domingo, 1 de julho de 2007

Renascença Portuguesa

Renascença Portuguesa foi um movimento cultural português surgido em 1912 no Porto que se manteve activo durante o primeiro quartel do século XX. O movimento tinha subjacente um ideal nacionalista ligado, no plano literário e filosófico, ao neo-garrettismo e a um sebastianismo quase messiânico. Enquanto agrupamento de acção sócio-cultural, a Renascenças Portuguesa desenvolveu uma notável actividade, com aspectos originais, obedecendo ao propósito de "dar conteúdo renovador e fecundo à revolução republicana" (Jaime Cortesão). Teve como principal mentor, sobretudo até 1916, Teixeira de Pascoaes, com a sua teoria do saudosismo e, numa segunda fase, Leonardo Coimbra. Tinha como órgão a revista A Águia — Órgão da Renascença Portuguesa, publicado no Porto de 1910 a 1932, e o quinzenário Vida Portuguesa.

O contexto e objectivos do movimento

Com a implantação da república em Portugal, ocorrida em 1910, os intelectuais que estavam a favor do novo regime tentaram dar-lhe uma doutrina e uma literatura e, através da acção cultural, contribuir para aquilo que acreditavam ser a reconstrução da sociedade portuguesa, desmoralizada e abalada na sua alma pela degenerescência da monarquia constitucional. Foi neste contexto de nova regeneração que surgiram movimentos sócio-culturais, entre os quais a Renascença Portuguesa, que visavam lidar com os graves problemas que a instauração da República não conseguira per se resolver nas áreas educativa, social, económica e religiosa.

As bases para a fundação do movimento foram lançadas em reuniões realizadas em Coimbra a 27 de Agosto de 1911 e em Lisboa a 17 de Setembro 1911, tendo o processo sido liderado por Jaime Zuzarte Cortesão, Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra e Álvaro Pinto. O grupo tinha saído do núcleo de intelectuais que, na sequência do 5 de Outubro de 1910, tinham lançado no Porto a revista A Águia, escolhendo a data simbólica do 1.º de Dezembro, Dia da Restauração, daquele ano. Os estatutos da associação foram publicados no primeiro número, datado de 31 de Outubro de 1912, da Vida Portuguesa, periódico que se auto-definia como quinzenário de inquérito à vida portuguesa, então dirigido por Jaime Cortesão.

O propósito do movimento, nas palavras de Jaime Cortesão, era dar conteúdo renovador e fecundo à revolução republicana. Para tal, a associação propunha-se promover a maior cultura do povo português, por meio da conferência, do manifesto, da revista, do livro, da biblioteca, da escola, o que implicava revelar a alma lusitana, integrá-la nas suas qualidades essenciais e originárias.

Assumindo a partir de 1912 a publicação de A Águia, o movimento faria daquele periódico o catalisador de sectores significativos da actividade intelectual portuguesa, congregando em seu torno escritores e artistas de diversos sectores ideológicos, mas na sua maioria republicanos, em geral preocupados com o rumo que ia tomando o novo regime, devido ao jacobinismo nele dominante, em contradição flagrante com o programa descentralizador do Partido Republicano Português e com as ideias por eles acalentadas antes da revolução.

Animados desde logo de grande entusiasmo, os dirigentes renascentistas traçaram um ambicioso plano de actividades, constituindo em Junho de 1912 quatro comissões encarregadas, respectivamente, do estudo da vertente religiosa, educativa, social e económica dos problemas com que a sociedade portuguesa se defrontava. Em torno dessas comissões gravitam poetas, pensadores, historiadores, economistas, sociólogos e pedagogos, quase todos recrutados entre os intelectuais mais activos e prestigiados da geração. Alguns proferem séries de lições numa Universidade Popular, dinamizando o meio cultural portuense e preparando a criação, no Porto, de uma Faculdade de Letras, projecto acarinhado por Leonardo Coimbra, um dos sócios do movimento que entretanto ascendera a Ministro da Instrução Pública da República.

No periódico A Águia, transformado no órgão central do movimento, colaboraram, para além dos fundadores, Mário Beirão, António Correia de Oliveira, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro.

