sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Legendre, Pierre

Membro da filosofia do desejo. Considera que o grande objectivo do poder consiste em fazer-se amar. A obediência e a submissão permitem receber o amor. Desobedecer leva à angústia de não se receber o fluxo do amor.
Para este autor, o poder vem sempre de uma autoridade primeira, do pai e do desejo de protecção que o mesmo engendra. O pai dá-nos amor.
LEGENDRE – Estado presente da Igreja Católica e do d. canonico,79,526. em Jouir du pouvoir. Este último refere, aliás, que todo o poder, seja o do patrão, ou do chefe político ou o de Deus, vem de uma autoridade primeira, do pai e do desejo de protecção que engendra. O poder, com efeito, é um facto marcado por um sinal que partindo dos factos, os faz participar na meta‑política. O poder político visa, desde sempre, mobilizar os factos sem ser pela heteronomia da força, mas pelo consentimento. Visa o ideal de um "governo obtido pelo consenso do corpo de cidadãos" que "pressupõe a articulação dos cidadãos individualmente considerados até ao ponto em que eles se possam tornar cidadãos activos na representação da verdade através do peitho, a persuasão". Todo o poder, com efeito, tende a ser simbólico, tende a ser "um poder que aquele que lhe está sujeito dá àquele que o exerce um crédito com que ele o credita, uma fides, uma auctoritas, que ele lhe confia pondo nele a sua confiança", pelo que "o homem político retira a sua força política da confiança que um grupo põe nele. Ele retira o seu poder propriamente mágico sobre o grupo da fé na representação que ele dá ao grupo e que é uma representação do próprio grupo e da sua relação com os outros grupos".
O Estado como entidade centralista que surgiu na Idade Média, mais precisamente, no século XII, como um presente da Igreja Católica e do direito canónico, sob o influxo do renascimento do direito romano. O mesmo Legendre refere , aliás, que o Estado Centralista seria um "substituto monoteísta". Com efeito o poder político dos reis foi moldado à imagem e semelhança do Imperador romano,enquanto pontifice único, dando‑se, deste modo uma "transferência para o Estado dos signos sagrados da omnipotência". O rei é o vigário de Deus. Isto é, está no lugar do Outro, "re‑presenta‑o", faz "o discurso do Outro" é uma simples voz da instituição. Também o Imperador detinha o oráculo; também o Pontifice era um simples mestre que apenas transmitia. A este facto acresceria o facto de, com a centralização do poder real, se ter transformado a lei no seu principal instrumento. O rei passou a ser a "lei viva" e a lei transformou‑se no substituto do anterior Texto. Deu‑se, deste modo, a laicização do poder e a lei passou a "ocupar um lugar eminente, verdadeiramente soberano... tornou‑se a categoria fundamental, substitutivo daquela onde se justificava a Palavra do Pontifice". Como diz o mesmo autor, visou induzir‑se "o amor da subordinação no coração do povo, através do amor da lei" e a "lei laica tende a substituir‑se a toda a religião".

Retirado de Respublica, JAM