quinta-feira, 3 de maio de 2007

Alemanha

A actual República Federal da Alemanha (Bundesrepublik Deutschland), resultante da reunificação de 3 de Outubro de 1990, tem 357 050 km2 e 79 548 000 habitantes; o modelo deriva da unificação bismarckiana de 18 de Janeiro de 1871 que se volveu em república democrática entre 1919 e 1933; a partir da subida de Hitler ao poder em 1933 e até 1945, a unificação chamou-se Drittes Reich; em 23 de Maio de 1949, na zona de ocupação ocidental, surgiu a RFA, enquanto em 7 de Outubro de 1949, na zona sob administração soviética, se instaurou a RDA; segundo a fórmula de Cline, a RFA, 116 e a RDA,17; as primeiras eleições gerais, depois da reunificação ocorreram em 2 de Dezembro 1990.

Os antecedentes desta unidade política podem ter vários nomes: pode falar-se no Sacro Império Romano-Germânico e, consequentemente, no Império dos Habsburgos; pode referir-se a Prússia e ir-se mais longe, ao império carolíngio; pode até fazer-se uma da Liga Hanseática.

No tocante ao Império, importa referir a Bula de Ouro, Goldene Bull ou Bulla Aurea, de 1356, promulgada por Carlos IV, que constituiu o se principal fundamento jurídico até 1806; nela se estabelece o processo de eleição do Imperador por sete grandes eleitores: os bispos de Mogúncia, Colónia e Trèves; o rei da Boémia; o duque da Saxónia; o marquês de Brandeburgo; o conde Palatino do Reno, fixando-se que a mesma eleição teria de ser por maioria (pelo menos 4 dos 7). Mas a história deste primeiro império alemão confunde-se com a história austríaca, muito principalmente com a saga dos Habsburgos, da reforma e do tratado de Vestefália de 1648, quando o espaço político alemão é fragmentado em 378 Estados soberanos. Importa, sobretudo, referir a situação alemã posterior à época napoleónica, remontando a 1815, quando, ao mesmo tempo que grassavam movimentos nacionalistas liberais na Alemanha, era estabelecida a Confederação Germânica, Deutscherbund, no dia 8 de Junho. Se os movimentos liberais ansiavam pela grande unidade germânica, animados pelos discursos de Fichte, a Confederação assumia o restauracionismo, dado consistir numa ténue ligação política entre 39 Estados soberanos . Na presidência da Confederação, aparecia o Imperador da Áustria; como Vice-Presidente, o Rei da Prússia. E muitos dos Estados integrantes são até representados por soberanos estrangeiros: o rei de Inglaterra é o rei de Hanôver; o rei da Dinamarca acumula com a titularidade de duque de Holstein; o rei da Holanda é o grão duque do Luxemburgo. A Confederação, assim diluída nas teias da balança da Europa, nem sequer vai ter um tribunal superior comum. O exército federal apenas se constitui em 1821, consistindo numa manta de farrapos, sem unidade e sem eficácia. O único organismo vivo do sitema é a dieta, o Bundesrath, sita em Francoforte. Contudo o impulso liberal nacionalista leva à constituição, nesse mesmo ano da Bürshenschaft em Iena, cuja bandeira vermelha-preto-vermelha, assume a divisa Liberdade, Honra, Pátria. Bandeira que, no ano seguinte, assume as cores preto-vermelho-ouro, que hão-de ser as da República de Weimar e da República Federal da Alemanha. É esta sociedade que em 18 de Outubro de 1815 faz uma célebre reunião em Wartburgo, para comemorar o terceiro centenário da Reforma e onde, num ambiente de grande fervor, procede à queima de livros reaccionários e de símbolos do militarismo... O liberalismo nacionalista era um produto do chamado idealismo alemão que há-se constituir a incubadora univerasal da emoção nacionalsita. Os seus entusiastas vão buscar a J. G. Herder (1744-1803) a noção de povo, como povo orgânico e não