Seara Nova
Revista dita de doutrina e crítica cujo primeiro número sai em 16 de Outubro de 1921. Tem como colaboradores António Sérgio, Raul Proença, Jaime Cortesão, Ezequiel de Campos e Raúl Brandão.
Sérgio, se assume algumas das propostas do neo-kantiansmo da Escola de Marburgo, acaba por ser dominado por uma epistemologia neocartesiana. Para ele, o Eu absoluto, que se eleva acima do eu empírico é a unidade unificadora, pelo que a razão sendo a busca do universal (da Unidade em tudo), constitui a manifestação do universal no indivíduo - a manifestação daquilo que no indivíduo não é individual.
Sérgio, se assume algumas das propostas do neo-kantiansmo da Escola de Marburgo, acaba por ser dominado por uma epistemologia neocartesiana. Para ele, o Eu absoluto, que se eleva acima do eu empírico é a unidade unificadora, pelo que a razão sendo a busca do universal (da Unidade em tudo), constitui a manifestação do universal no indivíduo - a manifestação daquilo que no indivíduo não é individual.
A Seara Nova é uma revista fundada em Lisboa, no ano de1921, por iniciativa de Raul Proença e de um grupo de intelectuais portugueses da época. Na sua origem era uma publicação essencialmente doutrinária e crítica, assumidamente com fins pedagógicos e políticos. O grupo de intelectuais reunidos em torno do projecto editorial definiram-na como de doutrina e crítica, tendo como objectivo, como se lê no editorial do n.º 1, datado de 15 de Outubro de 1921, ser poetas militantes, críticos militantes, economistas e pedagogos militantes. Com a publicação pretendiam contribuir para quebrar o isolamento da elite intelectual portuguesa, aproximando-a da realidade social. Depois da implantação da Ditadura Nacional surgida da Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926, o grupo da Seara Nova, a que se usa atribuir a designação de seareiros, não obstante a censura e as dificuldades financeiras, assumiu-se como um dos grupos mais activos no combate ideológico contra o salazarismo. Nos seus anos iniciais o projecto reuniu alguns dos principais nomes da intelectualidade do tempo, com destaque para Jaime Cortesão, Raúl Proença e António Sérgio, mas também, entre outros, Raúl Brandão, Aquilino Ribeiro, Câmara Reis e Augusto Casimiro. Após estas vicissitudes e múltiplas entradas e saídas de colaboradores, a revista perdeu o prestígio de outrora e já pouco significa enquanto movimento social actuante.
Historial da publicação
A Seara Nova iniciou a sua publicação no mês de Outubro de 1921, ostentando o seu primeiro número a data de 15 de Outubro de 1921. O n.º 2 saiu logo a 5 de Novembro, incluindo um artigo de Raul Proença sobre a noite sangrenta e outros comentários à profunda crise política e social que então se vivia.
O lançamento da revista foi precedido por um conjunto de reuniões, uma das quais, decisiva para o arranque do projecto, foi realizada em Abril daquele ano na localidade de Coimbra, distrito de Leiria, nela tendo nela participado Teixeira de Vasconcelos, Raúl Proença, Câmara Reis, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro e Raúl Brandão.
Os colaboradores
O lançamento da revista foi precedido por um conjunto de reuniões, uma das quais, decisiva para o arranque do projecto, foi realizada em Abril daquele ano na localidade de Coimbra, distrito de Leiria, nela tendo nela participado Teixeira de Vasconcelos, Raúl Proença, Câmara Reis, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro e Raúl Brandão.
Os colaboradores
O grupo pretendia intervir activamente na vida política do país, aproximando a elite intelectual republicana e progressista da realidade portuguesa, servindo-se da revista como foco da sua potencial acção pedagógica e doutrinária.
Entre os colaboradores iniciais incluíam-se alguns intelectuais já com experiência jornalística e de participação cívica na imprensa, com destaque para Jaime Cortesão, Augusto Casimiro e Raul Proença, que já haviam pertencido à A Águia, publicação que não obstante as suas intenções não tinha podido satisfazer o propósito de intervenção e de aproximação ao social que os animava.
Foram muitos os intelectuais que colaboraram na Seara Nova ao longo dos seus mais de 50 anos de publicação relativamente regular, contando-se entre muitos outros, os seguintes: António Sérgio (que integrou a direcção a partir de 1923 e nela se consagrou como pensador e crítico notável), Augusto Casimiro, Rogério Fernandes, Augusto Abelaira, Teixeira Gomes, Afonso Duarte, Hernâni Cidade, Joaquim de Carvalho, João de Barros, Irene Lisboa, Manuel Mendes, José Rodrigues Miguéis, José Bacelar, Álvaro Salema, Lobo Vilela, Santana Dionísio, José Gomes Ferreira, Adolfo Casais Monteiro, Mário Dionísio e Jorge de Sena.
