Europa. A mitologia e os símbolos
O mar
Eis, portanto, a Europa como aquele sítio onde a terra acaba e o mar começa, conforme dizia Camões, sobre Portugal. Onde acaba toda a terra antiga e começa ... a tentação do mar, utilizando agora António Sardinha. Eis uma Europa que nasceu e cresceu à volta do mar, como observa Bernard Voyenne. Segundo as palavras deste último autor, esta península das tormentas, ramificada até ao infinito, é na verdade o lugar mais banhado que há no mundo: um quilómetro de costa para dois mil quatrocentos e vinte e nove quilómetros quadrados de terras. Por todo o lado, a água se insinua, vai subindo em largos estuários e fiordes, bordeja ilhas e ilhéus litorais. Nenhuma distância face ao mar excede mil quilómetros e na maior parte dos casos essa distância é bem menos (mesmo a Suíça, um país que passa por continental, está a menos de seiscentos quilómetros do oceano e a trezemtos do Adriático). A Europa nasceu e cresceu à volta do mar; expandiu-se a bordo de um oceano...
Os símbolos europeus
Foi misturando o azul do mar, o futurismo romântico, resquícios da mitologia e algum cabalismo, que, neste nosso tempo de ciência e racionalidade, mas depois do apocalipse e à beira de um novo e mais doloroso apocalipse, se estabeleceram os panteístas e profetistas símbolos da Europa, desde a bandeira da Europa, em 1955, com um diadema de doze estrelas sobre um fundo azul, ao próprio hino, em 1972, retirado da Ode à Alegria de Ludwig van Beethoven. Hoje a Europa tem uma bandeira azul, com uma coroa de doze estrelas, não uma estrela por Estado, mas o emblemático número doze, considerado símbolo da plenitude e da perfeição, como doze eram os filhos de Jacob, os trabalhos de Hércules, os signos do zodíaco, os meses do ano, os apóstolos ou a romana lei das doze tábuas. Doze estrelas, como as da auréola de uma Virgem que aparece no vitral da catedral de Estrasburgo, uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés, tendo uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça (et in capite eius corona stellarum duodecim)... Tudo muito conforme, aliás, com o capítulo XII do Apocalipse de S. João. Compare-se o que a respeito escreve o nosso Padre António Vieira, onde se fala numa Mulher em dores de parto, dando à luz um Filho varão que, no entanto, há-de reinar sobre todas as nações do mundo com ceptro de ferro. Se um Dragão tenta tragá-lo, eis que ele acaba por ser arrebatado ao céu, onde acabará por assentar-se no trono de Deus. À Mulher se darão duas grandes asas de águia com que fugirá do Dragão. Virá depois um Cavaleiro, montado num cavalo branco, trazendo, na orla do vestido, a divisa rex regum et dominus dominantium, comandando um exército, também montado em cavalos brancos, que acabará por vencer o Mal, isto é, a bestialidade do Dragão e os os falsos profetas que o seguem. Interpretando tal passagem, António Vieira considera que se trata de um relato da emergência da Igreja do Quinto Império, onde se descreve a maniera da Igreja se coroar, e alcançar o Reino e império universal, onde a Lua é o Império Turco (ou o império dos que apenas têm poder temporal) e o ferro, a inteireza e constância da justiça e igualdade com que o mundo há-de ser governado. Tratar-se-ia da procura de um poder que não está sujeito às inconstâncias do tempo, nem às mudanças da fortuna e que se há-de estender até ao fim do mundo. Porque só então chegará o corpo místico de que fala São Paulo, com Cristo a nascer de novo. O tal Filho, que tem o trono no Céu, tal como a Igreja tem uma coroa na terra.
Europa-hegemonia do mais forte e consentimento dos outros,70,464
Europa-integração política,70,465
Europa-transferência de lealdades,70,465.