quinta-feira, 22 de março de 2007

Gonçalves, José Júlio

Professor catedrático do ISCSP, onde chega a presidente do Conselho Científico, depois da saída de Adriano Moreira e sucedendo a José Maria Gaspar, seu companheiro e amigo nas aventuras da criação das universidades privadas. Sociólogo. Reitor da Universidade Moderna. Doutorado pela Universidade de Madrid. Autor de O Mundo Árabo-Islâmico e o Ultramar Português, 1958; O Protestantismo em África, 1960; Técnicas de Propaganda, Élites, Quadros e Outros Estudos, 1961; Sociologia da Informação, 1963; Itinerários da Teoria Sociológica, 1969; Sociologia, 1969. Nos últimos tempos do marcelismo chega a subdirector do jornal A Capital, quando este é dirigido por Henrique Martins de Carvalho.
Especialista em comunicação social e em matérias de propaganda, colabora com o Estado Maior do Exército quando este é dirigido por Ramalho Eanes. Figura polémica, de prodigiosa imaginação, depois de ter sido um dos colaboradores íntimos de Adriano Moreira, sai do respectivo circuito por colaborar com o marcelismo. Fazendo pontes com o tradicionalismo católico, figuras do salazarista e da extrema direita e com o Grande Oriente Lusitano, consegue animar a criação de uma colossal Universidade Privada, que sofre os efeitos das desventuras de uma dissidência maçónica, uma altura em que Paulo Portas é um dos activos professores da instituição.
Retirado de Respublica, JAM

Gnosis/Pistis

Do grego gnosis, ou conhecimento religioso, diferente da simples fé ou pistis. Segundo Pinharanda Gomes, enquanto esta é o acto de ouvir a palavra e aceitar o dom revelado sem compreender o mistério, a gnosis tende a ser o acto de ouvir a palavra e de a compreender para a aceitar, transformando-se no conhecimento religioso dos iniciados e não o dos simples e pobres.
Retirado de Respublica, JAM

Gnosticismo

1. O gnosticismo constituiu uma heresia dos primeiros cristãos, que visava criar uma espécie de religião universal, unindo o cristianismo às mais antigas crenças e ao próprio judaísmo. Partindo do dualismo persa, do confronto entre a matéria, intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom, considerava que o mundo havia sido criado por Demiurgo, um dos iões que desejava ser Deus. Para eles, unidos ao ser supremo, havia iões, uma série de seres intermediários entre o espírito e a matéria, que eram menos perfeitos à medida que se afastavam de Deus. Demiurgo, depois de expulso do reino da luz, teria sido lançado num abismo, onde acabou por criar o nosso universo, dando forma à matéria e criando o homem, uma matéria onde existiria um grão de luz, a alma. E foi para redimir o homem que Deus teria mandado à terra um ião fiel ao ser supremo chamado Cristo.
2. O gnosticismo, que teria sido fundado pelo judeu convertido ao cristianismo chamado Simão Mago, vai ressurgir no século IV, sob a forma de arianismo que, acreditando na unidade absoluta de Deus, negava a Trindade e a divindade de Cristo. Para o gnosticismo toda a história do mundo se desenrola na luta entre dois princípios (o bem e o mal) através de três idades (o passado, o presente e o futuro). Tende também a adoptar uma visão trinitária da história, na senda daquele modelo que se manifestou em Vico (Deuses, Heróis e Homens) e em Comte (Idades Teológica, Metafísica e Científica).
3. Como assinala Besançon, de uma historiografia de tipo gnóstico, com os dois princípios e os três tempos do maniqueísmo, mas, em vez de serem apresentados através de uma mitologia, são-no através de uma história pretensamente real, objecto de ciência constatável. É o que assinala a passagem de um pensamento gnóstico a um pensamento ideológico. Assim, esta ficção que se recusa a ser uma ficção, que se apoia nos Padres e na realidade, torna-se uma ficção em dois graus, quase impossível de assinalar.
4. Foi neste chão que Marx colheu a tríade Capitalismo, Socialismo, Comunismo. É ainda segundo o mesmo ritmo que se visionam os três tempos das concepções revolucionárias: o tempo da opressão, o tempo da resistência e o tempo da libertação, em que o Anjo domina o Dragão e a vitória é levada até à apoteose. O gnosticismo exige também um líder, que tanto pode ser um dux individual como a figura colectiva de um homem novo, desde o príncipe de Maquiavel ao militante comunista de Lenine. Além do líder, exige-se uma irmandade de pessoas. O que deu origem à mística das associações secretas, segundo a qual aqueles que não são iniciados são profanos, base de todos os vanguardismos.
5. Acresce que o gnosticismo tende a dividir geograficamente zonas dominadas pelo bem e pelo mal. Não aceitamos esta visão linear da história que acredita no progresso crescente, quando a história pode também ser retrocesso. Tanto o comunismo soviético como os ocidentalíssimos positivismos, cientismos e progressismos constituem fogueiras não apagadas de um medievalíssimo gnosticismo.
Retirado de Respublica, JAM