já como a sociedade atomística do contrato social que estivera na base da Revolução Francesa. Emocionam-se como os Reden an die deutschen Nation de Johann Fichte (1762-1814) as catorze conferências proferidas em Berlim entre 1807 e 1809, onde se vai defender a existência de uma espécie de eu nacional com base na unidade da língua e na identidade da raça, para além de uma predestinação do povo alemão e da necessidade de um Estado forte. É então que se proclama a necessidade de construir a nação alemã entendida como um dever do espírito alemão para com a humanidade, em nome do destino histórico. É então que o romantismo passa do panteísmo do eu individual para a deificação do eu colectivo, em nome da língua, da raça e do Estado. A fogueira do nacionalismo liberal alemão é entretanto detida pelo sistema Metternich, principalmente depois de Karlsbad, quano surgem decretos controleiros da liberdade de imprensa. A própria sociedade Bürshenschaft é dissolvida em 1819. A unidade alemã segue dentro de algumas décadas. Entretanto, chega a hora dos economistas e dos ministros da finanças. Na Prússia, sob inspiração de Friedrich List (1789-1846), o ministro das finanças von Motz decide levar a cabo um processo de união aduaneira entre os vários Estados alemães. Para ele a associação entre interesses materiais abriria a porta à cooperação política, isto é, a união aduaneira seria o prelúdio da união política. Em 1818, já são abolidas as fronteiras interiores existentes na Prússia e pouco depois o movimento alastra a toda a Alemanha do Norte. Em 1834, a união aduaneira, ou Zollverein, já se estende a quase toda a Alemanha, com excepção para o Hanôver, Brunswick, Holdenburg e cidades hanseáticas e, evidentemente, a Áustria. Isto é, aquilo que as formas políticas não conseguiram, ia-se fazendo pelas reformas finnceiras e económicas. É preciso esperar pelo abalo de 1848. Com efeito, em 18 e 19 de Março de 1848 dá-se uma primavera dos povos em Berlim. O rei da Prússia Frederico-Guilherme IV que já no anterior tinha prometido uma reforma constitucional pela convocação de uma dieta, põe-se logo à frente do movimento, prometendo ao povo prussiano uma constituição e uma assembleia eleita por sufrágio universal. As revoltas lastram por outras zonas da Alemanha. Assim, logo em 18 de Maio, reúnia, em Francoforte, um parlamento eleito por sufrágio universal, o qual imediatamente proclama a necessidade de passar-se da Confederação para um Estado Federal, um Bundestaat em vez de um Staatenbund. Neste sentido, em Junho é imediatamente constituído um governo federal provisório sob a presidência do arquiduque João de Habsburgo que assume o título de vigário do Império. Contudo, no seio do parlamento, os partidários de uma pequena Alemanha, sem a Áustria e sob a direcção da Prússia, opõem-se aos defensores de uma grande Alemanha, com a Áustria e sob o comando dos Habsburgos. As desinteligências duram até à primavera de 1849, com a vitória da primeira tese, mas em 27 de Abril desse ano, o rei da Prússia recusa a função. Desesperados, os liberais recorrem à viollência revolucionária, sendo sucessivamente esmagadas revoltas em Dresden, Nuremberga, Munique e Bade. O próprio parlamento, depois de ser obrigado a deixar Francoforte e a instalar-se em Estugarda, acaba por ser disperso por soldados prussianos em 30 de Maio de 1849. Frederico Guilherme IV prefere obeter a coroa imperial, não do povo, mas de outros sobernos alemães. Tenta o processo de uma união que, contudo, apenas consegue arrastar pequenos Estados, dado que os grandes Estados do Sul, manobrados pela Áustria lhe opõem forte resistência. Em 1850 