quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Bizantino, Império ou Império Romano do Oriente

Entre 867 e 1057 atingiu o seu apogeu com uma dinastia macedónia, comandada por soldados que empreendem uma série de lutas vitoriosas contra os árabes, reconquistando várias posições no Médio Oriente e em Itália; derrota a Grande Bulgária em 1014; alia-se com os russos. Em 1054 deu-se a ruptura definitiva entre Roma e Constantinopla. No fim da dinastia, sucessivas revoltas de búlgaros e sérvios e ataques dos normandos às posições italianas. A cidade de Constantinopla cai no dia 28 de Maio de 1453, conquistada pelos turcos otomanos.
Retirado de Respublica, JAM

Bissaia Barreto Rosa, Fernando Baeta (1886-1974)

Professor de medicina de Coimbra. Bacharel em Filosofia em 1908, formado em medicina em 1911. Revolucionário republicano em 1907, e um dos fundadores do Centro republicano Académico e do Grupo do Livre Pensamento. Maçon. Deputado à constituinte de 1911. Membro do Partido Evolucionista e, depois, em 1926, da União Liberal Republicana. Amigo pessoal de Salazar e destacado dirigente da União Nacional, a que adere em Janeiro de 1932. É a principal caução republicana do Estado Novo. Filantropo, assume-se como uma espécie de vice-rei da zona centro do país, durante o salazarismo. É presidente da Junta Geral de Distrito e da Junta Provincial da Beira Litoral. Funda em Coimbra o chamado Portugal dos Pequeninos, um parque de miniaturas arquitectónicas, monumentais e etnográficas que constitui um dos símbolos do Estado Novo. É também o impulsionador da criação do hospital Rovisco Pais, para leprosos. A obra de assistência lançada, solidifica-se quando em 1958 cria a Fundação Bissaia Barreto.
Retirado de Respublica, JAM

Bismarck, Otto Eduard Leopold von (1815-1898)

Conde e depois príncipe de Bismarck. Duque de Lauenburg. Em 1862 é Ministro-Presidente da Prússia. Promove a fundação da Confederação da Alemanha do Norte, em 1 de Junho de 1867, e, depois, a instauração do deutsches Reich, em 18 de Janeiro de 1871. Bismarck, um oficial do exército, fora delegado à dieta de Francoforte, entre 1851 e 1858, exercendo, depois, funções de embaixador em Moscovo, Viena e Paris. Estava consciente de que só um acontecimento bélico, aliado a uma inteligente jogada diplomática, poderia acelerar o processo da unidade alemã. Conforme as suas próprias palavras, a posição da Prússia na Alemanha será decidida, não pelo liberalismo, mas pelo poder (...) as grandes questões do momento já não são decididas através de discursos e decisões por maioria — esse foi o grande engano de 1848-1849 —, mas pelo sangue e pelo ferro. É que a política não é, em si mesma, uma ciência lógica e exacta, mas sim a capacidade de decidir, perante a efemeridade, pela situação que seja menos prejudicial e mais oportuna . Depois de vencer a Dinamarca, na Guerra dos Ducados de 1864, e de obter, em Outubro de 1865, a neutralidade de Napoleão III, logo trata de fazer uma aliança com a Itália, ficando em condições de enfrentar a Áustria, o que ocorre em 1866, onde a Prússia consegue vencer e convencer, depois da Batalha de Sadowa, de 3 de Julho de 1866, que leva à Paz de Praga de 23 de Agosto, onde se estabelece o afastamento da Áustria dos negócios alemães, com a extinção da Confederação Germânica. A partir de então, Bismarck já governa um vasto território que faz fronteira com a Rússia e a França. O pretexto para a conclusão do edifício da unificação vai ser dado pela França que, exercendo grande influência nos Estados da Alemanha do Sul, vai declarar guerra à Prússia em 19 de Julho de 1870, quando um Hohenzollern apresentou a sua candidatura ao trono espanhol. Depois do exército prussiano ter vencido os franceses em Sedan, no dia 1 de Setembro de 1870, os Estados alemães reticentes, como a Saxónia, o Baden, o Vurtemberga e a Baviera, vão aderindo gradualmente ao projecto de unificação e, em 10 de Dezembro de 1870, já a Dieta alemã decide que a Confederação passaria a Império.
Retirado de Respublica, JAM

Bipartidarismo

Quando um sistema político se divide em dois segmentos, em duas partes.
Tendência natural do sistema parlamentar, quando os votos se polarizam entre o sim e o não. Marcado pelo chamado princípio do duelo lógico, estabelecido por G. Tarde, segundo o qual, quando surge um problema grave, as opiniões tendem a agrupar-se em dois blocos, o dos que estão a favor e o dos que estão contra.

