Barrès, Maurice (1862-1923)
Começa como deputado da ala esquerda do boulangismo de 1889 a 1894, defendendo um programa simultaneamente nacionalista e socialista. Reage, sobretudo, contra a formação kantiana recebida, marcada por princípios absolutos e abstractos. Neste sentido, começa por fazer aquilo que então se designava pelo le culte du moi (título de um romance de 1888-1891). Abandona as teses nietzschianas e alinha na defesa das províncias francesas integradas na Prússia depois de 1871. Alinha com os anti-dreyfusards. Teórico do boulangismo e da Liga dos Patriotas, ataca o parlamentarismo, defendendo uma república presidencialista, baseada no plebiscito e no culto do exército, considerado como o exemplo a ser dado à nação. O plebiscito, permite que se manifeste, de uma forma maciça e indiscutível a vontade nacional, a qual, no sistema parlamentar, se encontra fragmentada em quinhentas eleições diferentes, sendo em cada uma delas posta em relevo uma determinada pessoa que se impõe na sua óptica pessoal. O parlamentarismo conduz de facto à constituição de uma oligarquia electiva que usurpa a soberania da nação. O plebiscito reconstitui esta soberania porque permite que esta se exprima de um modo simples, que é o único que lhe convém. Por outro lado, o plebiscito fundamenta a autoridade, porque investe um homem como representante da vontade nacional. A nação escolhe livremente um chefe e após tê-lo feito obedce-lhe como um exército. Advoga assim um nacionalismo republicano, onde defende não só o plebiscito como a descentralização, enquanto forma de salvaguarda das liberdades. Não deixa de defender um vago socialismo identificado com a melhoria das condições materiais da classe mais numerosa e mais pobre. A palavra chave do respectivo pensamento é o enraizamento. O alargamento do eu no tempo e no espaço, a procura de uma colectividade maior que a mera individualidade. Contra o racionalismo que generaliza, invoca a via e chega ao nacionalismo, em nome do determinismo, do particualrismo e do relativismo concreto. Considera que todo o ser vivo nasce de uma raça, de um chão, de uma atmosfera e o génio não se manifesta como tal a não ser que se ligue estreitamente à sua terra e aos seus mortos. Porque o nacionalismo é a aceitação do determinismo. Até nem há liberdade de pensamento. Não posso viver a não ser segundo os meus mortos. É que há toda uma sequência de descendentes que não faz senão um único ser. Este nacionalismo que faz apelo à noção da terra e dos seus mortos, considera a nação como um ser vivo como, uma substância nacional, utilizando, para o efeito, com frequência, a analogia da árvore: a pátria é o chão dos antepassados, é a terra dos nossos mortos . Se aceita um determinismo biológico bebido no darwinismo social, rejeita, contudo, o racionalismo dos desenraizados, assumindo um romantismo activista, que faz apelo a forças misteriosas e profundas. Com efeito, Barrès adopta um nacionalismo moral e educativo contra a decadência de uma França que ele considerava dissocié et décérebré; um nacionalismo que visa dar uma energia e um querer viver nacional à França de carne e osso. Ele próprio diz que não somos uma raça, mas uma nação; continua a fazer-se, e sob pena de nos diminuir, de nos destruir, nós, os indivíduos que ela enquadra, devemos protegê-la .
Retirado de Respublica, JAM