vive-se, assim, grande etensão entre a Prússia e a Áustria. Em 20 de Setembro, o próprio exército prussiano chega a ocupar o Hesse, mas vê-se obrigado a retirar a a capitular através da Convenção de Olmütz de 29 de Novembro, que obriga a um regresso à Confederação Germânica de 1815 e ao restabelecimento da Dieta de Francoforte. A Prússia volta-se mais uma vez para os processos económicos e financeiros de construção da unidade alemã, dado que o método do Zollverein continua em senda de sucesso, de tal maneira que o Hanôver já a ele adere em 1851, e o Oldenburg no ano seguinte. É preciso esperar pela subida a chanceler da Prússia de Otto von Bismarck, em 1862, para que o processo de acelere e concretize. Bismarck, um oficial do exército, fora delegado à dieta de Francoforte entre 1851 e 1859, passando depois para embaixador em Moscovo, Viena e Paris. Estava consciente de que só um acontecimento bélico aliado a uma inteligente jogada diplomática poderia acelerar o processo da unidade alemã. Depois de obter em Outubro de 1865 a neutralidade de Napoleão III e de fazer uma aliança com a Itália, logo promove, em 1866, um guerra com a Áustria que vai concluir-se pela vitória prussiana na Batalha de Sadowa de 3 de Julho de 1866. Segue-se a Paz de Praga de 23 de Agosto e o consequente afastamento da Áustria dos negócios alemães, dando-se por finda a Confederação Germânica. Bismarck já governa a partir de então um vasto território que faz fronteira com a Rússia e a França. Em 1 de Julho de 1867 era fundada a Confederação da Alemanha do Norte (Nordeutscher Bund). O pretexto para a conclusão do edifício da unificação vai ser dado pela França que, exercendo grande influência nos Estados da Alemanha do sul, vai declarar guerra à Prússia em 19 de Julho de 1870, quando um Hohenzollern apresentou a sua candidatura ao trono espanhol. Depois do exército prussiano ter vencido os franceses em Sedan, no dia 1 de Setembro de 1870, os Estados alemães reticentes, como a Saxónia, o Baden, o Vurtemberga e a Baviera, vão gradualmente ao projecto de unificação e em 18 de Janeiro de 1871, na galeria dos espelhos do Palácio de Versalhes, o velho rei da Prússia Guilherme I era declarado deutscher Kaiser, fundando-se deste modo bismarckiano o segundo Reich, o Império Alemão, deutsches Reich. Cento e setenta anos antes, em Kõnigsberg, o eleitor do Brandeburgo, Frederico de Hohenzoller, havia tomado a coroa real da Prússia. A Alemanha vai assim unificar-se do Nordeste para o Ocidente e de cima para baixo. Como então declarava o príncipe herdeiro da Prússia: o Império sai de uma noite de sessenta e seis anos, desembaraçado das crostas do funesto Sacro Império Romano Germânico e realiza os desejos dos nossos avós e os sonhos dos nossos poetas! Em 16 de Abril de 1871 já era promulgada a constituição desta nova unidade política, que ainda congregava 25 Estados particulares. Deste modo se procurava uma mistura entre o princípio unitário e o princípio federal, tal como um compromisso entre o absolutismo e a democracia, da mesma mesma como fora gerado no dualismo entre a conquista militar e o compromisso negocial. O efectivo facto real de poder era a hegemonia da Prússia. O executante do processo vai ser o chanceler de ferro que se vai manter no poder durante vinte anos. Significativamente, há unidade para o exterior. A Alsácia-Lorena que vai ser incorporada há-de qualificar-se como Reichsland, isto é, como propriedade indivisa dos 25 Estados. a mesma solução será adoptada quanto a outros territórios que irão ser destacados da Áustria, da Checoslováquia e da Polónia. Também o chanceler se assume como funcionário do