Retirado de Respublica, JAM


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"O bipartidarismo é uma situação política em que apenas dois partidos dividem o poder, ou constitucionalmente ou de facto, sucedendo-se em vitórias eleitorais, em que um deles conquista o governo do país e o outro ocupa o segundo lugar nas preferências de voto, passando a ser a oposição oficial e institucionalizada.

Esta situação depende de estes dois partidos atraírem quase exclusivamente a atenção dos media e da opinião pública, passando os demais partidos despercebidos pela maior parte da população.

Existem graus sobre o bipartidarismo, sendo alguns sistemas políticos mais bipartidaristas que outros. Em geral, em certa medida, a maioria dos sistemas favorecem este fenómeno, embora alguns sejam organizados, desde a raíz, de forma a provocar a polarização do eleitorado.

(...)


Críticas ao bipartidarismo


Em relação à idoneidade ou não do bipartidarismo na democracia, existem opiniões contrapostas. Há quem pense que é positivo porque ajuda a estabilidade política e geral de um país, enquanto outros acreditam que supõe uma diminuição pouco saudável de opiniões representadas nos organismos de poder.

Estabilidade versus representatividade têm sido sempre os factores encontrados. A máxima estabilidade seria representada pelos regimes unipartidaristas, as ditaduras e as monarquias, e outras variedades de regimes não-democráticos ou não-republicanos. (...)

O bipartidarismo deve realimentar-se já que muitos eleitores, pensando que votar noutros partidos políticos é desperdiçar o voto (por ser muito improvável que consigam representação parlamentar), acabam por eleger entre uma das duas opções maioritárias. É o que se denomina voto útil e que os partidos maiores usam como argumento para atrair os eleitores de partidos minoritários, coagindo assim ainda mais o sistema bipolarizado."


Retirado da Wikipedia (os arranjos ortográficos são nossos)

Imagem tirada daqui

Bios theoretikos

O mesmo que spoudaios, o estado do homem sério e maduro, daquele que pode ascender a um conhecimento contemplativo da ordem essencial do mundo. O estado do bios theoretikos (vida teórica), do spoudaios, é o do homem sério e maduro, daquele que é capaz de uma vida teórica, enquanto vida contemplativa, recolhendo-se na ausência de paixões (apatia) e na indiferença (ataraxia). O teórico, segundo a lição de Aristóteles, tem de assumir aquele estado de espírito que apenas pode ser atingido pelos que tentam pensar de modo racional e justo. Isto é, conforme a lição de Eric Voegelin, o teórico, deve ao menos ser capaz de reproduzir imaginativamente as experiências que a sua teoria busca explicar. Em segundo lugar, a teoria como explicação só é inteligível para aqueles em que a explicação desperte experiências paralelas como base empírica para testar a base da teoria. Porque uma teoria não é apenas a emissão de uma opinião a respeito da existência humana em sociedade; é uma tentativa de formular o sentido da existência, definindo o conteúdo de uma género definido de experiências. Aliás, segundo Ortega y Gasset, o tal bios theoretikos equivale àquilo que os romanos qualificaram como vita contemplativa, a que corresponde o nosso peninsular ensimesmamento. De acordo com o mestre espanhol, o ensimesmamento constitui uma fase que se sucede àquele momento em que o homem sente-se perdido, naufragado nas coisas, pelo que, com enérgico esforço, recolhe-se à sua intimidade para formar ideias sobre as coisas e seu possível domínio. Só que não fica por aí, porque há sempre uma terceira fase, mais complexa e mais densa, quando o homem torna a submergir no mundo para actuar nele conforme uma plano pré-concebido; é a acção, a vida activa, a “praxis”. E não se pode falar de acção senão na medida em que esteja regida por uma prévia contemplação; e vice-versa, o ensimesmamento não é senão uma projectar a acção futura, pelo que o destino do homem é, portanto, primariamente a acção. Não vivemos para pensar, mas ao contrário: pensamos para conseguir perviver.
Retirado de Respublica, JAM

