domingo, 4 de janeiro de 2009

Gestos inúteis, palavras vãs!

Ou como a sabedoria popular é mais ser do que ter


Confesso-me um alinhado em muitas das expressões proverbiais! Normalmente, têm origem popular, porque a origem da sua mensagem coincide com a natureza do seu conteúdo. Isto é, porque essas tiradas são do povo, o próprio povo, dizem dele o que, realmente, é! Enfim, dizem o que, de facto, sabem ser. Melhor ainda: o que dizem é o que sentem ser, antes mesmo de saberem (ou não) que são. Por outras palavras, muitas das expressões populares perpectuadas neste estrato do conhecimento traduzem algo que transcende, a priori, os seus emissores, pois a eles se sobrepõem, numa relação escatológica que confronta o ter, o dizer, o saber e o ser!

Assim, ricos são os povos que têm muito para aprender nestas vias da socialização, e as utilizam, de forma mais ou menos padronizada, como meio de exprimirem o que entendem dizer que deve ser aprendido! E o que, dessa forma, ficam a saber? Acima de tudo, que sabem que são aquilo que têm e dizem ser! Nem mais nem menos! E, usando uma já muito aludida expressão, coloquial q.b., de meu mui citado mestre JA Maltez, ricos são os povos que têm gente que "Vive como pensa, mesmo que, para tal, não pense como vive"!

Reportando agora a um dos factos que importa registar da interpretação ao inquérito que aqui fizemos no último trimestre, apenas indicamos o que, das conclusões, parece evidente:

- a primeira, e desde logo redutora da representatividade dos respondentes a um mínimo de aceitabilidade, é a de que as respostas vêm da tal massa anónima (indeterminada), mas à qual se chama, por isso mesmo, populum;

- a segunda, que não tem muito a dever à aceitabilidade da primeira, é que da tal massa de respondentes anónimos (o povo) se depreende uma forte maioria de descontentes com a exequibilidade do sistema democrático (?!) que estamos a experienciar, a qual não tem servido aquela cidadania que esperávamos alcançar!

- outras ilações são possíveis de retirar dos resultados aqui obtidos, mas deixamos isso para os alongamentos da divagação imaginativa dos que se quiserem dar ao trabalho de tal empreendimento, sobretudo aos que pensarem que daí resultará algo de gratificante (desde que contributivo) para esclarecer este fenómeno societal.

SERÁ QUE A DEMOCRACIA QUE EXPERIENCIAMOS SERVE A VERDADEIRA CIDADANIA?

Sim, nunca podemos pôr isso em dúvida 5 (3%)

Sim, se cada um de nós participar mais e melhor 17 (12%)

Sim, mas hoje vivemos graves défices de cidadania 33 (25%)

Não, mas ainda podemos fazer algo que nos dê esperança nisso 50 (38%)

Não! Temos que pensar noutras soluções política 26 (19%)

Votos até ao momento: 131

Por mim, apenas refiro que, sem actos não há ter, porque não houve fazer! Quem não tem, não é! Ninguém pode dizer que é o que não tem (e, in maximae, quando nem sabe o que é que não tem; isto é, ninguém pode afirmar ser aquilo que desconhece)! Sobretudo quando os que se dizem representar os interesses dos representados quase nada fazem que o traduza, dizendo apenas o que se reporta a actos inconsequentes, a gestos inúteis!

Então, podemos dizer que Portugal é um país desenvolvido? Mas será que ainda é possível a algum governante deste país pensar que, mesmo tácita ou implicitamente, a consciência colectiva não atingiu esse patamar de horizonte cognitivo e de auto-crítica social?

Como diz o adágio popular: "cantas bem mas não me alegras", ou aquele: "falas muito e nada fazes" ou, ainda, aqueloutro: "muita parra e pouca uva", não traduzirão isto mesmo que aqui se pretende transmitir? Portugal nem sequer se pode arrogar dizer que é um país que trilhe os caminhos do desenvolvimento sócio-humano! Assim, não! Por aqui, nunca! Com gestos inúteis, quaisquer palavras que a eles se reportem serão, sempre, vãs!!!

Gritos de Revolta (x)