Reich. Bismarck, até 1879 vai apoiar-se nos nacionais-liberais e nos conservadores contra os movimentos católicos e socialistas, especialmente na era da chamada Kulturkampf. Em 1872 expulsa os jesuítas, em 1873 decreta as chamadas leis de Maio e o casamento civil obrigatório. Em 1879 depois das vitórias eleitorais do Zentrum já revoga o processo. Volta-se então contra os socialistas. A partir de 1180 adere ao socialismo catedrático. , quando procura a construção da unidade cultural. Seguem-se os processos da uniformização judiciária, financeira (em 1875 criava-se o Reichsbank) e económica (surge em 1879 o marco). De 1883 a 1889 é a era das reformas sociais, a construção de um dos primeiros modelos de Welfare State. No plano da política externa, o Reich assume-se como o árbitro da Europa a partir do Congresso de Berlim de 1878. Em 1882 a Tríplice Aliança com a Áustria e a Itália. Em 1887, o Tratado de Resseguro com a Rússia. Em 1890 Bismarck retira-se. O comando do Reich passa directaente par o Kaiser Guilherme II que quer lançar a Alemanha numa Weltpolitik As doutrinas dominantes já são as do Estado-Força, impulsionadas por teóricos como Heinrich Treitschke (1834-1896) para quem Staat ist Macht e a mais elevada categoria da eterna sociedade humana. Em 19 de Janeiro de 1919 era eleita a Assembleia Nacional Alemã de Weimar, donde emerge a coligação governamental do SPD, Zentrum e Partido Democrata Alemão; em 11 de Fevereiro Friedrich Ebert era eleito presidente do Reich; em 11 de Agosto era assinada a Constituição de Weimar.

A questão alemã no pós-guerra

Quando, a partir da Paz de Vestefália de 1648 se atomizou o espaço alemão em cerca de três centenas de entidades estaduais, a estabilidade da Europa passou a viver da flutuação de fidelidades entre esses vários soberanos face às disputas entre a casa dos Habsburgos e a casa dos Bourbons. Depois do intervalo de estabilidade de Frederico o Grande, voltou-se à flutuação entre dois pólos, a Prússia e a Áustria. A partir de 1871, com Bismarck, eis novo jogo, com o Reich a estabelecer, por um lado, a Tríplice Aliança, com o Império Austro-Húngaro e a Itália, e, por outro o chamado Tratado de Resseguro com a Rússia, pelo qual as duas potências se comprometem à neutralidade se uma delas for envolvida numa guerra com terceiros. Como a este propósito comenta Hans Morgenthau, primeiro, o medo de alianças hostis levou à formação da Tríplice Aliança. Depois, o medo da sua dissolução levou a Alemanha a afrouxar as suas relações amistosas com a Rússia. Finalmente, o medo das possíveis intenções da Tríplice Alinça deu nascimento à aliança franco-russa. os medos recíprocos destes dois sistemas de alianças defensivas e a insegurança geral criada pelo carácter excêntrico e pelo tom imperialista de Guilherme II foram os factos em que se inspiraram as manobras diplomáticas durante as duas décadas anteriores à primeira guerra mundial ... No fim, a conflagração feral, em 1914, tornou-se inevitável, pelo medo que o lado adversário mudasse as relações de poder decisivamente em seu favor, se isso não fosse impedido por uma mudança dessas relações em um sentido que trabalhasse contra o adversário. Nos dois blocos antagónicos, a Rússia e a Áustria foram especialmente animadas por este medo. O medo so suspeitado imperialismo do outro produziu, por reacção, aquele imperialismo que, por sua vez, deu substância ao medo original. Fraca foi a Alemanha da República de Weimar, sem Gleichberechtigung, onde o medo da França pela sua securité, face a um renascimento alemão, obrigou à Paz de Versalhes, que destacou da Alemanha o Sarre e o Ruhr e levou à ocupação da