Bill of Rights, de 1689

Imposto pelo parlamento a Guilherme III de Orange, depois da revolução de 1688, que derrubou os Stuarts, defensores da monarquia absoluta, principalmente com o católico Jaime II, desde 1685.O principal teórico apoiante da casa de Orange é o célebre John Locke. Diga-se que contra a tese do direito divino dos reis se ergueu o movimento da neo-escolástica peninsular, que teve em Francisco Suarez o seu principal representante e nos nossos juristas da Restauração os principais militantes.
Retirado de Respublica, JAM

Bielo-Rússia ou Rússia Branca

(Respublika Bielarus) 207 600 km2 e 10 259 000 habitantes, com 13,24% de russos e 4,4% de polacos. Integrada desde o século XIV no grão-ducado da Lituânia, passou em 1569 para a Polónia; foi anexada pela Rússia em 1772 e 1792; torna-se república soviética em 1919; pelo Tratado de Riga de 1921, a parte ocidental passou para a Polónia e foi reocupada por Estaline depois de 1939; membro da ONU desde 1945. A Bielo-Rússia (Belorússiia) ou Rússia Branca (Belaya Rus), a Respublika Bielarus, como é o actual nome oficial, com 207 600 Km2 e 10 259 000 habitantes. Destes, se 79,% são bielo-russos, 13,24% são de etnia russa e 4,4% polacos. Integrada desde o século XIV no Grão-Ducado da Lituânia, passou em 1569 para a Polónia. Foi anexada pela Rússia em 1772 e 1792, com a partilha da Polónia. Vai ser ocupada pelos Impérios Centrais entre 1915 e 1918 e torna-se República Soviética em 1919. Pelo Tratado de Riga de 1921, a parte ocidental passou para a Polónia, apenas retornando para a URSS com a invasão de Estaline de 2 de Novembro de 1939. A partir de Junho de 1941 e durante três anos é ocupada pelos nazis que, no entanto, nunca esboçaram a tentativa de criação de um Estado, apesar de no exílio se terem constituído dois governos de uma República Nacional da Bielo-Rússia. É membro da ONU desde 1945. Refira-se que a autonomia cultural da Bielo-Rússia apenas se incrementou a partir de 1918 quando Tarashevick instituiu a primeira gramática de bielo-russo, distinta quer do latim (latsinka) quer do cirílico (hrahdanka).
Retirado de Respublica, JAM

Bicamaralismo

Do gr. Kamera, sala abobadada. Sistema político onde o poder legislativo está dividido em duas câmaras, a dos representantes nascidos da representação quantitativa, de acordo com o modelo um homem, um voto, e uma câmara alta, de acordo com a representação qualitativa, tanto de associações como de territórios. O modelo britânico divide-se entre a casa dos comuns, o parlamento, e a Câmara dos Lordes. O modelo americano, entre a Casa dos Representantes (House of Representatives) e o Senado. Entre nós, o bicamaralismo foi consagrado na Carta Constitucional de 1826, com uma Câmara de Deputados e uma Câmara dos Pares, na Constituição de 1838, onde a segunda câmara se qualificou como Senado, e na Constituição de 1911, onde o Congresso da República se dividia numa Câmara de Deputados e num Senado. Já na de 1933, havia uma Assembleia Nacional e uma Câmara Corporativa.
Retirado de Respublica, JAM

Beveridge, Plano

Visando libertar o homem da necessidade, institui um modelo de segurança no rendimento, contra todo o risco que ameace o rendimento regular dos indivíduos, nomeadamente doença, acidentes de trabalho, morte, velhice, maternidade e desemprego. Surge, a partir de então, o modelo estadual de apoio à família, à assitência na doença e ao controlo do desemprego. Um sistema generalizado (abrange toda a população), unificado e simples (quotização única), uniforme (prestações uniformes, seja qual for o rendimento) e centralizado (um serviço público único).
Retirado de Respublica, JAM

Bessarábia

O território esteve integrado no império otomano desde os finais do século XV; pelo tratado de Bucareste de 1812 passou para a Rússia, mas em 1856, pelo Tratado de Paris, a região sul foi reunida à Moldávia, dependente dos turcos; em 1878, voltou à Rússia; em 1918, a Roménia anexou a região; em 1940 teve de a ceder a região à URSS, mas reconquistou-a, com a ajuda dos alemães, entre 1941 e 1944; em 1947 a Bessarábia foi incluída na URSS, passando grande parte do território a constituir a Moldávia, enquanto a parte sul foi integrada na Ucrânia.
Retirado de Respublica, JAM

