sábado, 20 de outubro de 2007

Método

Etimologicamente, significa o caminho para. De odos, caminho, a que se juntou o prefixo meta, significando depois. Em termos gerais, o caminho que se deve seguir para alcançar a verdade num domínio científico. Metodologia, é a ciência dos métodos, equivalente à epistemologia.

Método sempre quis dizer caminho, sempre foi um meio, um instrumento para se atingir o fim da verdadeira ciência: a inteligibilidade do real. Logo, se os fins não devem ser postos ao serviço dos meios, talvez o primeiro dos vícios científicos esteja naqueles que acabam por transformá-lo numa ideologia, dando prevalência ao método sobre o objecto. Quando dizemos que no princípio de cada ciência está o método, não podemos esquecer que o logos é anterior e superior ao método, que a ontologia é superior à metodologia, que a verdade, deve, em qualquer caso, prevalecer, como assinala Gadamer. As eternas perguntas sobre o como se caminha para a verdade (know how), essa ilusão teórica do conhecer o conhecimento, podem desviar-nos do próprio objecto que pretendemos analisar e, de tanto pensarmos o pensamento, podemos acabar por nem sequer pensar. Se dermos preponderância à pergunta do como, do knowing how, insistindo nas prescrições metodológicas, podemos desviar-nos das próprias coisas, esquecendo o knowing that, não respondendo à pergunta fundamental sobre o quê. Com efeito, no nosso tempo, as ciências sociais estão cercadas por um excesso de metodologismo, onde abundam as engenharias conceituais com muitos manuais cheios de instruções sobre a descoberta da verdade, que, muitas vezes, têm levado a que se coisifique o pensamento. Ora, a aprtir do momento em que se transforma o próprio pensamento numa simples coisa, está aberta a senda para a objectivização do sujeito e para a subjectivização do objecto.

Método axiomático-dedutivo

O método típico da matemática e da geometria que a partir do cartesianismo entrou em confronto com o método aristotélico. Também dito método racionalista, marcado pelo esprit geométrique. No tocante às ciências sociais, este método tende a hipostasiar o processo analítico que vai dos efeitos para as causas e a transformar as coisas sociais e políticas numa espécie de objecto maquinal. Decompõe os todos nas suas partes componentes; procede a uma análise exaustiva de cada um dos elementos integrantes desse todo; procura as respectivas leis de funcionamento; tende a reconstruir o todo pela soma das respectivas parcelas.

Método sociológico

Segundo Émile Durkheim, são as seguintes les règles de la méthode sociologique: o reconhecimento da existência de factos sociais, como maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo e que são dotadas de um poder de coerção que se lhe impõem; a exigência de considerar os factos sociais como coisas, destacadas dos sujeitos conscientes que os representam e susceptíveis do mesmo tratamento que os factos naturais, nomeadamente no tocante às relações de causalidade; e a necessidade de afastarmos sistematicamente as pré-noções.

Metodologia política

Um quarto campo da actual ciência política tem a ver com as questões metodológicas, desde a análise terminológica dos conceitos, ao problema da própria linguagem. Se, por um lado, importa analisar os métodos qualitativos (ver, sobretudo W. Crotty, Political Science. Looking to the Future [1991]) , também não deve perder-se de vista todo o espaço dos métodos quantitativos.

A descoberta das grandes linhas metodológicas pode referenciar-se, em primeira linha, nos grandes balanços sobre o estado da arte. Assim, depois do relatório da UNESCO, La Science Politique Contemporaine. Contribution à la Recherche, à la Méthode et l’Enseignement, de 1950, há que referir os trabalhos de C. B. MacPherson [1954], William ª Robson [1955], Dwight Waldo [1956], William James MacKenzie [1967, 1970 e 1972], Marcel Prélot [1969] e Paul Ricoeur [1978]. A partir de então, surgiram vários estudos e relatórios sobre as origens, o desenvolvimento e o estado da disciplina.

Na perspectiva anglo-saxónica, refiram-se:

. Stanley H. Hoffmann [Hoffmann, Stanley H., «Tendances de la Science Politique aux États Unis», in Revue Française de Science Politique, pp. 913 segs., Paris, Presses de la Fondation Nationale des Sciences Politiques/CERI, 1957];

. Bernard Crick [Crick, Bernard, The American Science of Politics. Its Origins and Conditions, Berkeley, University of California Press, 1959. ];

. Albert Somit e Joseph Tanehaus [Somit, Albert, Tanenhaus, Joseph, American Political Science. A Profile of a Discipline, Nova York, Atherton Press, 1964;

. Tanenhaus, Joseph, The Development of American Political Science, Boston, Allyn & Beacon, 1967. ];

. David B. Truman [1965], Karl Deutsch [1966], M. D. Irish [1968], Preston King [1975], Ada Finifter [1983 e 1993], D. M. Ricci [1984], David Easton [1985] e Gabriel Almond [1990].