margem esquerda da Renânia.Foi aliás este medo que levou à duplicidade. Weimar que aparentava cumprir Versalhes, logo tratou de assinar com a Rússia de Lenine, em 1922, com o governo de Joseph Wirth, do Zentrum, o Acordo de Rapallo, o qual permitiu que se furassem as cláusulas do não rearmamento, dao que o próprio chefe da Reichswehr, o general von Seeckt, anticomunista, antecedeu o pacto Hitler-Estaline.Fraca a República de Weimar que, com Gustav Stresemann, assinou com a URSS o Tratado de Amizade de Berlim, de 1926, depois de no ano anterior ter assinado o Tratado de Lucarno com Briand. O filo-ocidentalismo de Stresemann não o impediu de fazer um resseguro com os russos. Como ele dizia é preciso atingir pela astúcia o que se não pode alcançar pela força. E o que a Alemanha queria atingir era não comprometer qualquer abandono de um território que anteriormente pertencera à Alemanha.Na base da alteração do processo estava a questão alemã. Com efeito, a partir de 1949, a Alemanha ocidental, voltava a ter existência política, embora ainda sem soberania, depois de já lhe ter sido reconhecida alguma autonomia quanto à própria gestão económica. Não tarda que comece a falar-se na necessidade do rearmamento alemão. É nessa altura que começa a surgir a ideia de uma qualquer forma de coordenação da produção e distribuição do carvão e do aço.Em 8 de Abril de 1949, pelos acordos de Washington, voltava a dar-se à Alemanha ocidental existência política, realizando-se eleições em 14 de Agosto seguinte, para, já em 15 de Setembro, surgir Konrad Adenauer como chanceler. Não tarda que o novo Estado entre na OECE, em 31 de Outubro, e que até se torne membro associado do Conselho da Europa, em 31 de Março de 1950. A decisão, impulsionada pelos norte-americanos, resultava do agravamento da guerra fria, marcado pelo Bloqueio a Berlim, em 12 de Maio de 1949, e da continuação do desentendimento entre os Quatro Grandes sobre o destino alemão, continuado na conferência que ocorreu entre 23 de Maio e 20 de Junho de 1949.Também as posições francesas não eram consensuais face à questão alemã. Com efeito, em Novembro de 1948, as autoridades norte-americanas e britânicas de ocupação, haviam restituído aos alemães a gestão das indústrias do Ruhr. Entretanto, procurando-se um maior entendiment, em 28 de Abril de 1949, era criada a Autoridade Internacional do Ruhr, participada por norte-americanos, britânicos, franceses, países do Benelux e alemães. Com ela, se assegurava a repartição do carvão e do aço e se aquietavam sobretudo os produtores franceses. Ao mesmo tempo, procurando evitar-se o futuro controlo do governo alemão, surgia um departamento militar de segurança, encarregado de promover a desmilitarização, a descartelização e a desconcentração das indústrias pesadas alemãs. Começa então a falar-se na necessidade de um rearmamento alemão. Em 7 de Maio de 1950, o General Lucius Clay, antigo comandante chefe na Alemanah, preconizava publicamente em Nova Iorque o rearmamento alemão. Alguns dias depois, em 16 de Maio, Churchill, então chefe da oposição, discursava sobre a hipótese de integração de um contingente alemão no seio de um exército europeu. Na conferência de Westminster do Movimento Europeu, ocorrida em Abril de 1949, sob o impulso de André Philip, é elaborada um plano de coordenação dos sectores industriais básicos europeus, abrangendo o carvão, o aço, a electricidade e os meios de transporte.No outono de 1949, o alto-comissário na Alemanha Ocidental, John Mc Cloy, propunha a extensão da Autoridade Internacional do Ruhr a outras bacias industriais. Em Dezembro de 1949, num relatório da comissão