Bernstein, Eduard (1850-1932)

Judeu alemão. Jornalista, membro do SPD desde 1871, cabendo-lhe a direcção do jornal do partido, Der Sozialdemokrat, de 1881 a 1890. Começa como amigo e companheiro ideológico de Engels. Exilado na Grã-Bretanha, de 1880 a 1901, é, depois, influenciado pelos fabianos e pela moral de Kant, lançando um processo dito de revisionismo. Afasta-se então da dialéctica hegeliana, assumindo um subsolo filosófico empirista e positivista. É um dos adversários de Bebel, líder do SPD, opondo-se também à ala esquerda de Rosa Luxemburg. Tem uma importante polémica com Kautsky, então um marxista ortodoxo, o qual considerava que o capitalismo se estava a estabilizar com a criação de monopólios e cartéis. Deputado em 1902-1906, 1912-1918 e 1920-1928. Abandona o SPD duarante a Grande Guerra, por se opor à participação no conflito. Iniciador do chamado revisionismo em nome do humanismo, invocando Kant em vez de Hegel. Critica os fundamentos materialistas e dialécticos de Marx. A consciência do homem não pode ser subordinada à matéria, sendo a fonte do conhecimento e da vontade. Se o homem desenvolver o conhecimento pode mudar o processo histórico: a necessidade só é cega na medida em que não é compreendida. Importa também reabilitar a moral, essa potência capaz de acção criadora. Bernstein assume assim um socialismo humanista (Châtelet) que está na base da social-democracia contemporânea. A tradução portuguesa de Bernstein em 1976 levou a que o mesmo fosse invocado oportunisticamente por alguns membros do PPD, como forma de réplica ao marxismo ortodoxo do PCP e como tentativa de combater a social-democracia do PS.
Retirado de Respublica, JAM

Bergson, Henri-Louis (1859-1941)

Professor da Escola Normal Superior, desde 1897, e do Collège de France, de 1900 a 1914, depois de leccionar nos liceus. Passa para vida diplomática, de 1912 a 1918. Prémio Nobel da literatura em 1927.

Adopta uma clara posição contra o materialismo mecanicista e o determinismo teleológico, dado que enquanto para o primeiro o organismo é uma máquina determinada por leis calculáveis, já para o segundo existe um plano acabado do mundo. Pelo contrário, Bergson considera que o órgão vivo é a expressão complexa de uma função viva de um élan vital. Entre plantas e animais existe a diferença dos primeiros terem consciência;entre os animais,se uns se determinam pelo instinto,já o homem é inteligência mais intuição. Intuição ou instinto reflectindo sobre si mesmo, o domínio da vida e da consciência que dura. Para Bergson "um objecto que existe é um objecto que se percebe ou se pode perceber, o qual, por isso, nos é dado numa experiência real ou possível". Considera, além disso, que o real não é o ser estável, mas o puro devir, onde a intuição, essa "simpatia devinatória","essa espécie de simpatia intelectual que nos transporta ao interior do objecto para coincidir com o que há de único e, por conseguinte , de inexprimível nele", descobre a explicação universal das coisas. Só a actividade vital, isto é, o devir, o tempo, a vida, a consciência, é que é a única realidade. Se o conhecimento simbólico por meio de conceitos preexistentes, que vai do fixo ao movente, é relativo; já o conhecimento intuitivo instala‑se no movente e adopta a própria vida das coisas. Neste sentido, Bergson reconhece que a política precisa de um "suplemento de alma" face ao desenvolvimento mecanicista e tecnicista da sociedade moderna que tornou a alma muito pequena. E encontra‑o no bon sens, considerado como "um acordo íntimo entre as exigências do pensamento e da acção", algo de semelhante à recta ratio dos estóicos e à reasonableness de Locke. Posição similar fora assumida por Henri Bergson, para quem "temos uma família, exercemos um ofício ou uma profissão;pertencemos à nossa comuna, ao nosso 'arrondissement' e ao nosso 'département'; e aí, onde a inserção do grupo na sociedade é perfeita basta‑nos com rigor cumprir as nossas obrigações para com o grupo para cumprirmos o nosso dever para com a sociedade. A sociedade ocupa a periferia; o individuo está no centro. Do centro à periferia estão dispostos,como que em círculos concêntricos cada vez maiores, os diversos agrupamentos a que o indivíduo pertence. Da periferia para o centro, à medida que o círculo se restringe, as obrigações acrescem e o indivíduo encontra‑se finalmente perante o seu conjunto". É neste sentido que compara filosoficamente a sociedade a um organismo "cujas células, unidas por laços invisíveis, se subordinam ums aos outros numa hierarquia sábia e se submetem naturalmente para o maior bem do todo, a uma disciplina que poderá exigir o sacrificio da parte". Surge , assim, o eterno problema da "sociedade não poder subsistir se não subordina o indivíduo, nem poder progredir se o não deixa actuar". bergsonianao de "elevar o criador animal e individual a criatura espiritual".
Retirado de Respublica, JAM