Em França, são de assinalar os de Georges Lavau [1956 e 1969], Marcel Prélot [1956-1957], François-Michel Bourricaud [1958], Jean Myriat [1960], Maurice Duverger [1965], Jean Leca [1982] e Pierre Favre [1982].

No tocante a outros países, mencionam-se Norberto Bobbio [1969] e Kastendiek [1987].

Mesmo quanto a Portugal, são marcantes os contributos de Maria José Stock [1984], Manuel Braga da Cruz e Manuel de Lucena [1985], Marcelo Rebelo de Sousa [1989], Nuno Rogeiro [1993], a que se soma o nosso relatório de concurso para professor associado de 1993, publicado em 1994, com o título Sobre a Ciência Política.

Nos ensaios sobre introdução à política, podemos também perspectivar as principais opções nesse domínio. E, aqui, refiram-se Anderson, Rodde e Christo [1957], Meynaud [1959], Duverger [1964], Jean-Yves Calvez [1967], Guild e Palmer [1968], Abendroth e Lenk [1968], Jean-Pierre Lassalle [1969], Mitchell [1969], Abcarian e Masannat [1970], Haas e Kariel [1970], Althoff e Rush [1971], Raymond Polin [1971], º H. Ibele [1971], Chemillier-Gendreau e C. Courvoisier [1971], David Everson e Popard Paine [1973], Bernstein e Deyer [1979], Leon Hurwitz [1979], Debbasch e Pontier [1982], Patrick de Loubier [1983], Philippe Braud [1984], John Schrems [1986], García Cotarello e Paniagua Soto [1987], Philippe Bénéton [1987], Alan Isaak [1987], Martin Marger [1987], Harmon Zeigler [1990], Jean-Luc Chabot [1991], James Danzinger [1991], Winter e Bellows [1992], Kay Lawson [1993], Gamble, Redenius e Weber [1992, 2ª ed. ], Breslin, Hague e Harrop [1992], Jean Baudouin [1992], Ponton e Gill [1993], Leslie Lipson [1993, 9ª ed. ], Ethridge e Handelman [1994], Howlett e Laycock [1994], Vernon Van Dike [1995], Robert Heneman [1995], Kenneth Minogue [1995], Richard Cole [1995], Dominique Chagnollaud [1996].

Não faltam sequer, em português, as tentativas de Fernando Luso Soares [1975], Francisco Lucas Pires [1978], Marques Bessa e Nogueira Pinto [1978], e Vitalino Canas [1992].

A literatura sobre a metodologia na ciência política abunda, com destaque para Burdeau [1959], Duverger [1959], Grawitz [1964], Meehan [1965], Crotty [1968, 1969 e 1991], Isaak [1969], Etzioni [1970], Holt e Turner [1970], Landau [1972], Mayer [1972], Garson [1976], Giddens [1976], Smelser [1976], Feyerabend [1979], Bernstein e Deyer [1979], Ragin [1987], Jones [1995], Marsh [1995], Olson [1995] e Stoker [1995].

Metodologismo.

O exagero de teorias sobre o método, resultantes da intersecção do cientismo positivista com o hegelianismo que levam à predominância do know how sobre o know that. O método, a procura do conhecer o conhecimento, transforma-se numa ideologia, como acontece com o estruturalismo sistemista e em muitos devaneios do neo-marxismo. Dá-se assim a prevalência do método sobre o objecto e este modelo de pensamento transformou-se na medida de todas as coisas...

Métodos quantitativos

Sobre os métodos quantitativos nos domínios da ciência política, importa consultar Champney [1995]. Sobre a metodologia em geral, também neste domínio, são já clássicas as obras de Crotty [1969], Isaak [1969], Holt e Turner [1970], Landau [1972] e Mayer [1972].

Metodenstreit


O mesmo que conflito sobre o método. Polémica desencadeada a partir de 1880, quando os teóricos neokantianos consideraram que a vida humana era insusceptível de explicação causal, passando a defender-se a compreensão como o processo típico das ciências humanas, das Geisteswissenschaften, que não deveriam seguir os modelos analíticos das ciências da natureza, conformem defendiam positivistas. O positivismo lógico do Círculo de Viena voltou a defender a mesma unidade metodológica de todas as ciências.

Retirado de Respublica, JAM