terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
Movimento fundado por Lammenais, distinto do catolicismo revolucionário.
Retirado de Respublica, JAM
Catolicismo revolucionário
Movimento político francês fundado por Buchez, que se distinguia do catolicismo social de Lammenais.
Retirado de Respublica, JAM
Publicado por Zé Rodrigo às 10:34:00 da tarde
Categorias temáticas: Para uma História das Ideias Políticas (de A a Z)
Categoria
Do gr. kategoria. Classe de objectos da mesma natureza ou classe de ideias. Aristóteles considerava a c. como cada um dos géneros mais gerais onde se colocam os objectos do pensamento. Inventaria dez categorias ou modos de ser (substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posição, posse, fazer e continuar), pela referência às quais, qualquer coisa individual pode ser discutida. Os lógicos medievais vão apenas utilizar as primeiras quatro. Para Eric Weil, o princípio organizador do discurso particular que desenvolve os conceitos (as categorias particulares) dum domínio.
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Catecismo Revolucionário 1869
Obra escrita por Netchaev e Bakunine, na Suíça. Impressa em cifra, em carácteres latinos. Aí se declara que o revolucionário é um indivíduo marcado. Não tem interesses nem sentimentos pessoais, nem laços, nada que lhe seja particular, nem sequer o nome. Tudo nele é absorvido com vista a um único interesse, a um único pensamento, a uma única paixão: a Revolução. Netchaev levou à prática estas respectivas teorias, constituindo no Outono de 1869, em Moscovo, o grupo terrorista Narodnaya rasprava, organizado segundo o modelo de uma federação hierarquizada de células de cinco elementos.
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Catarse
Do gr. katharsis. O mesmo que purga, expressão que em sentido figurado significa libertação. Utilizada pela linguagem freudiana. O eliminar de emoções destrutivas, através da apreciação de uma experiência estética.
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Catalunha
(Catalunya) O nome vem-lhe dos visigodos, Gothalonia; ocupada pelos árabes em 720, foi, desde finais do século VIII, reconquistada pelos francos de Carlos Magno, passando a marca dentro do império franco; os finais do século X os condes da Catalunha, tornam-se independentes e resistem aos mouros. A Catalunha, juntamente com Aragão, nos séculos XII e XIII, chegou a constituir uma entidade política, incluindo as Baleares e Valência, que, nos séculos XIV e XV, chegou a estender-se à Sicília e à Sardenha, quando os catalães se assumiam como a primeira potência mediterrânica e até arrancaram ao império bizantino o ducado de Atenas. A partir de 1472 sucumbe ao unitarismo castelhano, apesar da frustrada revolta de 1640, contra Filipe IV, e da tentativa de apoio aos exércitos franceses na Guerra da Sucessão de Espanha. Em 1714, os Bourbons retiram-lhe os últimos privilégios. No século XIX a Catalunha renasce como nação cultural, por influxo do romantismo catalanista. Com a Esquerra republicana, em 14 de Abril de 1931, chega a proclamar-se uma República Catalã; em 1932 é criação da Generalitat de Catalunya; em Outubro de 1977, Tarradellas voltava à generalitat. Em Outubro de 1979, através de referendo, regressava-se à autonomia, ratificada pelas Cortes de Madrid em 11 de Janeiro de 1980; em 20 de Março de 1980 já era eleito o novo parlamento catalão e emergia o novo líder Jordi Pujol com a Convergência e União.
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Cataláxia
Hayek considera a existência de uma espécie de kosmos do mercado, orientado pela cataláxia, pela troca permanente de informação através da qual os objectivos dos indivíduos se ajustariam espontaneamente uns aos outros, pelo que qualquer intervenção do Estado nesse domínio introduz, com efeito, uma desordem em sentido cibernético nessa ordem auto‑regulada. O Estado, assim, apenas poderia criar o quadro jurídico a partir do qual é possível a difusão máxima da informação no seio da sociedade.JAM
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Castro, Josué de (1908-1973)
Professor de geografia humana no Rio de Janeiro desde 1939. Presidente da FAO de 1952 a 1956. Deputado desde 1955. Privado de direitos políticos em 1964.
·Geografia da Fome
1ª ed. De 1946. Brasília Editora, 1970
·Geopolítica da Fome
1951
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Castro, Fidel n. 1926
Político cubano. Educado pelos jesuítas e licenciado em direito. Ataca o quartel de Moncada em 26 de Julho de 1953. Amnistiado em 1954, refugia-se no México. Desembarca em Cuba em 2 de Dezembro de 1956 e inicia a guerrilha na Sierra Maestra. Até Maio de 1956, o grupo sobrevive e instala-se. De Junho a Novembro de 1957, o grupo rebelde, constituído apenas por uma centena de homens, conquista a Sierra. Até Março de 1958 o Exército Rebelde, unido e cresecndo, passa da guerra de guerrilhas à guerra de colunas. Em 9 de Abril de 1958 fracassa a greve geral, pelo que o movimento urbano rebelde passa a subordinar-se cada vez mais aos guerrilheiros da Serra, contra a qual Batista decide lançar uma ofensiva. A partir de Julho de 1958, fracassada a ofensiva de batista, os rebeldes ocupam a parte oriental da ilha e lançam a sublevação geral. Os comunistas aderem ao movimento apenas em Outubro desse ano. Surgem várias colunas rebedes, dos campos para as pequenas cidades, das cidades para as capitais de província e de Havana por estas, num processo em espiral. O chamado foquismo triunfava. Battista foge no dia 1 de Janeiro de 1959 e Castro torna-se primeiro ministro em Fevereiro. Em 13 de Janeiro desse ano declara: nem eu, nem o movimento são comunistas. Dois anos depois, em 2 de Dezembro de 1961, já proclama: serei marxista-leninista até ao último dia da minha vida.