económica para a Europa da ONU, alerta-se para o perigo de uma sobreprodução de aço. Também em 19 de Dezembro, a comissão económica da Assembleia consultiva do Conselho da Europa adoptava uma moção pedindo a criação de companhias europeias que seriam isentas de direitos aduaneiros e sujeitas a impostos múltiplos, a coordenar pelo Conselho.Também Harold MacMillan, em discurso proferido nos Comuns, no dia 23 de Março de 1950, reclamava o controlo das indústrias siderúrgicas e mineiras da Europa ocidental, incluindo as britânicas. A resposta dos alemães era inequívoca. Em de Janeiro de 1949, Kurt Arnold, ministro-presidente da Renânia-Vestefália, interrogava-se: em lugar do controlo unilateral do Ruhr, não poderia constituir-se uma associação de direito internacional de base cooperativa? Em 25 de Agosto de 1949, Adenauer, face à prevista desmontagem de uma importante siderurgia alemão, a de Thyssen, em Hamborn, propõe, em alternativa, que a mesma se torne propriedade internacional a título de reparações de guerra.Em 9 de Março de 1950, de novo, Adenauer, em entrevista a um jornalista norte-americano, Kingsbury Smith, propõe a criação de uma união franco-alemã, com parlamento único e nacionalidade comum, aberta a outros países, embora fizesse depender esse passo do regresso do Sarre à Alemanha, o que causaou bastante desagrado aos franceses, levando a que nalguns meios, mesmo democratas-cristãos, se insinuasse que Adenauer queria fazer a Europa em torno da Alemanha e apenas para ela. Depois, em 23 de Março, volta a propôr nova união franco-alemã, agora de carácter económico. Em 16 de Março, numa conferência de imprensa, defendo a necessidade de pôr em conjunto o valor alemão e o valor francês, este último prolongado em África, chega a propor que se retome sobre bases modernas, económicas, sociais, estratégicas, culturais, a empresa de Carlos Magno. Finalmente, em 18 de Abril, o chanceler alemão fala expressamente numa federação europeia, dizendo, no entanto, que a entrada da RFA em tal entidade, teria como condição a atribuição de igualdade de direitos (Gleichberechtigung) à Alemanha e o levantamento do controlo dos aliados.Acrescia a situação do Sarre que envenava as relações entre os dois Estados.Se com o discurso de 9 de Maio de 1950, pareciam superadas as questões económicas que afactavam o diálogo franco-alemão, ficava por resolver o problema do rearmamento alemão, uma exigência norte-americana para um maior empenhamento no containment. Foi então que Jean Monnet cometeu o erro de tentar ultrapassar o gradualismo no sentido de um salto em frente ou de uma revolução a partir de cima, quando teve a a ilusão de procurar resolver-se o problema alemão com a varinha de condão da Comunidade Europeia de Defesa, proposta ainda antes da institutucionalização da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Eis o nó górdio de toda a construção europeia na história do presente. Com efeito, sempre que se considerar que o problema europeu é o problema alemão, está a hipostasiar-se a questão franco-alemã, dado que, de acordo com esta perspectiva, tem de exigir-se que a França deva desempenhar o papel da Europa. Deste modo, a parte britânica jogará sempre de forma centrífuga, agitando o risco do secessionismo, e os restantes Estados membros do clube, tenderão a feudalizar-se. A Espanha quererá ter um rosto de duas faces, entre o mais pequenos dos grandes e o maior entre os pequenos. A Itália ameaçando fractuarar-se entre o Norte e o Sul. E talvez não seja solução duradoura a procura de uma qualquer solução luxemburguesa, o tal sítio diplomático que ora fala francês, ora fala alemão....