Bentham, Jeremy (1747-1832)

Criador do utilitarismo, forma ética a que chega através da teoria do direito, onde critica os trabalhos de Blackstone, considerando que a lei deve ser socialmente útil e não apenas reflectir o status quo. Nasce em Londres, onde faz a sua formação jurídica. Considera que a lei penal deve ter um justo equilíbrio entre a recompensa e o castigo. Populariza uma frase já usada por Hutcheson e Priestley, the happiness of the great number. Após o encontro com James Mill, em 1808, funda a seita radical dos Benthamites.

Retirado de Respublica, JAM
Ver, também, na Bibliografia do Pensamento Político

Bem-viver Eu Zein

Aristóteles considera que o fim da polis tanto é a autarquia como o bem viver (eu zein). Não visa apenas as necessidades vitais, não segue apenas a linha do parentesco, procurando um fim bem diverso, o bem viver. Não tem apenas em vista a existência material, mas também uma vida feliz, ao contrário do que sucede com uma colectividade de animais.

Não é também e apenas um conjunto maior que a aldeia, já que a genos, apesar de poder ser maior, não é uma entidade política, mas uma entidade étnica. Só a polis é, neste sentido, uma associação completa e perfeita. A polis é a comunidade do bem viver para as famílias e os agrupamentos de famílias, tendo em vista uma vida perfeita e independente.

O modelo clássico da polis sempre foi marcado pela ambivalência. Se, por um lado, ela visa atingir a autarquia, aquele espaço de auto-suficiência que lhe permite satisfazer as necessidades vitais dos respectivos membros, ela também existe para bem viver. Segundo as próprias palavras de Aristóteles, a polis, formada de início para satisfazer apenas as necessidades vitais, ela existe para permitir bem viver (eu Zein) ou viver segundo o bem. É esta dupla exigência que transforma a polis numa sociedade perfeita. Não apenas porque visa a autarquia, o viver, mas porque, além do viver, exige o bem viver. E esta exigência de bem viver que faz da polis uma forma de associação humana totalmente diferente das associações infrapolíticas. Porque se todas as formas de associação humana visam um determinado bem (agathon), aquela que visa um bem maior tem de ser superior à que visa um bem menor. Haverá assim uma comunidade que é a mais alta de todas e a que engloba todas as outras. Esta comunidade é a aquela a que se chama polis, é a comunidade política.

Bem-viver. São Tomás Assinala que a civitas não reduz a perfeição à mera auto-suficiência de bens materiais, considerada como condição secundária e quase instrumental do bem viver. Este consistiria num viver segundo a virtude, considerada como condição primária, onde a virtude é entendida como aquilo por que se vive. No bem viver do homem são necessárias duas condições : a principal é viver segundo a virtude, entendendo por virtude aquilo por que se vive bem (qua bene vivitur); a segunda secundária e quase instrumental, é a suficiência dos bens corporais, cujo uso é necessário aos actos da virtude. Se esta unidade no homem é produzida a causa pela natureza,a unidade de um povo, que é chamada paz, deve procurar-se por industria. Assim, para criar o bem viver de uma multidão são necessária três condições: que ela seja constituída numa unidade de paz; que seja dirigida para o bem; que por acção do governante, sejam suficientemente providas as coisas necessárias ao bom viver. A civitas é perspectivada como uma unidade auto-suficiente (perfecta communitas) porque se basta a si mesma, como uma entidade suprema que engloba todas as outras comunidades, desde a família à aldeia. Como uma entidade que está acima da família, mas que não que, nem por isso, deixa de estar dependente do bem comum do universo, que está acima da civitas ou regnum.
Retirado de Respublica, JAM

