Bonum honestum
De acordo com as categorias romanas, o bonum honestum, a procura dos supremos valores da justiça, da verdade e da bondade em sentido amplo, distingue-se e deve preponderar sobre chamado bonum utile, a procura das coisas agradáveis à existência,os objectos económicos. Se o primeiro se liga à chamada racionalidade ética, já o segundo tem a ver com a mera racionalidade técnica. Do bonum utile tratam as artes liberales. Do bonum honestum, as artes bona, como o direito e a estratégia. Se a racionalidade técnica domina as chamadas sociedades imperfeitas, como a casa e a empresa, se serve para os sócios resolverem a questão do bonum utile, não chega para se atingir o bonum honestum da racionalidade ética, só passível de cidadania. Com efeito, a partir do espaço básico do social emerge a lógica de uma racionalidade ética, marcada pela justiça, por aquilo que os clássicos qualificavam como bonum honestum, o espaço do político propriamente dito. A racionalidade técnica é apenas parte do logos e tem de ser potenciada pela racionalidade ética. O bonum utile tem de ser integrado no bonum honestum. O animal social tem de ser elevado à categoria de animal político. A sociedade tem de se transformar em comunidade, o contrato tem de volver-se em instituição. A racionalidade técnica apenas marcada pela utilidade e pelo interesse, como acentuam o utilitarismo e o economicismo, tem de ser integrada pela racionalidade ética, onde a estrela polar é a justiça. Para um entendimento global da polis não basta o sócio e o contratualismo do administrador de bens ou do homem como animal de trocas. Impõe-se o entendimento do animal político, do homem como animal normativo e como animal simbólico. Impõe-se o político, a procura da boa sociedade, a procura do justo. A procura da justiça, não apenas como justiça comutativa, mas a justiça nas suas perspectivas ascendente e descendente, a justiça social ou geral e a justiça distributiva.
Retirado de Respublica, JAM