Embora congregasse personalidades e tendências diferentes, o movimento tinha subjacente um ideal nacionalista e messiânico, profundamente radicado na tendência sebastiânica portuguesa da procura de uma regeneração nacional, sempre adiada, mas sempre presente em todos os períodos entendidos como de crise. Apesar da diversidade dos estilos e das ideologias, a Renascença Portuguesa conseguiu impor uma nova filosofia, caracterizada por dois elementos fundamentais:
(1) a vida como movimento constante em que as transformações não podiam ser limitadas por qualquer tipo de preconceito, num mundo dinâmico onde tudo podia acontecer; e
(2) a transformação do mundo devia começar por uma crítica a todo o tipo de preconceitos, valorizando o papel dos intelectuais porque estes tinham como objectivo transformar os pensamentos em acções.
Consequente com estes princípios, a Renascença Portuguesa desenvolveu uma estética caracterizada por uma espécie de neo-romantismo, em que a criação deveria ser intuitiva, privilegiando os temas históricos ou populares e uma visão mística e animista da natureza. Esta visão da natureza era transfigurada na literatura e na arte recorrendo ao bucolismo, folclorismo e sentimentalismo, como formas de reencontrar a alma nacional perdida. Da combinação destes factores surge, ligado a Teixeira de Pascoaes, o saudosismo como movimento literário, essencialmente poético, atribuindo à saudade amplas dimensões e profundo significado, arvorando-a mesmo em princípio enformador dum ressurgimento pátrio.

Resultados e o fim do movimento

Com sede no Porto e núcleos em Coimbra e Lisboa, a Renascença Portuguesa afirmou-se como um movimento nacional, mantendo como seu órgão principal A Águia, propriedade do grupo entre 1912 e 1932, ano em que a sua publicação cessou. A esta publicação juntou-se, durante alguns anos, o quinzenário A Vida Portuguesa e uma intensa actividade editorial que, em 1918, contava já com 120 volumes publicados, cobrindo temas de literatura, arte, ciência, filosofia e crítica social. Entre os autores editados contam-se Carlos Parreira, o visconde de Vila-Moura, Teixeira de Pascoaes, Mário Beirão, António Sérgio e Ezequiel de Campos. A partir de 1928, a revista Portucale prosseguiu o espírito de A Águia.

Apesar deste sucesso e do espírito largo do movimento, demonstrado pela aceitação de uma diversidade considerável de estilos e opiniões, dissidências internas, que começaram a surgir a partir de 1912, levaram logo nesse ano à saída de Fernando Pessoa e de Mário de Sá Carneiro, insatisfeitos com o saudosismo , que foram fundar o movimento da revista Orpheu.

Nos anos seguintes (1913-1914), desligaram-se também António Sérgio, que se opunha ao lusitanismo tradicionalista de Teixeira de Pascoaes, e Jaime Cortesão e Raul Proença, atentos às modernas correntes do pensamento europeu que não consideravam compatíveis com o idealismo poético, o tradicionalismo e o ruralismo de Teixeira de Pascoaes. Este grupo esteve depois na origem da Seara Nova.

Em resultado destas dissidências, e do aprofundar da crise social e política em que a Primeira República Portuguesa tinha mergulhado, a partir de 1918, a Renascença Portuguesa entra em crise manifesta. A presença de um grupo ilustre de intelectuais que se vão mantendo em torno do projecto vai permitindo a sua sobrevivência, mas já sem o fulgor inicial.

A própria revista A Águia, cuja edição se prolonga até 1932, entra em decadência, sendo parcialmente substituída pela revista Portucale, iniciada em 1928, não cessando o esforço de auto-definição nacionalista do grupo. Pouco a pouco, a actividade editorial foi abrandando, chegando a meados da década de 1920 já muito atenuada.

A combinação da crise que já vinha sentindo com a actividade repressiva da Ditadura Militar saída do Golpe de 28 de Maio de 1926, que levou ao exílio ou ao desterro alguns dos expoentes do movimento, ditou o fim da Renascença Portuguesa. Em 1932 a revista A Águia cessou a sua publicação e nos anos imediatos o movimento extinguiu-se.

Apesar de ter durado apenas duas décadas, a Renascença Portuguesa deixou um importantíssimo legado intelectual nas suas publicações e edições, o qual influi claramente no desenvolvimento cultural e político de Portugal durante todo o século XX. Tal que permite afirmar que a Renascença Portuguesa foi uma das organizações portuguesas mais influentes daquele século.

