terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Camachistas

Dentro das própria forças apoiantes do governo provisório da República, desde logo surgiram três sensibilidades, cada qual com o seu jornal. Os afonsistas congregaram-se em torno de O Mundo, dirigido por França Borges; os chamados conservadores republicanos, preferiram A República, sob a direcção de António José de Almeida; naquilo que poderemos considerar uma espécie de centro-direita ficou A Luta, com a liderança de Brito Camacho. Pouco a pouco, essas sensibilidades, adquiriram bandeiras. Os afonsistas foram particularmente activos nos centros urbanos, apoiaram-se na Maçonaria e na nomenklatura do PRP e, graças ao maior dinamismo organizacional, foram os únicos que conseguiram uma efectiva implantação nacional. Os camachistas conseguiram, sobretudo, apoio na zona dos intelectuais e naquilo a que hoje damos o nome de classe política da capital. Os almeidistas que pretendiam assumir as reivindicações da província, tiveram o apoio de muitos quadros históricos do PRP e foram gradualmente constituindo-se como os críticos conservadores do radicalismo afonsista. Ambos estes últimos, maioritários na Assembleia Nacional Constituinte, assumiram frontais críticas ao anticlericalismo radical dos afonsistas. Em 29 de Agosto de 1911 já Afonso Costa anunciou um novo programa político, divulgado no dia 4 de Setembro, para no dia 1 de Outubro inaugurar em Lisboa o primeiro Centro Republicano Democrático, ao mesmo tempo que formalmente defendia a manutenção da unidade do velho PRP, que considerava dever ser o partido único da República. Desta forma, obrigou os opositores a terem de assumir um acto formal de dissidência, de tal maneira que é na sequência de uma manifestação de carbonários e afonsistas contra os jornais afectos ao bloco, em 19 de Outubro, António José de Almeida, em nota publicada em A República, de 22 de Outubro, declarou-se independente, confirmando o abandono do velho PRP. Tudo aconteceu na véspera do congresso deste mesmo partido, realizado no dia 27 de Outubro, no Coliseu da Rua Nova da Palma, em Lisboa, onde as teses afonsistas foram esmagadoramente confirmadas, com a marginalização dos elementos afectos ao grupo de Brito Camacho que nele ainda compareceram. Não tardou de Brito Camacho, em 3 de Novembro, tivesse seguido o exemplo de António José de Almeida, a que, antes se opusera, declarando formalmente em A Luta que a unidade do PRP era impossível. O velho Partido Republicano Português, a partir de 1911, com a saída dos adeptos de António José de Almeida e de Brito Camacho, passou a ser conhecido como Partido Democrático, ficando sob a forte liderança de Afonso Costa, apesar de se desenhar uma ala direita, a dos bonzos, que será chefiada por António Maria da Silva, e uma ala esquerda, a dos canhotos, que terá a liderança de José Domingues dos Santos. Assim, em Fevereiro de 1912, eis que a partir destas dissidências surgiram dois novos partidos: os almeidistas instituíram um Partido Republicano Evolucionista, que teve como órgão o diário República e os camachistas constituíram o Partido Republicano Unionista, que teve como órgão o jornal A Lucta. Nas margens ficou o pequeno Partido Reformista, de Machado Santos, com o jornal O Intransigente, surgido logo em 11 de Novembro de 1910, que se assumiu como o órgão dos verdadeiros carbonários, bem como o velho Partido Socialista.
Retirado de Respublica, JAM