Neves, José Acúrsio das (1766-1834)
Contra-Revolução consensualista,131,907 Se uma certa costela vintista procura retomar o consensualismo pré‑absolutista, o facto é que entre os adversários do liberalismo também se encontram desenvolvimentos provindos da mesma raiz doutrinária. É o caso do miguelista José Acúrsio das Neves. Ele revolta‑se contra os vintistas porque "em lugar de seguirem o caminho trilhado pela experiência, tomaram pelos espaços aéreos da abstracção, para subverterem tudo com as suas vãs teorias, e tão vãs, que fazem lembrar os engenhosos pensamentos do autor da história de Gulliver sobre o governo da Lapúcia". Para ele "todos falam em pátria; porém, uns para a salvarem, como Catão; outros para lhe lançarem novos ferros, como César, quando passava o Rubicão, dizendo que ia vingá‑la, ou como Sylla, e os triúnviros quando em nome dela proscreviam os cidadãos mais respeitáveis da República".
Preocupa‑se, contudo, com o facto do poder tender para o despotismo: "os governantes tendem sempre a aumentar, concentrar o seu poder; e daqui vem que o Governo democrático propende para o aristocrático, o aristocrático para o oligárquico, este para o monárquico, e finalmente para o despótico". Refere em seguida o despotismo como "o governo que para se manter, for obrigado a substituir a força física à força moral, onde o amor dos povos...não for o laço de união entre os governantes e os governados". E isto porque "segundo os publicistas é aquela monstruosa espécie de Governo, onde um só, sem lei e sem regra, move tudo pela sua vontade... é todo aquele que não reconhece outro princípio senão a vontade de quem governa, ou seja um só, ou sejam muitos, porque o distintivo consiste na natureza do mesmo Governo, e não no número das pessoas que o exercitam". No despotismo "tudo se prostitui a quem governa; não há emulação" e "não se querem para os empregos senão homens servis e aduladores".
Considera que a política tem de ser limitada pela moral: "que é a política, quando não tem por fundamento a ciência dos costumes? Porque os legisladores, e principalmente os modernos têm separado uma da outra, é que os povos são agitados pelas comoções mais violentas". Acontece também, por via disso, que "a razão anda sempre em guerra com a opinião, e em seus combates ... é sempre condenada à morte". O problema está em que "o triunfo das ideias falsas, e por consequência o das falsas opiniões públicas, não tem mais duração que a do engano ou da vilência que as sustenta".
Retirado de (ver também bibliografia em) Respublica, JAM