Retirado da Wikipédia

"Apesar de todas as diferenças de ideias, de temperamento, de métodos de pensamento e de trabalho, havia identidades fundamentais entre todos os membros de dois grupos que deran apoio de estrutura aos que verdadeiramente de interessavam, num esforço colectivo, pela resolução do caso português: a Renascença Portuguesa e a Seara Nova. Mas também os podemos distinguir muito facilmente. Para os que formavam o núcleo essencial da Renascença, o aspecto histórico primava sobre o aspecto actual; o aspecto poético sobre o aspecto realista; o aspecto literário sobre o científico; o aspecto intuitivo sobre o racionalista; finalmente ... tomava-se como signo fundamental de Portugal, dos dois sob que ele nasceu, o da Saudade."
(...) Para o grupo da Seara Nova, o signo essencial era exactamente o outro, o da Acção. (...) Para a Seara Nova, o que havia que fazer imediatamente, era uma reforma de Portugal e uma reforma que o reintegrasse na sua função histórica de universalismo; reforma que se tinha de exercer basilarmente em dois campos: o da economia, com atenção essencial a todos os problemas de produção e de consumo, instaurando um sistema, qualquer que fosse o nome, que garantisse racionalidade no planejamento e justiça na distribuição; e o da educação, preparando as novas gerações portuguesas para o entendimento científico dos problemas práticos, para o entendimento humano da convivência política e para o entendimento filosófico, nalguns até de coloração mística, dos problemas de criação espiritual.(...)" 1

(1) Silva, Agostinho da, Reflexão à margem da literatura portuguesa, Guimarães Editores, Lisboa, 1996, pp. 125 e ss.

Seara Nova

Revista dita de doutrina e crítica cujo primeiro número sai em 16 de Outubro de 1921. Tem como colaboradores António Sérgio, Raul Proença, Jaime Cortesão, Ezequiel de Campos e Raúl Brandão.

Sérgio, se assume algumas das propostas do neo-kantiansmo da Escola de Marburgo, acaba por ser dominado por uma epistemologia neocartesiana. Para ele, o Eu absoluto, que se eleva acima do eu empírico é a unidade unificadora, pelo que a razão sendo a busca do universal (da Unidade em tudo), constitui a manifestação do universal no indivíduo - a manifestação daquilo que no indivíduo não é individual.
Retirado de Respublica, JAM
A Seara Nova é uma revista fundada em Lisboa, no ano de1921, por iniciativa de Raul Proença e de um grupo de intelectuais portugueses da época. Na sua origem era uma publicação essencialmente doutrinária e crítica, assumidamente com fins pedagógicos e políticos. O grupo de intelectuais reunidos em torno do projecto editorial definiram-na como de doutrina e crítica, tendo como objectivo, como se lê no editorial do n.º 1, datado de 15 de Outubro de 1921, ser poetas militantes, críticos militantes, economistas e pedagogos militantes. Com a publicação pretendiam contribuir para quebrar o isolamento da elite intelectual portuguesa, aproximando-a da realidade social. Depois da implantação da Ditadura Nacional surgida da Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926, o grupo da Seara Nova, a que se usa atribuir a designação de seareiros, não obstante a censura e as dificuldades financeiras, assumiu-se como um dos grupos mais activos no combate ideológico contra o salazarismo. Nos seus anos iniciais o projecto reuniu alguns dos principais nomes da intelectualidade do tempo, com destaque para Jaime Cortesão, Raúl Proença e António Sérgio, mas também, entre outros, Raúl Brandão, Aquilino Ribeiro, Câmara Reis e Augusto Casimiro. Após estas vicissitudes e múltiplas entradas e saídas de colaboradores, a revista perdeu o prestígio de outrora e já pouco significa enquanto movimento social actuante.
Historial da publicação
A Seara Nova iniciou a sua publicação no mês de Outubro de 1921, ostentando o seu primeiro número a data de 15 de Outubro de 1921. O n.º 2 saiu logo a 5 de Novembro, incluindo um artigo de Raul Proença sobre a noite sangrenta e outros comentários à profunda crise política e social que então se vivia.
O lançamento da revista foi precedido por um conjunto de reuniões, uma das quais, decisiva para o arranque do projecto, foi realizada em Abril daquele ano na localidade de Coimbra, distrito de Leiria, nela tendo nela participado Teixeira de Vasconcelos, Raúl Proença, Câmara Reis, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro e Raúl Brandão.