O fantasma alemão continuou aliás a pautar o salto em frente maastrichtiano. Era preciso mais Europa, para termos uma Alemanha menos sozinha e menos voltada para Leste. Era preciso mais Europa para termos menos Prússia. Paul Claudel, em 1948 , defendendo para o povo alemão o direito ao horizonte, o direito à esperança, já considerava que a Alemanha tem necessidade da Europa e a Europa tem necessidade da Alemanha. Não se trata somente dela, trata-se de nós... O papel da França é de compreender. De Gaulle vai também considerar, em 1965, que o problema alemão é, por excelência , o problema europeu ... desde o aparecimento do Império romano, isto é, desde que a Europa histórica cessou de se limitar à bacia do Mediterrâneo para se colocar sobre o Reno. Europeu, por causa da colocação dos Germanos no centro do nosso continente, entre gauleses, latinos e eslavos. Europeu, porque uma longa e duradoura história encheu-a de fermentos e carregou-a de sequelas que deixaram, em todos os vizinhos deste país em perpétuo devir, de cruéis rancores e múltiplas prevenções. Europeu, porque o povo alemão é um grande povo, pelo facto da actividade económica, como no domínio do pensamento, da ciência e da arte, ou em matéria de capacidade militar, e que a Europa vê nele uma parte essencial dela própria. Europeu, enfim, porque desde sempre, a Alemanha sente uma angústia, por vezes um furor, suscitadas pela sua própria incerteza a propósito dos seus limites, da sua unidade, do seu regime político, do seu papel internacional, e que faz com que o seu destino apareça perpetuamente no Continente inteiro comme d'autant mais inquietante que ele fica indeterminado.O problema é pois posto uma vez mais na história. Para a França, tudo se reduz hoje a três questões estreitamente ligadas. - Faire en sorte que a Alemanha seja désormais um elemento certo do progresso e da paz. - Nesta condição, ajudar à sua reunificação. - Tomar a via e escolher o quadro que permettraient d'y parvenir. A questão alemã continuava a ser o fulcro da questão europeia. Como escrevia o suíço Gonzague de Reynolds, em 1940, em D'oú vient l'Allemagne?, esta atravessada a leste e a oeste pela rota das grandes invasões ... sente-se diante duma fatalidade natural. Quando é fraca, está condenada a ser invadida; quando é forte, é forçada a invadir. Vive entre duas alternativas: ou é escrava ou é imperialista ... A Alemanha sem chefes está destinada à anarquia inetrior e à dominação estrangeira. A Alemanha com chefes destina-se fatalmente à ditadura e à guerra. O problema alemão sempre foi a chave do equilíbrio europeu. Quando a partir de VeSempre houve duas Alemanhas dentro da Alemanha. Um Karl Jaspers, em 1960, por exemplo, rejeitava a hipótese de restauração de um Estado de Bismarck pelo facto do mesmo ter sido realizado com sangue e aço, numa guerra contra a Áustria (1866) e noutra contra a França (1870), destruindo as esperanças de uma unificação federal e liberal dos povos alemães. Este Estado que apenas existiu durante 75 anos não passaria, aliás, da pequena Alemanha, comparada com aquela grande Alemanha que vive na nossa alma e que existe há mil anos. Ela produziu muitas formas políticas, mas nunca foi uma unidade num sentido nacional moderno (como a França ou a Inglaterra). Foi mais ou menos o território da Europa Central, povoado e formado por homens falando a língua alemã, o território desta Europa Central com as suas paisagens alemãs, de história múltipla e com pátrias múltiplas. Considera assim que a última época do carácter alemão universalista era a época clássica da literatura e da filosofia em que homens de língua alemã se encontraram de Copenhaga a Zurique, de Riga a Amsterdão. Essa uma, unicamente grande Alemanha é um conceito não-político. Sua consciência é, portanto, pré-política ou superpolítica. Dela cresceram, durante o decurso de um milénio, várias formas políticas. Mas nenhuma delas pode reivindicar ser a única Alemanha. A concepção histórica segundo a qual a Alemanha desunida tinha evoluído , com necessidade lógica, no rumo da criação do Estado de Bismark da pequena Alemanha, é uma ficção dos historiadores da época bismarkiana e guilhermiana e de epígonos de hoje. As oportunidades que este Estado abriu estão esgotadas. Nós permanecemos alemães. Mas os alemães são "um povo dos povos" (Schelling). A Alemanha do Reich tanto foi de Bismarck como de Hitler e bem poderia ter sido parceira de uma Rússia leninista no seio de uns Estados Unidos Operários da Europa, assim tivessem triunfado as revoltas comunistas e Lenine não tem sido derrotado na batalha do Vístula.Mas há também uma outra Alemanha. A boa aluna do capitalismo que gerou o milagre económico da economia social de mercado e do deustsche Mark. Há a Alemanha vaticana aliada tanto de Monnet como de De Gaulle, com o chanceler Adenauer. Há a Alemanha campeã da democracia e do pluralismo. A Alemanaha do SPD e do CDU.

