quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Ockham, William of (1255-1350)

Ou Guilherme de Occam. Dito o doctor invincibilis. Franciscano inglês. Nasce em Ockham, no Surrey, no sul de Londres. Estuda em Oxford, onde obtém o título de magister theologiae. Chamado em 1324 ao papa de Avinhão, onde uma comissão especial censura parte dos seus escritos. Daí foge em 1328 para junto do Luís da Baviera. Junta-se ao partido do Imperador, acusando o papa João XXII de heresia. Vive exilado na corte de Munique, juntamente com Marsílio de Pádua. Adepto do nominalismo e do voluntarismo. Admite a existência de uma comunidade universal dos mortais, uma universitas mortalium, gerada por uma conexão existente entre todos os homens e que constituiria unus populus, unus grex, unum corpus, una civitas, unum collegium, unum regnus. Ainda recentemente foi celebrizado pela ficção de Umberto Eco, O Nome da Rosa. Continua o voluntarismo franciscano, considerando que o legislador humano apenas exerce um poder delegado pelo arbítrio divino. Daí considerar que todo o direito é produto de uma potestas e não de uma auctoritas. O direito é o poder atribuído a cada um de reivindicar os bens do mundo exterior. E a lei natural, uma lei divina fundada exclusivamente na vontade de Deus, podendo este alterar os respectivos preceitos, incluindo aquele que nos manda amá-lo acima de todas as coisas. Este contingentismo voluntarista leva-o a conceber o universo como um composto de coisas singulares, contingentes e justapostas, que o espírito apreende intelectualmente através da intuição, entendida como forma originária de conhecimento. Atinge-se, deste modo, o extremo de um positivismo moral que não conhece já nenhuma relação axiológica material objectiva, prenunciando as teses de Thomas Hobbes, conforme observação de Welzel. Há em Ockham um nítido cepticismo perante a metafísica como forma de conhecimento e nesta consideração das realidades metafísicas como meras verdades de fé, assume-se como precursor de Hume e de Kant, abrindo assim a chamada via moderna do nominalismo A herança ockhamista vai ser contraditória. Se, por um lado, desencadeia o fideísmo daquela adesão aos dogmas que nos diz ser preciso acreditar sem reflexão – como o misticismo de Eckhart –, por outro, lança os fundamentos daquele empirismo, por vezes, designado nominalismo científico, segundo a qual, utilizando as palavras de Bacon (1561-1626), o raciocinar não prova nada. Para o nominalismo os universais distinguem‑se dos nomes próprios das coisas singulares apenas porque abrangem um grupo ou uma classe de coisas. Os universais ou conceitos gerais não são reais (realia) mas simples nomes (nominalia), dado que a realidade está separada dos nomes. Já para o realismo ou essencialismo, os universais referem‑se a uma propriedade intrínseca, constituindo um objecto que merece ser investigado como qualquer uma das coisas singulares.


Obras do autor:


. Dialogus

. Monarchia Sancti Romani Imperii (cfr. Opera Politica, Manchester, Sikes, 3 vols., 1940 - 1963; trad. ingl. A Short Discourse on Tyrannical Government, Arthur Stephen McGrade, ed., Cambridge University Press, 1992; trad. ingl. A Letter to the Friars Minor and Other Writings, Arthur Stephen McGrade e John Kilculleen, eds., Cambridge University Press, 1995).

Bibliografia:

. Guelluy, R., Philosophie et Théologie chez Guillaume d'Occam, Lovaina, 1947. 4Lagarde, Georges, L'Individualisme Occamiste et la Naissance de l'Esprit Laïque, 1946.

. Ellul, Jacques, «Guillaume d’Occam», in Dictionnaire des Oeuvres Politiques, pp. 295-301.

. Gettell, Raymond G., História das Ideias Políticas, trad. port. de Eduardo Salgueiro, Lisboa, Editorial Inquérito, 1936, pp. 146 segs..

. Gonçalves, Joaquim Cerqueira, «Guilherme de Ockham», in Logos, 2, cols. 955-962.

. Maltez, José Adelino, Ensaio sobre o Problema do Estado, Lisboa, Academia Internacional da Cultura Portuguesa, 1991, II, pp. 253 segs..

Retirado de Respublica, JAM

Imagem picada da wikipédia