Os colaboradores

O grupo pretendia intervir activamente na vida política do país, aproximando a elite intelectual republicana e progressista da realidade portuguesa, servindo-se da revista como foco da sua potencial acção pedagógica e doutrinária.
Entre os colaboradores iniciais incluíam-se alguns intelectuais já com experiência jornalística e de participação cívica na imprensa, com destaque para Jaime Cortesão, Augusto Casimiro e Raul Proença, que já haviam pertencido à A Águia, publicação que não obstante as suas intenções não tinha podido satisfazer o propósito de intervenção e de aproximação ao social que os animava.
Foram muitos os intelectuais que colaboraram na Seara Nova ao longo dos seus mais de 50 anos de publicação relativamente regular, contando-se entre muitos outros, os seguintes: António Sérgio (que integrou a direcção a partir de 1923 e nela se consagrou como pensador e crítico notável), Augusto Casimiro, Rogério Fernandes, Augusto Abelaira, Teixeira Gomes, Afonso Duarte, Hernâni Cidade, Joaquim de Carvalho, João de Barros, Irene Lisboa, Manuel Mendes, José Rodrigues Miguéis, José Bacelar, Álvaro Salema, Lobo Vilela, Santana Dionísio, José Gomes Ferreira, Adolfo Casais Monteiro, Mário Dionísio e Jorge de Sena.
Quase desde o início do projecto, foi Raul Proença quem se destacou pela forte e ousada intervenção no campo político, educativo, e literário. Deve-se também a Raul Proença ter recrutado alguns dos mais importantes colaboradores do projecto, com destaque para António Sérgio.
António Sérgio, apesar de ter depois abandonado o projecto numa cisão em que foi acompanhado por Jaime Cortesão, desenvolveu na Seara Nova uma notável acção pedagógica e cultural, tendo um papel fundamental no combate à tendência literária para o vago, nebuloso, torre de marfim que então dominava, através da introdução de formas de crítica literária mais racional. Nessa linha de intervenção foi continuado por Castelo Branco Chaves e por Agostinho da Silva.
Deve-se a Câmara Reis o desenvolvimento de um importante trabalho pedagógico e cultural, com destaque para a divulgação metodológica e para a discussão doutrinária no campo da educação.
O percurso político e ideológico

Após a implantação da Ditadura Nacional e da consolidação do subsequente Estado Novo, a Seara Nova transformou-se no principal periódico de oposição democrática ao regime de António de Oliveira Salazar. Ao longo do meio século que se seguiu ao Golpe do 28 de Maio, a revista, através do pensamento dos seus colaboradores, desempenhou um papel central na reflexão e intervenção crítica face ao processo de degenerescência do liberalismo republicano da década de 1920 e depois na oposição à consolidação do Estado Novo na segunda metade da década de 1930, na resistência cívica ao longo dos anos de 1940 e 1950 e na renovação doutrinária da esquerda portuguesa e na sua afirmação política e cultural nos anos de 1960 e 1970 até à queda da ditadura e à subsequente reorganização da vida política e intelectual portuguesa. Ao longo de todo este percurso temporal e político, a acção da Seara Nova foi um dos principais veículos de consolidação da oposição democrática em Portugal.
Para além da actividade editorial, o grupo da Seara Nova promoveu colóquios e debates, sempre com o propósito de estudar e investigar a realidade portuguesa e esclarecer o público, mantendo uma assídua e relevante presença na vida cultural portuguesa.
Apesar das vicissitudes resultantes da censura em Portugal e das dificuldades financeiras que o projecto atravessou, manteve o entusiasmo e a persistência dos editores e o interesse do público, numa aliança invulgar em Portugal de criatividade, combatividade e pujança ideológica.
Retirado da wikipédia
"Apesar de todas as diferenças de ideias, de temperamento, de métodos de pensamento e de trabalho, havia identidades fundamentais entre todos os membros de dois grupos que deran apoio de estrutura aos que verdadeiramente de interessavam, num esforço colectivo, pela resolução do caso português: a Renascença Portuguesa e a Seara Nova. Mas também os podemos distinguir muito facilmente. Para os que formavam o núcleo essencial da Renascença, o aspecto histórico primava sobre o aspecto actual; o aspecto poético sobre o aspecto realista; o aspecto literário sobre o científico; o aspecto intuitivo sobre o racionalista; finalmente ... tomava-se como signo fundamental de Portugal, dos dois sob que ele nasceu, o da Saudade."
(...) Para o grupo da Seara Nova, o signo essencial era exactamente o outro, o da Acção. (...) Para a Seara Nova, o que havia que fazer imediatamente, era uma reforma de Portugal e uma reforma que o reintegrasse na sua função histórica de universalismo; reforma que se tinha de exercer basilarmente em dois campos: o da economia, com atenção essencial a todos os problemas de produção e de consumo, instaurando um sistema, qualquer que fosse o nome, que garantisse racionalidade no planejamento e justiça na distribuição; e o da educação, preparando as novas gerações portuguesas para o entendimento científico dos problemas práticos, para o entendimento humano da convivência política e para o entendimento filosófico, nalguns até de coloração mística, dos problemas de criação espiritual.(...)" 1

(1) Silva, Agostinho da, Reflexão à margem da literatura portuguesa, guimarães Editores, Lisboa, 1996, pp. 125 e ss.