Milton, John (1608-1674)
Obras do autor:
·Reformation in England, 1641.
·Areopagitica. A Speech for the Liberty of Unlicensed Printing, 1644. Título inspirado em Isócrates. Assume a forma de um discurso dirigido ao parlamento.
·The Tenure of Kings and Magistrates, 1648-1694.
·Eiconoclastes, 1649.
·Defensio pro populo anglicano, 1650-1651. Na primeira defesa, resposta a um folheto do professor de Leyden Salomonius que em 1649 publicara Defensio Regia pro Carolo I. Na segunda, elogia Cromwell.
·Defensio Secund, 1654.
·Ready and Easy Way to Establish a Free Community, 1660.
·De Doctrina Christiana, 1823.
Retirado de Respublica, JAMFoto e texto 2 retirados da Wikipédia
"O percurso tumultuoso de John Milton (1608-1674), e sobretudo o seu talento, transformaram-no numa constelação de centelhas que escurece a obra dos seus contemporâneos. A sua influência sobre a Literatura Romântica foi bastante profunda, assim como sobre a Era Vitoriana.
Enquanto estudava em Cambridge, interessou-se por teologia, filosofia, história, política, literatura e ciência na sua preparação para uma carreira poética. Crítico da educação ministrada na época, foi, sobretudo, um autodidacta. Viajou por França e Itália onde conheceu Galileu Galilei. Antes de dedicar largos anos ao serviço da causa puritana, realizou uma série de publicações, discutindo a legalidade e moralidade do divórcio, atacando a lei inglesa referente ao casamento.
O surgimento de um glaucoma, que o viria a conduzir à cegueira, forçou-o a ditar muitos dos seus trabalhos em prosa e em verso, nomeadamente a sua obra prima, Paradise Lost, em 1667, obra épica através da qual lhe foi reconhecido, com razão, mérito universal. Repleto de influências bíblicas, assim como de autores, entre os quais Homero, Virgílio, Spenser, Sidney e Shakespeare, o poema épico descreve a criação do universo, da terra, da humanidade, veicula a origem do pecado, da morte e da maldade, recria eventos no Inferno, no Céu, no Jardim do Éden, debate ideias políticas de tirania, liberdade e justiça e defende a posição teológica sobre a predestinação, livre vontade e salvação.
Logo no início de Paradise Lost, o poeta presenteia-nos com um discurso de elevada carga emocional proferido por Lúcifer, após ter afrontado Deus e ter sido expulso do paraíso, juntamente com a sua hoste de anjos caídos. Este monólogo poderoso, onde ódio, ressentimento e orgulho estão visivelmente patentes, possibilita ao leitor arrepiado recriar o aspecto e gestos do orador, tal é a veemência com que este se exprime:
Said then the lost Archangel, ‘this the seat
That we must change for Heaven, this mournful gloom
For that celestial light? Be it so, since he
Who now is Sovran can dispose and bid
What shall be right: farthest from him is best,
Whom reason hath equalled, force hath made supreme
Above his equals. Farewell, happy fields,
Where joy for ever dwells! Hail horrors! hail,
Infernal World! And thou, profoundest Hell
Receive thy new possessor – one who brings
A mind not to be changed by place or time.
The mind is its own place, and in itself
Can make a Heaven of Hell, a Hell of Heaven (…)”
« (…) To reign is worth ambition, though in Hell.
Better to reign in hell than serve in heaven».
O discurso de Lúcifer inicia-se ao contemplar o local para onde foi banido por Deus. Aceita-o, reconhecendo-o como soturno, melancólico, deprimente, por contraposição com a luz diáfana do paraíso. Procura, orgulhosamente, aceitar o seu destino, afirmando, com rancor, ser melhor estar afastado do Omnipotente. Despede-se dos campos onde, para toda a eternidade, a alegria habita, e classifica o seu novo reino como inferno profundíssimo. Sem demonstrar qualquer laivo de arrependimento, assegura que o seu pensamento não sofrerá alteração, sendo que este consegue transformar o paraíso num inferno e vice-versa.
E remata a primeira parte do seu discurso com uma frase emblemática nesta obra que se aplica(rá) à humanidade em todos os lugares e todos os tempos: «reinar é uma ambição válida, apesar de ser no inferno. É melhor reinar no inferno, do que servir no céu»."
Publicado por Ana Márcia Pires, no Publicista, em 20 de Agosto de 2006