domingo, 21 de outubro de 2007

Miguel I (1802-1866)

Nasce em 26 de Maio de 1802. Líder da vilafrancada de 1823 e da abrilada de 1824. É obrigado a seguir para o exílio. Jura a Carta em Viena em 4 de Outubro de 1826. Celebra esponsais com D. Maria da Glória em 29 de Outubro de 1826. Nomeado lugar-tenente de D. Pedro em 3 de Julho de 1827. Deixa Viena em 6 de Dezembro. Chega a Paris em 19 de Dezembro. A Londres em 30 de Dezembro. Desembarca em Lisboa em 22 de Fevereiro de 1828. Nomeia novo governo em 26 de Fevereiro. Dissolve a Câmara dos Deputados em 13 de Março de 1828.

O rei

Aclamado rei pelo Senado de Lisboa em 25 de Abri e jurado como tal pelos Três Estados, reunidos desde 23 de Junho, em 11 de Julho de 1828. O seu governo, marcado por aquilo que Oliveira Martins qualifica como uma ditadura plebeia, acaba por embrenhar-se numa sangrenta guerra civil que apenas termina pela Convenção de Évora Monte em 27 de Maio de 1834.

O exílio

Parte para o exílio em Sines a 30 de Maio. Emite comunicado em Génova em 20 de Junho. Casa em 1851 com Adelaide Sofia de Loewenstein-Wertheim- Rosenberg. Do consórcio nascem D. Maria das Neves (1852-1941); D. Miguel II (1853-1927); D. Maria Teresa (1855-1944) e outros. Falece em 14 de Novembro de 1866.

A lenda

A figura de D. Miguel (1802-1866) continua a ser objecto de perspectivas contraditórias. Coelho da Rocha diz dele que todos os seus actos trazem o cunho da imprevidência e da ferocidade. Almeida Garrett qualifica-o como um abjecto tirano, um rebelde traidor manifesto. Era a análise daquele D. Miguel que na frustrada revolta da abrilada de 30 de Abril de 1824, proclamara pretender esmagar duma vez a pestilenta cáfila de pedreiros livres... ou acabar na gloriosa luta em que estamos empenhados, ou cortar pela raiz o mal que nos afronta, acabando de uma vez com a infernal raça maçónica, antes que ela acabe connosco. Mas Oliveira Martins, já com uma certa distância de historiador, e que lhe valeu uma violenta diatribe de António Sérgio, diz que ele foi o último rei que o povo amou e compreendeu, que saiu pobríssimo do seu país e pelos seus oficiais carecidos distribuiu o dinheiro que possuía em Évora Monte, enquanto Carlos Passos considera que mais valia a figura do príncipe que o sistema absolutista. Por seu lado, Cabral de Moncada considera que se por legitimidade entendermos a questão dos direitos de D. Miguel ao trono português em face das leis de sucessão do reino (leis ditas de Lamego e as Cortes de 1641), num ponto de vista estritamente legal, é indiscutível que uma tal legitimidade só pertencia ao filho mais novo de D. João VI (op. cit. p. 129). Mas a isto responde Garrett, dizendo que a legitimidade fez-se para os povos e não para os reis, considerando, por seu lado, Coelho da Rocha, e que D. Miguel procedeu a uma escandalosa transgressão do juramento, dos esponsais e dos votos feitos... em Viena à face de Deus e de toda a Europa.

A honra sem inteligência

Talvez mais esclarecedoras sejam as próprias palavras de D. Miguel no exílio: fomos ambos infelizes, eu e meu irmão. Por ele esteve a inteligência sem honra, por mim, a honra sem inteligência. Porque, como dizia Garrett, na maturidade das páginas inolvidáveis das Viagens na Minha Terra, toda a guerra civil é triste. E é difícil dizer para quem é mais triste, se para o vencedor, se para o vencido. MIGUEL, D. –Honra sem inteligência, 131, 810.


Retirado de Respublica, JAM

Foto picada da Wikipédia