Retirado de Respublica, JAM

Teologia da libertação

Movimento teológico católico nascido nos anos sessenta. Tem paralelo com o movimento protestante da teologia da esperança e dele deriva o processo da teologia da revolução, de carácter marxista, marcante nos anos setenta. A teologia da revolução defendia a conciliação entre o catolicismo e o marxismo e que levou alguns a considerar o guerrilheiro como um jesuíta da guerra ou um Frei Beto a declarar que um cristão é um comunista, mesmo que o não queira e que um comunista é um cristão, mesmo que não creia. Mas a teologia da libertação é um movimento bem mais amplo que passa pelas obras de Jürgen Moltmann, Metz, Harvey Cox. Acontece que a teologia da libertação foi incrementada a partir do Maio de 68 como uma teologia para a revolução, onde o reino de Deus passou a ser considerado como a revolução de todas as revoluções (Helmut Gollwitzer) ou como a salvação da revolução (Jürgen Moltmann), opondo-se à teologia do desenvolvimento e superando a teologia dita da impugnação. Ela transformou-se numa teologia da violência, em oposição aos que defendiam uma ética da não violência.

O modelo sul-americano de teologia da libertação, enquanto teologia da revolução, organizou-se em 1972 com a reunião do Escurial em Espanha. Em Novembro desse mesmo ano foi alvo de um ríspido ataque do secretário-geral da Conferência Episcopal latino-americana, Alfonso Lopez Trujillo. Vai incrementar-se o processo ao longo dos anos setenta, tanto no plano teórico, com a recepção de uma série de ideologismo marxistas, como as ideias de alienção, luta de classes e historicidade, enquanro se agravavam as ditaduras sul-americanas sustentadas pela CIA. Em 1979, o novo Papa, João Paulo II, na assembleia episcopal de Puebla, lança um vigoroso ataque teórico ao movimento. Mas, nos anos oitenta começa o recuo do movimento, tanto pela superação teórica levada a cabo pelo Papa, como pelo recuo das ditaduras sul-americanas.
Teologia da revolução
Sob o nome de teologia da libertação existem uma série de realidades contraditórias. Existe por exemplo uma teologia da revolução e da violência, à maneira de Leonardo Boff ou de Camilo Torres, aquele a quem cabe o epíteto de Desroche, ao messias que se torna revolucionário, corresponderia o revolucionário que se torna Messias(p.132). Com efeito, esta dita teologia da revolução é menos uma teologia da revolução do que uma teologia para a revolução, dado que nela se configura o reino de Deus como a revolução de todas as revoluções.
Estas teses geram uma defesa da violência revolucionária onde se proclama que os actos revolucionários podem ser menos violentos do que os próprios estados de violência.
Como considera Raymond Domergue (cit. Ferro p. 203), não se pode optar por uma coisa na qual já se está metido. Moltmann, por sua vez, refere que o problema da acção violenta e da não violência é um falso problema. A única questão é a da violência justificada e injustificada (id.)
Também Gerard salienta que deve-se amar a todos, mas não a todos do mesmo modo: ama-se os oprimidos libertando-os da miséria, ama-se os opressores libertando-os do seu pecado.
Existe uma teologia protestante da esperança, com Jurgen Moltmann
Uma teologia política católica, como en Johan Baptist Metz
-teoria do exodo
-profetismo como processo de crítica das instituições
-conflito com os poderes sociais instalados
Retirado de Respublica, JAM