Quase desde o início do projecto, foi Raul Proença quem se destacou pela forte e ousada intervenção no campo político, educativo, e literário. Deve-se também a Raul Proença ter recrutado alguns dos mais importantes colaboradores do projecto, com destaque para António Sérgio.
António Sérgio, apesar de ter depois abandonado o projecto numa cisão em que foi acompanhado por Jaime Cortesão, desenvolveu na Seara Nova uma notável acção pedagógica e cultural, tendo um papel fundamental no combate à tendência literária para o vago, nebuloso, torre de marfim que então dominava, através da introdução de formas de crítica literária mais racional. Nessa linha de intervenção foi continuado por Castelo Branco Chaves e por Agostinho da Silva.
Deve-se a Câmara Reis o desenvolvimento de um importante trabalho pedagógico e cultural, com destaque para a divulgação metodológica e para a discussão doutrinária no campo da educação.
O percurso político e ideológico
Após a implantação da Ditadura Nacional e da consolidação do subsequente Estado Novo, a Seara Nova transformou-se no principal periódico de oposição democrática ao regime de António de Oliveira Salazar. Ao longo do meio século que se seguiu ao Golpe do 28 de Maio, a revista, através do pensamento dos seus colaboradores, desempenhou um papel central na reflexão e intervenção crítica face ao processo de degenerescência do liberalismo republicano da década de 1920 e depois na oposição à consolidação do Estado Novo na segunda metade da década de 1930, na resistência cívica ao longo dos anos de 1940 e 1950 e na renovação doutrinária da esquerda portuguesa e na sua afirmação política e cultural nos anos de 1960 e 1970 até à queda da ditadura e à subsequente reorganização da vida política e intelectual portuguesa. Ao longo de todo este percurso temporal e político, a acção da Seara Nova foi um dos principais veículos de consolidação da oposição democrática em Portugal.
Para além da actividade editorial, o grupo da Seara Nova promoveu colóquios e debates, sempre com o propósito de estudar e investigar a realidade portuguesa e esclarecer o público, mantendo uma assídua e relevante presença na vida cultural portuguesa.
Apesar das vicissitudes resultantes da censura em Portugal e das dificuldades financeiras que o projecto atravessou, manteve o entusiasmo e a persistência dos editores e o interesse do público, numa aliança invulgar em Portugal de criatividade, combatividade e pujança ideológica.
Retirado da wikipédia
"Apesar de todas as diferenças de ideias, de temperamento, de métodos de pensamento e de trabalho, havia identidades fundamentais entre todos os membros de dois grupos que deran apoio de estrutura aos que verdadeiramente de interessavam, num esforço colectivo, pela resolução do caso português: a Renascença Portuguesa e a Seara Nova. Mas também os podemos distinguir muito facilmente. Para os que formavam o núcleo essencial da Renascença, o aspecto histórico primava sobre o aspecto actual; o aspecto poético sobre o aspecto realista; o aspecto literário sobre o científico; o aspecto intuitivo sobre o racionalista; finalmente ... tomava-se como signo fundamental de Portugal, dos dois sob que ele nasceu, o da Saudade."
(...) Para o grupo da Seara Nova, o signo essencial era exactamente o outro, o da Acção. (...) Para a Seara Nova, o que havia que fazer imediatamente, era uma reforma de Portugal e uma reforma que o reintegrasse na sua função histórica de universalismo; reforma que se tinha de exercer basilarmente em dois campos: o da economia, com atenção essencial a todos os problemas de produção e de consumo, instaurando um sistema, qualquer que fosse o nome, que garantisse racionalidade no planejamento e justiça na distribuição; e o da educação, preparando as novas gerações portuguesas para o entendimento científico dos problemas práticos, para o entendimento humano da convivência política e para o entendimento filosófico, nalguns até de coloração mística, dos problemas de criação espiritual.(...)" 1
(...) Para o grupo da Seara Nova, o signo essencial era exactamente o outro, o da Acção. (...) Para a Seara Nova, o que havia que fazer imediatamente, era uma reforma de Portugal e uma reforma que o reintegrasse na sua função histórica de universalismo; reforma que se tinha de exercer basilarmente em dois campos: o da economia, com atenção essencial a todos os problemas de produção e de consumo, instaurando um sistema, qualquer que fosse o nome, que garantisse racionalidade no planejamento e justiça na distribuição; e o da educação, preparando as novas gerações portuguesas para o entendimento científico dos problemas práticos, para o entendimento humano da convivência política e para o entendimento filosófico, nalguns até de coloração mística, dos problemas de criação espiritual.(...)" 1
(1) Silva, Agostinho da, Reflexão à margem da literatura portuguesa, guimarães Editores, Lisboa, 1996, pp. 125 e ss.