sexta-feira, 4 de maio de 2007

Almeida, António José de (1866-1929)

Segundo Raúl Brandão, é um orador, até os seus artigos são discursos... mas justiça, liberdade e povo que para outros não passam de plavras, são para ele realidades profundas. Médico, deputado republicano antes de 1910. Quando estudante, com 24 anos, publica um célebre artigo, Bragança, o Último, pelo qual é condenado a três meses de prisão.

Exerce a clínica em S. Tomé, donde regressa em 1903. Em 24 de Janeiro desse mesmo ano, faz um vibrante discurso no funeral de Rafael Bordalo Pinheiro. Detido em 31 de Janeiro de 1908. Director da revista Alma Nacional. Fundador do partido evolucionista. O mítico tribuno dos tempos da propaganda heróica, o palavroso ideológo da revista Alma Nacional, impulsivo no discurso, volúvel de feitio, todo ele uma sucessão rápida de amores e ódios, misturando táctica com estratégia, tanto não tinha ideias gerais assentes em linhas filosóficas mínimas. Romântico, homem de crenças, reduzia as ideias ao prazer do discurso. Ministro do interior do governo provisório de 5 de Outubro de 1910 a 4 de Setembro de 1911. É então o ministro da província. Começa por ser apoiado por Machado Santos, mas em breve constitui uma terceira força, aproveitando os confrontos entre o grupo de Camacho/ Relvas e o de Costa/ Bernardino. Presidente do ministério da união sagrada, de 15 de Março de 1916 a 25 de Abril de 1917, onde acumula a pasta das colónias. Presidente da república eleito em 6 de Agosto de 1919. Exerce as funções de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923. É o único que consegue cumprir o seu mandato. Morreu em 30 de Outubro de 1929. A partir de Janeiro de 1911 desenha um movimento de ruptura com a facção dominante no governo provisório. Nesse mesmo mês apresenta no conselho de ministros, projecto sobre o horário de trabalho, que não é aprovado. É então que começa a publicar-se o jornal República, de que é fundador (15 de Janeiro). Dá apoio frouxo ao segundo governo, presidido por João Chagas, em Setembro de 1911, quando se esboça uma manobra entre camachistas e afonsistas para o afastar. No mês seguinte é vaiado e sovado no Rossio por afonsistas.Tinha-se declarado independente do Partido Republicano em nota publicada em A República. Nov 11 António José de Almeida e Afonso Costa vão de comboio ao Porto em propaganda. Na chegada ao Porto, Almeida é insultado e Costa aplaudido. Repete-se a cena no regresso a Lisboa, no dia 6 de Novembro. Manifestantes gritam vários morras e Almeida, em charrette, tem de sacar da pistola para se defender. Costa vai de automóvel e é ovacionado. Como salienta Vasco Pulido Valente a chegada ao Rossio juntou num único dia o 4 de Maio de Hintze Ribeiro e o 18 de Junho de João Franco. António José de Almeida em artigo publicado em A República de 7 de Novembro retira apoio ao governo de João Chagas: o governo está em crise total? Não se sabe. No entanto não vemos razão para que o governo abandone o poder. Um só homem tem que sair e deve sair. É o sr. João Chagas. A pasta do interior tem de ser confiada a um homem de critério, mas a quem não faleça o pulso. Ou entramos na ordem, ou. Este pede imediatamente demissão a Manuel Arriaga.

Afastando-se do Partido Republicano em Outubro de 1911, alia-se a Brito Camacho, esboçando a criação de uma União Nacional Republicana. Mas, em 24 de Fevereiro de 1912, funda o Partido Republicano Evolucionista. No mês seguinte propôe, em pleno parlamento, nada mais, nada menos, que uma amnistia geral para os católicos e conspiradores monárquicos, coisa que não teve vencimento, nomeadamente pela actuação do deputado Alexandre Braga. Afonso Costa, por seu lado, reforçou o controlo do PRP.

Nos primeiros dias de Janeiro de 1913, Duarte Leite, naquilo que Machado Santos qualificou como um ataque de neurastenia, apresentava a demissão, tendo como pretexto a divisão formal do Partido Republicano e invocando a necessidade de um governo assente numa maioria parlamentar. Arriaga ainda tentou a hipótese de António José de Almeida, que contou com o apoio de Brito Camacho, mas que não conseguiu mobilizar os independentes, por causa da respectiva proposta de amnistia. Chegava o tempo

António José de Almeida defendeu a necessidade de realização imediata de eleições locais, mas a maioria das câmaras municipais disse que não, invocando o facto do eleitorado ser adverso à república ou dominado pelo clero. O ministro da guerra continuava a ser apoiado pelo jovens turcos.

1913 A outubrada impende que se consume a Liga das Oposições, com a junção do grupo de Brito Camacho a António José de Almeida e Machado Santos, e onde alinhavam o jornal O Rebate, influenciado por Alfredo de Magalhães.

Junho 14 Afonso Costa desafia António José de Almeida para duelo, sabendo que este o não aceita, por ser defensor do modelo dos tribunais de honra.

Dez 14 António José de Almeida recusa governo de concentração. Afonso Costa diz que a união é impossível por causa das guerras pessoais. Almeida considera que a questão tem a ver com princípios, nomeadamente com as divergências quanto à Lei da Separação. Brito Camacho está contra o governo de concentração e até contra a hipótese de governo extrapartidário, defendendo um governo de base parlamentar demo-evolucionista ou demo-unionista. Mas põe obstáculos até à concretização deste último.

Jan 15 apoia gov. de P. machado

António José de Almeida, elogiando Pimenta de Castro, promete uma oposição tenaz, formal e intransigente

António José de Almeida na Câmara dos Deputados considera que, perante a guerra, a alma portuguesa ainda não encontrar aquela vibração suprema. Jaime Cortesão havia defendido a criação de um sistema de propaganda face à nossa participação na guerra (20 de Maio)

António José de Almeida, eleito em 6 de Agosto, tomou posse como Presidente da República em 5 de Outubro de 1919

Em 26 de Agosto de 1922, António José de Almeida partia para uma viagem oficial ao Brasil (chega ao Rio de Janeiro em 17 de Setembro e regressa a Lisboa no dia 11 de Outubro)

Jan 23 António José de Almeida impõe o barrete cardinalício ao novo Núncio Apostólico, Monsenhor Acquille Locatelli, em 4 de Janeiro. Choques entre revolucionários e polícias em Lisboa e no Porto.

·Quarenta Anos de Vida Literária e Política

4 vols., Lisboa, 1933-1934. Ver Governo de António José de Almeida.