sábado, 17 de fevereiro de 2007

Regionalismo

Perante a complexa filigrana dos Estados e das nações da Europa, onde os "povos sem pátria" e as "minorias nacionais" predominam, surgiu nos anos sessente a chamada "revolução regionalista", segundo a expressão já clássica de Robert Lafont, não faltando sequer, mais recentemente, os que, como Alain Benoist, defendem a "descolonização da Europa", utilizando o conceito de autodeterminação dos povos nacionais, à semelhança do que aconteceu com o chamado Terceiro Mundo. Trata‑se, como refere Pierre Bourdieu de "uma revolução simbólica contra uma dominação simbólica" porque "qualquer unificação que assimile aquilo que é diferente, encerra o princípio da dominação de uma identidade sobre outra, da negação de uma identidade por outra". Neste sentido, o bretão Jean‑Edern Hallier considera que "o romantismo hoje é também um combate pelo regionalismo europeu. As regiões tornaram‑se naquilo que eram as nações no século XIX: os cadinhos privilegiados duma cultura popular que permanece fiel a si mesma. A Europa é um arquipélago submerso. Um oceano de culturas apagadas. A região permite ressuscitá‑las". Também para Eric Le Naour "o nome região coloca‑se hoje na vanguarda das ideias renovadoras da Europa". Como salienta Alain Benoist, "a riqueza da humanidade é a personalização dos indivíduos no interior da sua comunidade. A riqueza da Europa é a personalização das regiões no interior da cultura e da civilização donde aqueles emanaram". Voltando a Pierre Bourdieu, podemos dizer que "o discurso regionalista é um discurso pre‑formativo, que tem em vista impor como legítima uma nova definição das fronteiras e dar a conhecer e fazer conhecer a região assim delimitada ‑ e, como tal, desconhecida ‑ contra a definição dominante, portanto, reconhecida e legítima que a ignora". Com efeito, este regionalismo europeu não passa de uma espécie de "nacionalismo sem território", como refere o mesmo autor. Um pouco ao inverso do próprio nacionalismo que na sua essência mais não é do que um regionalismo triunfante, diremos. De uma região que se autodeterminou, que deixou de ser província dependente de um centro. Estamos evidentemente a referirmo‑nos ao regionalismo político e não à regional science dos geógrafos, economistas e especialistas em ordenamento do território. Vive‑se também um movimento diferente das meras reivindicações de igualdade de oportunidades levadas a cabo pelas insularidades, pelas interioridades e pelas periferias que, muitas vezes, se assumem como grupo de pressão perante os centros onde macrocefalamente se situam os desenvolvimentos económicos e sociais. Neste domínio "dividir para unificar", dividir para reinar, torna‑se bem diferente do integrador "distinguir para unir". Quase todos estes autores falam numa "revolução anti‑colonialista do interior" e alguns salientam mesmo que "a revolução será multinacional ou não o será"

ROBERT LAFFONT, Renaissance du Sud, 1960; La Révolution Regionaliste, 1961, onde considera a região como a "nação primária"; Sur la France, 1968; Décolonizer en France, 1971; Clefs pour l'Occitanie, 1971; PIERRE FOUGEYROLLAS, Pour une France fédérale, Paris, Denoõel, 1968; PAUL SERANT, La France des Minorités, 1965; MICHEL LE BRIS, Occitanie:volem viure!, 1974; JEAN‑PIERRE LE DANTEC, Bretagne: re‑naissance d'un peuple, 1974; R. DULONG, La question bretonne, 1975. P. LAGARDE, La Régionalisation, Paris, Seghers, 1977.
Regionalismo em Espanha, 66, 432
regionalizaçãoRegionalização concentracionária, 93, 628.
Retirado de Respublica, JAM

Regeneradores-liberais

Nome assumido pelos adeptos de João Franco, dissidentes do partido regenerador em 1901, quando este era liderado por Hintze Ribeiro. A ruptura formal entre as duas personalidades deu-se em 12 de Fevereiro e em Maio já 25 deputados abandonavam o partido, seguindo-se, logo em 16 de Maio a constituição do primeiro centro regenerador-liberal em Lisboa. Em 4 de Abril de 1906, os regeneradores-liberais fazem um acordo com os progressistas, base do governo de João Franco, a partir de 19 de Maio desse mesmo ano. Numa primeira fase, Franco ainda quer governar à inglesa e trata de caçar apoios no campo dos republicanos. Chega a abrir em 2 de Agosto um centro em Alcântara, mas é recebido com apupos e começa a endurecer. Tem então o apoio do industrial Alfredo da Silva.
Retirado de Respublica, JAM