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Casta
Palavra universal de origem portuguesa, a partir do lat. castus. Grupo social fechado que pratica a endogamia. É o modelo praticado na sociedade hindu. Em sentido amplo, diz-se de modelos hierárquicos que dividem a sociedade em grupos superiores, os puros, e grupos inferiores, os impuros, com a proibição dos casamentos mistos e a própria divisão de trabalho. Segundo Bouglé o sistema de castas implica três coisas: especialização hereditária. organização hierárquica e repulsa mútua. Na Índia, a casta superior dos bramânes tem o monopólio da oração e do sacrifício. Na base estão os párias ou intocáveis (porque estão excluídos dos rituais sociais que permitem a purificação). Entre as duas, há os guerreiros e os comerciantes. A hierarquia não assenta no poder, mas na relação de distância ou de proximidade face a um valor. Uma casta está situada numa posição cimeira da hierarquia não pelo facto de obter obediência das outras, mas porque está mais próxima de um determinado valor (no caso indiano, a casta cimeira é a que está mais distante da impureza da vida animal). Neste sistema não existe o indivíduo como valor.
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Cassirer, Ernst (1874-1945)
Alemão de origem judaica, nascido em Wroclaw. Estuda em Marburgo, com Hermann Cohen e Paul Natorp. Professor em Berlim, desde 1906, e em Hamburgo, entre 1919 e 1930. Reitor desta Universidade em 1929-1930. Depois da ascensão de Hitler ao poder vai para o exílio, ensinando nas Universidades de Oxford (1933-1935) e Gotemburgo, na Suécia. Emigra para os Estados Unidos e ensina em Yale (1941-1944) e na Columbia University de Nova Iorque (1944-1945). Neokantiano, criador da chamada filosofia das formas simbólicas.
Unidade das formas simbólicas
Assume-se contra a dualismo de Windelband, que opunha as ciências nomotéticas às ciências idiográficas, propondo a unidade das formas simbólicas, entendidas como representações activas do mundo e não como imagens passivas (v. g. o mito, a linguagem verbal e numérica, a arte). Elas são considerados os meios característicos criados pelo homem para separar-se do mundo. Mas, através desta separação, o homem acaba por unir-se mais firmemente ao mundo.
Assume-se contra a dualismo de Windelband, que opunha as ciências nomotéticas às ciências idiográficas, propondo a unidade das formas simbólicas, entendidas como representações activas do mundo e não como imagens passivas (v. g. o mito, a linguagem verbal e numérica, a arte). Elas são considerados os meios característicos criados pelo homem para separar-se do mundo. Mas, através desta separação, o homem acaba por unir-se mais firmemente ao mundo.
Forma como abstracção ideante
Considera, assim, que o princípio constitutivo das ciências da cultura não deve ser procurado nos valores, mas sim na forma, considerada como uma unidade na orientação, não uma unidade no ser, isto é, uma abstracção ideante e não como conceito.
As ciências da cultura
Considera que o princípio constitutivo das ciências da cultura não deve ser procurado nos valores, mas sim na forma, considerada como uma unidade na orientação, não uma unidade no ser, isto é, como uma abstracção ideante e não como conceito. A cultura é vista como um mundo intersubjectivo: o homem vive nas palavras da linguagem, nas imagens da poesia e das artes plásticas, nas formas da música, nos quadros forjados pela imaginação e pela fé religiosa. Porque necessita de representar imaginariamente algo que não existe para poder passar da possibilidade à realidade, da potência ao acto.
Considera que o princípio constitutivo das ciências da cultura não deve ser procurado nos valores, mas sim na forma, considerada como uma unidade na orientação, não uma unidade no ser, isto é, como uma abstracção ideante e não como conceito. A cultura é vista como um mundo intersubjectivo: o homem vive nas palavras da linguagem, nas imagens da poesia e das artes plásticas, nas formas da música, nos quadros forjados pela imaginação e pela fé religiosa. Porque necessita de representar imaginariamente algo que não existe para poder passar da possibilidade à realidade, da potência ao acto.
O símbolo
O símbolo é que origina a cultura, incluindo entre as diversas actividades simbólicas, o mito, a linguagem, a arte e a historiografia. Se o naturalismo se preocupa com o ser e com a causa, eis que a filosofia das formas simbólicas deve preocupar-se com o devir e com a forma. As ciências da natureza determinam, as ciências da cultura caracterizam. E isto porque o fenómeno da cultura está carregado de significações que ultrapassam a coisa, pelo que o conhecimento só pode fazer-se por aproximações.
O símbolo é que origina a cultura, incluindo entre as diversas actividades simbólicas, o mito, a linguagem, a arte e a historiografia. Se o naturalismo se preocupa com o ser e com a causa, eis que a filosofia das formas simbólicas deve preocupar-se com o devir e com a forma. As ciências da natureza determinam, as ciências da cultura caracterizam. E isto porque o fenómeno da cultura está carregado de significações que ultrapassam a coisa, pelo que o conhecimento só pode fazer-se por aproximações.
Contra o positivismo
Neste sentido, proclama que a regra fundamental do positivismo consiste em afirmar que qualquer proposição, que não possa ser reduzida com o máximo rigor ao simples testemunho de um facto, não tem nenhum sentido real nem compreensível.
Neste sentido, proclama que a regra fundamental do positivismo consiste em afirmar que qualquer proposição, que não possa ser reduzida com o máximo rigor ao simples testemunho de um facto, não tem nenhum sentido real nem compreensível.
O nome e a essência
Observa que o nome e essência estão entre si numa relação recíproca e necessária: o nome não significa apenas, mas é a essência do objecto; a potência da coisa real está contida no nome.
Observa que o nome e essência estão entre si numa relação recíproca e necessária: o nome não significa apenas, mas é a essência do objecto; a potência da coisa real está contida no nome.
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Casa
Casa, apesar de significar domus, vem do lat. casa, choupana, habitação humilde, ao contrário de domus, a casa mais rica. Uma comunidade complexa, abarcando três tipos de relações: primeiro, a relação do homem e da mulher, para a conservação da espécie; segundo, a relação dos pais com os filhos, tendo em vista a sobrevivência e a educação destes; terceiro, a relação do chefe da casa, enquanto unidade económica, com os respectivos dependentes. O conceito de casa engloba, portanto, tanto o de comunidade familiar propriamente dita, a associação entre marido e mulher e entre o pai e os filhos, como o de comunidade económica, onde Aristóteles incluía a relação entre o senhor, ou o dono, e o escravo.