Bem comum

Retomando o conceito de bem de Aristótoles, segundo o qual todas as coisas tendem para a perfeição tendem para a realização do seu bem, da sua causa final, São Tomás de Aquino estabeleceu a noção de bem comum como a síntese da ordem e da justiça. Francisco Suárez fala num bonum commune societatis civilis que constitui uma realidade distinta tanto da felicidade natural. A ideia foi depois laicizada, traduzindo a tentativa de conciliação da ideia estática de ordem com a ideia dinâmica de justiça, aproximando-se do dualismo paz e direito, onde é possível a ordem pela justiça e a paz pelo direito. Neste século a ideia foi retomada pelo neotomismo de Jacques Maritain, em Les Droits de l'Hommme et la Loi Naturelle, onde o bem comum além de se assumir como fundamento da autoridade, exige redistribuição e implica uma visão mais geral de boa e recta via da própria humanidade.

·Jacques Maritain, A Pessoa e o Bem Comum [ed. orig. 1946], trad. port., Lisboa, Moraes Editores, 1962.
·G. Fessard, Autorité et Bien Commun, Paris, Aubier-Montaigne, 1969, 2ª ed.
·Michael Novak, Démocratie et Bien Commun, Paris, Éditions du Cerf, 1991.
·Mário Emílio Bigotte-Chorão, Pessoa Humana e Bem Comum como Princípios Fundamentais da Doutrina Social da Igreja. Subsídios para uma Revisão da Cultura Dominante, Lisboa, Universidade Católica Portuguesa, 1994.

Bem Comum e interesse público,89,589 Bem Comum fim da sociedade política,50,310Bem comum imanente, o do Estado,135,942Bem comum transcendente, a pessoa,135,942Bem Comum,122,856
São Tomás de Aquino. bem comum e o bem individual não diferem apenas quantitativamente,mas também segundo uma diferença formal:"bonum commune civitatis et bonum singulare unius personae non differunt solum secundum multum et paucum,sed secundum formale differentiam.Alia enim est ratio boni communis et boni singularis,sicut et alia est ratio totius et partis". São Tomás entende o bem comum como o fim da cidade, salientando que o mesmo consiste numa síntese da ordem e da justiça. Este fim é que dá unidade à civitas. Mas o bem comum são os bens particulares (bonum commune est finis singularum personarum.. sicut bonum totius, finis est cujuslibet partium). A sociedade política é uma sociedade perfeita ou a comunidade perfeita porque tem um bem comum pleno qualitativamente maior que o bem comum das sociedades particulares, das comunidades domésticas. Define, pois, a civitas como a união estável de um certo número de homens que colaboram em ordem a um fim. Ela aparece assim como uma perfecta communitas, como uma unidade auto-suficiente, como uma entidade suprema, dado englobar outras comunidades, como as famílias e as aldeias, mas que apenas constitui uma unidade de ordem, um totus ordinis, onde existe aquela gubernatio que permite conduzir convenientemente o que é governado a um determinado fim.
Rousseau Em Rousseau, o conceito equivalente é o de interesse geral.
Retirado de Respublica, JAM

Bem

Do lat. bene. Em grego, agathon. Segundo Aristóteles, cada coisa tem o seu bem, a sua natureza, o seu fim. A natureza de uma coisa é o seu fim e o fim de uma coisa é aquilo que é uma coisa sempre que ela atinge o seu completo desenvolvimento, a sua causa final, o seu bem melhor. Porque todas as coisas tendem para a perfeição, para a plena suficiência. Neste sentido, salienta que todas as comunidades humanas têm o seu bem. Que a polis, como uma espécie dentro do género comunidade, também tem o seu bem. Porque qualquer comunidade é constituída tendo em vista um certo bem, porque é para obter o que parece como um bem que todos os homens realizam sempre os seus actos. Ora, a polis, como a mais alta de todas as comunidades, como a comunidade política, tem, assim, um bem maior que todas as outras comunidades. Visa não apenas o fim da auto-suficiência (autarkeia) como o fim do bem viver (eu zein).
Retirado de Respublica, JAM