédia, no segundo surge a epopeia. Se Dostoievski está na história, em virtude do dinamismo e do profetismo que o envolveram, já Tolstoi se situa no cosmos, dado considerar que a vida humana é absorvida pelo ciclo imenso da vida. Dostoievski seria um turbilhão [...] um conservador, de uma espécie particular, todo ele penetrado de revolução, mas, apesar de tudo conservador. Assim, a posição de Dostoievski relativamente ao Ocidente é contraditória, ama-o, mas, ao mesmo tempo odeia-o , dado haver nele uma contradição entre a ideia de uma missão universal que considerava investida no povo russo e as suas antipatias nacionais muito pronunciadas.

Retirado de Respublica, JAM

Foto picada da Wikipédia