A primeira das comunidades que Aristóteles inventaria é a casa (oikos). Uma comunidade complexa, abarcando três tipos de relações: primeiro, a relação do homem e da mulher, para a conservação da espécie; segundo, a relação dos pais com os filhos, tendo em vista a sobrevivência e a educação destes; terceiro, a relação do chefe da casa, enquanto unidade económica, com os respectivos dependentes. O conceito de casa engloba, portanto, tanto o de comunidade familiar propriamente dita, a associação entre marido e mulher e entre o pai e os filhos, como o de comunidade económica, onde Aristóteles incluía a relação entre o senhor, ou o dono, e o escravo. Segundo as suas próprias palavras, a primeira união necessária é a de dois seres que são incapazes de existir um sem o outro: é o caso daquela que se estabelece entre o macho e a fêmea tendo em vista a procriação (... ) uma tendência natural para se deixar, depois de si, um ser semelhante a si. A segunda é a união daquela cuja natureza é a de mandar com aquele cuja natureza é a de ser mandado, tendo em vista a conservação em comum. A casa, ou família em sentido amplo, formou-se destas duas comunidades: do homem e da mulher, do senhor e do escravo. É uma comunidade constituída pela natureza para a satisfação das necessidades quotidianas, sendo constituída por aqueles que comem o mesmo pão ou que se aquecem com o mesmo fogo, como o próprio Aristóteles evoca, citando autores anteriores. A casa é assim entendida como uma sociedade mais ampla que a dos parentes biológicos, dado que nela também se incluem os escravos. E o mesmo Aristóteles, acentuando o carácter económico desta comunidade, não deixa de assinalar que, nas famílias pobres, em vez dos escravos, estão os bois.
A primeira das comunidades que Aristóteles inventaria é a casa (oikos). Uma comunidade complexa, abarcando três tipos de relações: primeiro, a relação do homem e da mulher, para a conservação da espécie; segundo, a relação dos pais com os filhos, tendo em vista a sobrevivência e a educação destes; terceiro, a relação do chefe da casa, enquanto unidade económica, com os respectivos dependentes. O conceito de casa engloba, portanto, tanto o de comunidade familiar propriamente dita, a associação entre marido e mulher e entre o pai e os filhos, como o de comunidade económica, onde Aristóteles incluía a relação entre o senhor, ou o dono, e o escravo. Segundo as suas próprias palavras, a primeira união necessária é a de dois seres que são incapazes de existir um sem o outro: é o caso daquela que se estabelece entre o macho e a fêmea tendo em vista a procriação (... ) uma tendência natural para se deixar, depois de si, um ser semelhante a si. A segunda é a união daquela cuja natureza é a de mandar com aquele cuja natureza é a de ser mandado, tendo em vista a conservação em comum. A casa, ou família em sentido amplo, formou-se destas duas comunidades: do homem e da mulher, do senhor e do escravo. É uma comunidade constituída pela natureza para a satisfação das necessidades quotidianas, sendo constituída por aqueles que comem o mesmo pão ou que se aquecem com o mesmo fogo, como o próprio Aristóteles evoca, citando autores anteriores. A casa é assim entendida como uma sociedade mais ampla que a dos parentes biológicos, dado que nela também se incluem os escravos. E o mesmo Aristóteles, acentuando o carácter económico desta comunidade, não deixa de assinalar que, nas famílias pobres, em vez dos escravos, estão os bois.
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Carvalho, Joaquim de (1892-1958)
Professor da Faculdade de Letras de Coimbra. Marcado pelo neokantismo de Marburgo, torna-se discípulo de Hermann Cohen e, como tal, judaizante. Estudioso do pensamento de Espinosa, assume-se como um dos mais importantes historiadores da cultura filosófica portuguesa. Um dos principais colaboradores da História de Portugal dita de Barcelos, coordenada por Damião Peres, onde subscreve análises sobre a evolução do liberalismo português do século XIX.
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Cartistas
Nome que passaram a tomar os antigos chamorros depois da Revolução de Setembro de 1836. A equipa chamorra, ligada ao Grande Oriente Lusitano, liderada por José da Silva Carvalho, com o setembrismo, entrou em compromisso com Palmela, até então acusado de conservador, e ligou-se intimamente ao paço, transformou-se no grupo cartista.
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Cartesianismo
Descartes, partindo do je pense donc je suis, lança a ilusão de nos tornarmos donos e senhores da natureza (nous rendre maîtres et possesseurs de la nature). Gera a separação entre o sujeito e o objecto, entre o homem e a natureza, levando a que, depois, com o idealismo alemão, tivessemos tentado reconciliar o homem com a natureza e o sujeito com o objecto.
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Carta de Paris para uma Nova Europa 1989
Os efeitos do ano 1989 vão, entretanto, fazer sentir-se de forma existencial no quotidiano dos europeus. Primeiro, a reunificação alemã, concretizada em 3 de Outubro. Depois, a tentativa de estabelecimento da casa comum europeia, principalmente com a reunião em Paris do CSCE, onde foi assinada a esperançosa Carta de Paris para uma Nova Europa (19 a 21 de Novembro). Isto é, quarenta anos depois do discurso do Salon de l'Horloge, modificava-se radicalmente o terreno em que assentara o projecto europeu. A Europa dos Seis da Mitteleuropa, que apenas visava um duradouro tratado de paz entre os tradicionais rivais das margens do Reno e os países que naturalmente sofriam com essas aventuras bélicas, depois dos sucessivos alargamentos, primeiro, à Grã-Bretanha, à Irlanda e à Dinamarca, e depois, à Grécia, a Portugal e à Espanha, reparava agora que apenas era parcela da Europa. O gradualismo anterior marcado pela firme intenção de recusa da política de hegemonia, deparava-se agora com o fulgor de uma Alemanha renascida que pactava directamente com Moscovo a retirada das forças soviéticas e que até tratava de reconhecer unilateralmente a Eslovénia e a Croácia, como sucedeu em 23 de Dezembro de 1991, dois dias antes da bandeira soviética ser arreada no Kremlin. Bem tenta Mitterrand proclamar a necessidade de uma confederação europeia com Moscovo, conforme ocorreu numa reunião em Praga com intelectuais europeus, em Junho de 1991. Mas é o próprio Havel que logo lhe responde, salientando que esse tipo de salto nunca pode ser concretizado sem a participação dos Estados-Unidos da América e do Canadá.
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Carta do Atlântico (1941)
Assinada em 14 de Agosto de 1941, na sequência da cimeira entre Roosevelt e Churchill, ao largo da Terra Nova, a bordo do Potomac. Nela foram fixadas as bases sobre as relações entre os Estados Unidos e o Reino Unido depois da guerra. Serviu depois como inspiração fundamental para a Carta da ONU. No art. VI desse documento, proclamava-se que depois da destruição final da tirania nazi, esperamos ver erguer-se no mundo um estado de paz, no qual todos possam viver sem guerra dentro dos limites das suas próprias fronteiras.
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Carreira política
Do lat. carrus, carro, caminho de um carro. Gradação hierárquica de cargos, implicando um cursus honorum, uma hierarquia de subida, com sucessivas honras, por etapas.
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Carolíngio, Império
O Império de Carlos Magno (768-814), com a capital em Aix-la-Chapelle abrangia os territórios das actuais Bélgica, Holanda, França, Alemanha ocidental, Áustria, norte de Itália e nordeste de Espanha; depois da morte de Carlos Magno, pelo tratado de Verdun (843), o império foi repartido entre os respectivos netos: Carlos o Calvo, ficou com a Gália a oete do Mosa e do Ródano, Luís, com a Germania e Lotário, com aquilo que se designará Lotaríngia, parte da Itália e da Gália, entre o Mosa e o Ródano, a oeste, e o Reno e os Alpes, a Leste.
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Carneiro, Francisco Lumbralles de Sá (1934-1980)
Francisco Lumbralles de Sá Carneiro. Natural do Porto. Licenciado em direito por Lisboa. Advogado no Porto. Deputado da União Nacional em 1969. Apresenta requerimento na Assembleia Nacional sobre os presos políticos. Em entrevista ao jornal República, em 16 de Abril de 1971, declara-se social-democrata. Em 26 de Janeiro de 1973, renuncia a deputado e começa a colaborar no semanário Expresso. Fundador do Partido Popular Democrático em 3 de Maio de 1974. Ministro do I Governo Provisório, e o elemeto do governo mais próximo de Palma Carlos. Figura central do processo político português da década de setenta. Marcado pelo modelo do catolicismo político, semeado pelo Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, assume-se como social democrata logo em 1972, quanto muitos viam nele o ponto de partida para o lançamento de um partido democrata-cristão. Desiludido com a experiência de colaboração com o marcelismo, enquanto deputado da ala liberal, transforma-se num dos quatro principais líderes políticos do Portugal revolucionário e pós-revolucionário, distinguindo-se, mais pelo estilo do que pela ideologia, tanto dos centristas de Diogo Freitas do Amaral, apoiado pelos democratas-cristãos e pelos conservadores europeus, como dos socialistas democráticos de inspiração marxista, liderados por Mário Soares e protegidos pela Internacional Socialista. Depois da experiência de dois governos constitucionais do PS, no primeiro monopartidário e no segundo com o apoio e a participação do CDS, Sá Carneiro assume uma jogada de risco, atacando frontalmente o PS e os modelos eanistas.
Retirado de Respublica, JAM
Carmona, António Óscar de Fragoso (1869-1951)
Figura central do processo do 28 de Maio e da Ditadura Nacional dele emergente. Nasce no seio de uma família de militares (o pai e o avô também chegaram a general). Alferes em 1894, Capitão em 1907, Coronel em 1919, General em 1922. Maçon. Ministro da guerra no governo nacionalista de Ginestal Machado, de 15 de Novembro a 17 de Dezembro de 1923, por escolha do Exército. Segundo o depoimento de Cunha Leal, é como ministro que perde a virgindade política, quando, numa sessão da Câmara dos Deputados e perante um discurso exaltadamente oposicionista de José Domingues dos Santos, terá questionado: que fizeram àquele homem para estar tão zangado? Destaca-se como Promotor da Justiça do chamado julgamento da Sala do Risco dos implicados no golpe de 18 de Abril de 1925, proclamando que a Pátria está doente ... quando lá fora andam em liberdade os causadores dos males da Pátria, eu vejo aqui oficiais deste valor no banco dos réus. Nesta sequência é demitido em 1 de Outubro seguinte das funções de comandante da Quarta Região Militar. Adere ao movimento do 28 de Maio de 1926, dizendo querer lutar contra a tirania dos partidos. Ministro dos negócios estrangeiros de 3 de Junho a 6 de Julho de 1926. Presidente do ministério e ministro da guerra de 9 de Julho a 29 de Novembro de 1926, data em que passa a exercer as funções de Presidente da República interinamente. Presidente da República eleito de 1928 e 1951. Nas eleições presidenciais de 25 de Março de 1928, as segundas eleições presidenciais por sufrágio directo, conta com o apoio da União Liberal Republicana de Cunha leal e de parte do Partido Democrático. Depois de Gomes da Costa ter derrubado Mendes Cabeçadas, cabe a Carmona substituir o primeiro, aglutinando em seu torno o modelo de catch all daquilo que se designou a Revolução Nacional. Numa entrevista concedida a António Ferro em 1934, declara apenas ter votado no Plebiscito de 1933, que aprovou a nova Constituição, pelo facto de ter horror ao sufrágio universal, dado lembrar-se das falcatruas e das ciciqueiradas do carneiro com batatas desde os tempos da monarquia liberal. Apesar de estar proximo da ala maçónica do 28 de Maio apoia a subida e consolidação no poder de Salazar, bem como a transformação da Ditadura Nacional no Estado Novo. A partir de meados dos anos quarenta permite que alguns oposicionistas instrumentalizem o seu eventual distanciamente face a Salazar. Com efeito, Carmona assume-se como uma fundamental reserva de legitimidade da fase inicial do Estado Novo, tanto pela legitimidade revolucionária (era um dos primeiros três lideres militares do Movimento do 28 de Maio), como pelo facto de ter sido, depois de Sidónio Pais, um Presidente da República eleito por sufrágio directo e quase universal, além de ser portador da caução do chefe militar, um perfil de legitimidade pretoriano que constitui uma espécie de sucedâneo da monarquia das ordens.
Retirado de Respublica, JAM
D. Carlota Joaquina (1775-1830)
Filha de Carlos IV, rei de Espanha e irmã de Fernando VII. Casa com D. João em 8 de Maio de 1785. Mãe de D. Pedro IV e D. Miguel, reis de Portugal. Lidera em Portugal o chamado partido apostólico, o partido do Ramalhão. Figura controversa, sempre em conflito com o marido e naturalmente ligada aos interesses de Madrid. Já no Brasil esboça uma tentativa de revolta contra as independências das antigas possessões espanholas. De regresso a Lisboa, encabeça a linha mais reaccionária do antiliberalismo, ligada ao Cardeal Cunha, patriarca de Lisboa e tendo como sustentáculo o grupo dos Silveiras de Trás-os-Montes, para além do Conde de Basto, instrumentalizando o Infante D. Miguel. Chega então a falar-se no partido do Ramalhão, palácio onde residia, e que se opunha ao partido da Bemposta, onde vivia separadamente D. João VI. Recusa jurar a Constituição de 1822. Inspira os golpes da Vilafrancada (1823) e da Abrilada (1824). Morre em 7 de Janeiro de 1830, não chegando a assistir à derrota de D. Miguel.
Retirado de Respublica, JAM
Carlos, Adelino da Palma (1905-1992)
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa. Foi bastonário da Ordem dos Advogados. Maçon e destacado republicano histórico, opositor do Estado Novo. Fundador da Liga da Mociedade Republicana em 1923, juntamente com José Rodrigues Miguéis e Carlos Mayer Garção. Conclui a licenciatura em 1926. Participa na revolta de 3 e 7 de Fevereiro de 1927. Assistente do Instituto de Criminologia de Lisboa em 1930. Doutorado em 1934, com uma dissertação intitulada Os Novos Aspectos do Direito Penal. Ensaio sobre a Organização de um Código de Defesa Social. Concorre a professor em 1935, mas não é admitido por razões políticas. Defensor de vários presos políticos nos anos trinta. Mandatário de Norton de Matos em 1949. Bastonário da Ordem dos Advogados de 1950 a 1956. Contratado para professor da Faculdade de Direito de Lisboa em 1951. Faz os concursos para professor extraordinário e catedrático em 1957 e 1958. Administrador da Companhia Reunida de Gás e Electricidade de Lisboa desde 1960. Director da Faculdade de Direito de Lisboa de 1965 a 1970. Presidente da Comissão Revisora do Código de Processo Civil em 1972. Procurador à Câmara Corporativa em 1954 e 1973, como representante da Ordem dos Advogados. Primeiro-ministro de 16 de Maio a 11 de Julho de 1974. Na carta de demissão que envia ao Spínola considera: sirvo melhor o meu País, afastando-me do cargo do que permanecendo nele. Refere o predomínio das paixões políticas e das ambições pessoais e diz: estou a lembrar-me a propósito da presente situação, de uma frase de Aristóteles: o homem aperfeiçoado pela sociedade é o melhor dos animais mas é o mais terrível quando vive sem justiça nem leis. Nessa altura recomhecia a existência de um clima de ódio e que a situação no Ultramar era dramática. Primeiro Reitor da Universidade Livre. Presidente das Selecções do Readers Digest de Portugal. Mandatário de Ramalho Eanes. Ver Helena Sanches Osório, Um Só Rosto, uma Só Fé. Conversas com Adelino da Palma Carlos, Lisboa, Referendo, 1988.
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Carisma
O mesmo que dom da graça divina. Uma qualidade excepcional, real ou imaginária, possuída por um indivíduo isolado, qualidade por ele instrumentalizada para assumir uma liderança política. Tema introduzido por Ernst Troeltsch e retomado por Max Weber que a define como uma qualidade pessoal considerada extra-quotidiana (... ) e em virtude da qual se atribuem a uma pessoa poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanos ou, pelo menos, extra-quotidianos específicos ou então se a toma como enviada por Deus, como exemplar e, portanto, como líder. Contudo, o mesmo Weber salienta que uma das formas de legitimidade carismática aparece na democracia de líderes, com um demagogo a aproveitar-se da democracia plebiscitária, surgindo uma legitimidade carismática oculta sob a forma de uma legitimidade que deriva da vontade dos governados.
Retirado de Respublica, JAM
Carbonários
http://www.maltez.info/respublica/Os carbonari nascem de uma sociedade secreta surgida em Nápoles entre 1807 e 1810 para lutarem contra a ocupação napoleónica. Organizam-se em grupos de 20 homem, as chamadas vendas que se submetem a uma Venda Suprema. mantêm-se depois de 1815, lutando contra a Santa Aliança, promovendo a revolta de Nápoles de 1820. Passam a França, na luta contra a Restauração, sob o nome de charbonniers. Têm como chefe supremo Lafayette. Em Italia, a partir de 1831, são integrados na Jovem Europa de Mazzini.
Retirado de Respublica, JAM
Caracteres da Monarquia 1824
Obra do miguelista António Joaquim de Gouveia Pinto, tendo como subtítulo Expostos em rezumo, para o fim de mostrar ao mesmo tempo a preferencia, que ella merece entre as mais fórmas de Governo. O livro está dividido em três partes, ou três pontos de vista.
No 1º, aborda os caracteres antiguidade, independência, unidade, bondade e doação.
No 2º, liberdade, bens, justiça, prémios, literatura e homens grandes.
No 3º, que o trono seja hereditário; que o poder do legislador seja absoluto; que se respeitem as leis antigas virtudes. (Lisboa, 1824) (cfr. reed., Lisboa, Pro Domo, 1944, com pref. de Fernando Aguiar).
Prefácio de Fernando Aguiar, à obra de Gouveia Pinto, Os Caracteres da Monarquia, onde se considera que a monarquia portuguesa "foi sempre uma monarquia do tipo democracia social e cristã, governo do Rei e do Povo para o povo". Apoiando‑se em Jacques Maritain e Tristão de Athaíde, pseudónimo do filósofo brasileiro Alceu Amoroso Lima, faz uma crítica cerrada aos sistemas políticos então vigentes na Rússia e na Alemanha. Para ele são "dois totalitarismos muito manos politicamente, posto que economicamente separados neste momento e por questão de proveito individualista; em ambos, o interesse público sobrepõe‑se e até certo ponto elimina todo e qualquer interesse do homem considerado como pessoa". Partindo da classificação de Maritain, considera que a democracia pode ser entendida em três sentidos: como demofilia, o que se teria verificado em Portugal até ao século XVIII, como democracia política, "no sentido de Aristóteles e S. Tomás de Aquino a colher exemplo na antiga democracia helvética", e finalmente como "democratismo" ou "democracia chamada de Rousseau". Quanto à segunda, Aguiar considera que "a Igreja como a filosofia ainda a consideram como forma possível do governo, mas menos segura do que a primeira esta manifestação da democracia só nos é possível quando se deem certas condições de meio, clima, educação, civismo... " No tocante à terceira, cita Maritain que a considera como "o mito religioso da democracia, totalmente diverso do legítimo regime democrático" e que leva ao panteísmo político. Considera‑a, como Tristão de Ataíde, "o primado da política sobre a cultura".
Prefácio de Fernando Aguiar, à obra de Gouveia Pinto, Os Caracteres da Monarquia, onde se considera que a monarquia portuguesa "foi sempre uma monarquia do tipo democracia social e cristã, governo do Rei e do Povo para o povo". Apoiando‑se em Jacques Maritain e Tristão de Athaíde, pseudónimo do filósofo brasileiro Alceu Amoroso Lima, faz uma crítica cerrada aos sistemas políticos então vigentes na Rússia e na Alemanha. Para ele são "dois totalitarismos muito manos politicamente, posto que economicamente separados neste momento e por questão de proveito individualista; em ambos, o interesse público sobrepõe‑se e até certo ponto elimina todo e qualquer interesse do homem considerado como pessoa". Partindo da classificação de Maritain, considera que a democracia pode ser entendida em três sentidos: como demofilia, o que se teria verificado em Portugal até ao século XVIII, como democracia política, "no sentido de Aristóteles e S. Tomás de Aquino a colher exemplo na antiga democracia helvética", e finalmente como "democratismo" ou "democracia chamada de Rousseau". Quanto à segunda, Aguiar considera que "a Igreja como a filosofia ainda a consideram como forma possível do governo, mas menos segura do que a primeira esta manifestação da democracia só nos é possível quando se deem certas condições de meio, clima, educação, civismo... " No tocante à terceira, cita Maritain que a considera como "o mito religioso da democracia, totalmente diverso do legítimo regime democrático" e que leva ao panteísmo político. Considera‑a, como Tristão de Ataíde, "o primado da política sobre a cultura".
Retirado de Respublica, JAM
Carácter nacional português
Do gr. charactér, gravar, coisa gravada. Jorge Dias tentou ensaiar uma síntese da personalidade básica dos portugueses em Os Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa, Coimbra, 1955; Estudos do Carácter Nacional Português, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1960 ( há também uma edição do Centro de Estudos de Antropologia Cultural da Junta de Investigações do Ultramar, 1971) e O Carácter Nacional Português na Presente Conjuntura, in BAICP, nº 4, 1968, pp. 231-248.
Para ele, o homem português é:
1º- Um misto de sonhador e de homem de acção, ou melhor, um sonhador activo, a que não falta certo fundo prático e realista. É por isso mais idealista, emotivo e imaginativo do que homem de reflexão.
2º- Profundamente humano e sensível, amoroso e bondoso, sem ser fraco. Não gosta de fazer sofrer e evita conflitos, mas ferido no seu rgulho pode ser violento e cruel. A religiosidade apresenta o mesmo fundo humano peculiar do português. Não tem carácter abstracto, místico ou trágico próprio da espanhola, mas possui uma forte crença no milagre e nas soluções miraculosas.
3º-Tem vivo sentimento da natureza e um fiundo poético e contemplativo estático, faltando-lhe a exuberÅncia e alegria espontânea e ruidosa dos povos mediterrânicos.
4º-Individualista, com grande fundo de solidariedade humana.
5º-Não tem sentido de humor, mas é dotado dum forte espírito crítico e trocista e duma ironia pungente.
6º-Expansivo e dinâmico.
7º-Afectivo, bondoso e amoroso.
8º-Avesso às grandes abstracções e às grandes ideias que ultrapassam o sentido humano.
9º-Perante as grandezas e os mistérios da natureza que foram pouco a pouco descobrindo, nasceu nos portugueses uma atitude especial, não destituída dum certo fundo místico-naturalista, com tintas de panteísmo não filosófico.
Como refere o mesmo autor, na última obra citada, p. 244, para o português "o coração era a medida de todas as coisas", tal como para o alemão é a cultura, para o francês, a razão, e para a american way of life, o time is money. No português existiria "uma enorme plasticidade humana e invulgar sentido ecuménico" (p. 237), uma predisposição para "aceitar de maniera natural as chamadas culturas primitivas"(p. 238), marcada pelo princípio católico da renúncia aos bens terrestres como meio de alcançar a vida eterna (p. 239).
A perspectiva de Miguel de Unamuno.
Noutra perspectiva, Miguel de Unamuno considera que "o povo de Portugal é triste, mesmo quando sorri... É de suicidas o povo de Portugal, talvez ele seja um povo suicida. Para ele, a vida não tem sentido transcendente"( in Carta a Manuel Laranjeira de 1908, in De Fora para Dentro, Lisboa, Fernando Ribeiro de Mello/ Ediçoes Afrodite, 1973, p. 159). Noutro lugar, considera que "a mansidão, a meiguice portuguesa só se encontra à superfície; raspai-a e logo haveis de encontrara uma violência plebeia que chegará a assustar-nos" (in Por Tierras de Portugal y España, 1908, op. loc., cit., p. 167), concluindo que "o português é constitucionalmente um pessimista"(id. p. 171).
Noutra perspectiva, Miguel de Unamuno considera que "o povo de Portugal é triste, mesmo quando sorri... É de suicidas o povo de Portugal, talvez ele seja um povo suicida. Para ele, a vida não tem sentido transcendente"( in Carta a Manuel Laranjeira de 1908, in De Fora para Dentro, Lisboa, Fernando Ribeiro de Mello/ Ediçoes Afrodite, 1973, p. 159). Noutro lugar, considera que "a mansidão, a meiguice portuguesa só se encontra à superfície; raspai-a e logo haveis de encontrara uma violência plebeia que chegará a assustar-nos" (in Por Tierras de Portugal y España, 1908, op. loc., cit., p. 167), concluindo que "o português é constitucionalmente um pessimista"(id. p. 171).
Retirado de Respublica, JAM
Caraça, Bento de Jesus (1901-1948)
Matemático e catedrático do ISCEF. Politicamente próximo do PCP, marca a oposição portuguesa nas décadas de trinta e quarenta. Inspira o projecto de Universidade Popular Portuguesa e lança a Biblioteca Cosmos em 1941. Impulsiona a Liga Portuguesa contra a Guerra e o Fascismo e participa no MUNAF e no MUD. Preso em Setembro de 1946 é um dos professores então dmeitido.
Retirado de Respublica, JAM
Capitalismo ou Comunismo? Resposta da Sociologia Cristã, 1954
Obra de Francisco Inácio Pereira dos Santos, onde se considera que o homem é um corpo vitalizado por um espírito, servido por um corpo que é parte essencial de todo o ser humano, uma pessoa criada por Deus à sua imagem e semelhança. Critica-se o liberalismo económico e o mito do progresso ilimitado, mutilador do homem, porque ambos se insurgiram contra a antiga concepção teocrática e dissociando o natural do sobrenatural, a natureza da Graça, a razão da Revelação, o político e o económico dos ditames morais e da influência religiosa. Recorda, para o efeito, que a metafísica precedeu a astronomia e esta precedeu a física e considera-se a primazia da técnica como o velho sonho dos insensatos construtores da Torre de Babel.
Retirado de Respublica, JAM
Capitalismo, Catolicismo, Protestantismo, 1933
Amintore Fanfani considera que a emergência do Estado moderno actuou a favor do capitalismo, sendo ambos dois produtos do racionalismo: o ideal racionalista levou à aspiração de transformar todo o Estado numa república democrática onde o comércio fosse Deus. O Estado fomentou a criação de um mercado nacional e levou à unificação do direito, gerou sistemas uniformes de medidas, desenvolveu as vias de comunicação, as indústrias militares, as obras públicas e a própria educação (trad. port. de Osvaldo de Aguiar, Lisboa, Aster, s. d. ).
Retirado de Respublica, JAM
Capitalism, Socialism and Democracy, 1942
A obra de Joseph Schumpeter divide-se em quatro partes: a doutrina marxista; interrogação sobre a sobrevivência do capitalismo; interrogação sobre o funcionamento do socialismo; socialismo e democracia. (Nova York, Harper & Row, 1942; trad. fr. Capitalisme, Socialisme et Démocratie, Paris, Librairie Payot, 1969).
Retirado de Respublica, JAM
Caos
O mesmo que desordem, o equivalente ao negativo, a que se seguiu o cosmos, a ordem, o equivalente ao positivo. Porque, no princípio esteve o caos, o grande vazio, o grande buraco negro, o espaço vazio cheio de trevas, como diziam os gregos, de Hesíodo a Aristóteles, essa desordem inicial, equivalente ao negativo, a que se seguiu o cosmos, o equivalente ao positivo. De acordo com a mitologia grega, o caos são as trevas do mundo, donde surgiu a Noite que se transforma numa imensa esfera. Esta, dividindo-se em duas metades, abre-se em forma de concha, daí desabrochando o Amor (Eros) que garante a coesão universal. Uma das metades forma a abóbada do Céu (Urano) e a outra o disco da Terra (Geia). Da união entre estas duas metades nascem depois seis Titãs e seis Titânides, as forças elementares, das quais se destacam Oceano, a água, Témis, o equilíbrio eterno da lei, Mnémosine, a memória enquanto poder do espírito, e Crono. Este último, que vai matar o pai, tem um filho, Zeus, que vai tendo várias esposas, entre as quais Témis, e desta união vai nascer Irene, a paz, Eunómia, a disciplina, e Dike, a Justiça. Continuando a aplicar a ideia de Caos ao ao mundo do direito, saliente-se que não existe nenhuma sociedade onde todas as regras sejam espontaneamente cumpridas. Utilizando a terminologia de Georges Burdeau, importa salientar que para qualquer agrupamento humano passar do caos ao cosmos é necessária a institucionalização de um poder que, misturando a força com a ideia, seja capaz de premiar quem o merece e de punir o prevaricador.
Retirado de Respublica, JAM
Candidatura
Do latim candidus, o que tem cor branca. Deriva do facto de em Roma os que pretendiam ser eleitos para um determinado cargo andarem vestidos de branco, com uma toga candida. Plutarco observa que nem mesmo lhes era lícito usarem outras roupas, a fim de se evitar que, trazendo dinheiro, comprassem votos, e até para poderem mostrar as cicatrizes que tinham no corpo, dos ferimentos de guerra.
Retirado de Respublica, JAM
Canadá
(Dominion of Canada) 9 970 610 km2. O Estado mais vasto do mundo depois da Rússia. 29 900 000 habitantes, um quarto dos quais de língua francesa e três quartos de fala inglesa, mas apenas com 33% de origem britânica. Começa a partir da Nouvelle France, nome dado em 1524 pelo navegador italiano Florentin Giovanni Verrazzano, ao serviço do rei de França. Dez anos depois é reforçada a presença deste país com as viagens de Jacques Cartier. Em 1608 é fundada a colónia francesa no Quebeque. Em 1611 chegam os jesuítas franceses, não sendo autorizada a entrada de protestantes. Em 1627 Richelieu funda uma Companhia que fracassa, levando a que Colbert em 1663 transforme o território numa província de França que em 1682 funda também a Louisiana. Em 1760 a Nova França passa para o domínio britânico, depois da guerra dos Sete Anos. Em 1763 é garantida a liberdade religiosa aos católicos. As perseguições religiosas levadas a cabo pela Revolução Francesa, fazem com que os católicos canadianos de origem francesa alinhem desde então num rígido lealismo face à coroa britânica. Na guerra da independência norte-americana, entre 1775 e 1783, não alinham com os Insurgents. O mesmo se passa na guerra de 1813-1814, onde voltam a não alinhar com os franceses. Em 24 de Maio de 1867 surge a Confedração da América do Norte Britânica, formalizando-se o Dominion of Canada, aperfeiçoado em 1931 com o Estatuto de Westminster.
Camus, Albert (1913-1960)
Escritor e filósofo francês. Membro do Partido Comunista de 1922 a 1937. Destacado militante da resistência e colaborador de Combat. Prémio Nobel da literatura em 1947. Logo em 1943 publicou as célebrea Cartas a um Amigo Alemão, em nome, não de um francês, mas sim de nós, europeus livres. Existencialista francês, célebre como romancista, mas também filósofo e teórico político, sobretudo em L’Homme Révolté, de 1951. Natural de Argel, provém da classe operária. Membro activo da Resistência desde 1940, no pós-guerra distancia-se dos existencialistas ligados ao marxismio, como Sartre, Simone Beauvoir e Merleau-Ponty. Morre em acidente de viação em 1960, diatante da esquerda e da direita.
Retirado de Respublica, JAM
Campos, João Mota de (n. 1927)
Jurista e político português, doutoramento de Estado por Estrasburgo e professor catedrático do ISCSP e da Universidade Católica. Foi secretário de Estado da Agricultura e ministro do planeamento nos governos de Oliveira Salazar e Marcello Caetano. Nestas últimas funções, foi o organizador do inaplicado IV Plano de Fomento português. De 1968 a 1973 foi presidente da Comissão de Planeamento da Região Norte. Transforma-se depois de 1974 no principal especialista português em direito comunitário. Adere ao CDS, candidatando-se a deputado por Leiria, sob a presidência de Adriano Moreira.
Retirado de Respublica, JAM
Campos, Ezequiel de (1874-1965)
Engenheiro pela Politécnica do Porto. Professor do Instituto Superior do Comércio e da Faculdade de Engenharia do Porto. Começa a carreira profissional como engenheiro de obras públicas em S. Tomé, de 1899 a 1911. Deputado à Constituinte de 1911. Ministro da agricultura no governo de José Domingues dos Santos, de 22 de Novembro de 1924 a 15 de Fevereiro de 1925. Era a novidade na equipa deste governo do cartel das esquerdas à portuguesa, trazendo Sarmento Pimental como chefe de gabinete. Assim, em 17 de Janeiro chega a apresentar uma proposta de lei de organização rural. Se A Batalha a considera como burguesa e comedida, ela sofre ataques de Nemo em A Época. Nela se previa o parcelamento das grandes propriedades agrícolas do Centro e do Sul, visando a constituição, em regime de propriedade privada, de unidades familiares. Em 4 de Fevereiro, no Senado, Ezequiel afirma que o problema de irrigação no Alentejo podia resolver-se com 250 000 libras tanto quanto custava sustentar meia dúzia de revolucionários civis, numa referência aos subsídios oficiais aos revoltosos do 5 de Outubro. Profundo crítico do controlo estadual das subsistências, já em 26 de Setembro de 1923, escrevia n’ O Primeiro de Janeiro: o governo pôs tabelas a tudo; andou a farejar os negócios ilícitos; proibiu o jogo; e fez o pão político. Mas a vida teimou em encarecer, a libra a subir em escudos, e a gente em concorrer às festas e romarias, como nunca. Depois do 28 de Maio, foi nomeado ministro da agricultura e interino do comércio em 3 de Junho de 1926, mas nunca tomou posse. Colaborador da Seara Nova, vincula-se ao salazarismo, sendo o precursor do lançamento das barragens hidro-eléctricas. Procurador à Câmara Corporativa logo em 1935. Ver João Conde Veiga, Ezequiel de Campos. O Homem e a Obra, Porto, 1993.
Retirado de Respublica, JAM
Campo político
Conceito de Pierre Bourdieu. Um espaço multidimensional que tanto é um campo de forças, como um campo de lutas simbólicas, onde há um conjunto de relações de forças objectivas, um espaço de relações, por um lado, e um conjunto de lutas simbólicas entre as próprias concepções do mundo e da vida: é o lugar de uma concorrência pelo poder que se faz por intermédio de uma concorrência pelo monopólio do direito de falar e de agir em nome de uma parte ou da totalidade dos profanos e em política, 'dizer é fazer', quer dizer, fazer crer que se pode fazer o que se diz e, em particular, dar a conhecer e fazer reconhecer os princípios de di‑ visão do mundo social, as palavras de ordem que produzem a sua própria verificação ao produzirem grupos e, deste modo, uma ordem social.
Retirado de Respublica, JAM
Campanha
Luta desencadeada num campo aberto. Termo de origem militar, denotando um empreendimento sistematicamente organizado para extirpar algo considerado um mal para o bem público. Em termos militares, designam-se como tal as séries de operações militares de um ou mais corpos que se movimentam para o assalto a posições inimigas.
Retirado de Respublica, JAM
Campanella, