terça-feira, 25 de setembro de 2007

Essence (l’) de la Politique , 1965

Na senda de Schmitt, Julien Freund, em L'Essence du Politique, de 1965, procura também demonstrar que existe uma essência da política, porque o homem seria imediatamente um ser político, tal como é imediata e autonomamente um ser económico e um ser religioso. Haveria, aliás, seis essências originárias, que se compreendem em si mesmas, dado situarem-se todas no mesmo plano e não dependerem, cada uma delas, de qualquer outra: a política, a ciência, a economia, a arte, a ética e a religião, dado considerar que todas as essências são autónomas e que não existe entre elas uma relação de subordinação lógica ou de hierarquia necessária. A política seria, assim, uma essência no duplo sentido de que é, por um lado, uma das categorias fundamentais, constantes, desenraizáveis da natureza e da existência humana e,por outro lado, uma realidade que permanece idêntica a si própria. E isto porque a política é de natureza conflitual pela simples razão que não há política quando não há inimigo, até porque uma ideia pela qual ninguém luta é uma ideia morta. A política distinguir-se-ia, assim, da filosofia e da moral. Da filosofia, pelo facto de obedecer à lei do comando e da obediência e não à do professor e do discípulo; da moral, por esta consistir outra essência, uma não é o prolongamento, a efectivação ou o coroamento da outra. Seria, pois, caracterizada pelo encadeamento das dialécticas que os pressupostos comando/obediência, privado/público e amigo/ inimigo orientam. A política seria, então, a actividade social que tem como objectivo garantir, pela força, geralmente apoiada no direito, a segurança exterior e a concórdia interna de uma unidade política particular, salvaguardando a ordem no meio das lutas que têm origem na diversidade e divergência das opiniões e interesses. Para o mesmo autor a própria lógica da puissance obriga-nos a que seja potência e não impotência (...) toda a política que a ela renuncie, por fraqueza ou por legalismo, deixa de ser realmente uma política; deixa de preencher a sua função normal, pelo simples facto de se tornar incapaz de proteger os membros da colectividade que se encontram a seu cargo. Neste sentido considera que quando o Estado deixa de ser político desaparece a instância mas permanece a substância, algo flutuante, pelo que os grupos de pressão tendem a substituir-se ao Estado e a ocupar-lhe o espaço. Daí que domínios outrora neutros e metapolíticos, como a religião, a cultura, a arte e a economia, tendam a ser o novo lugar da política.


Retirado de Respublica, JAM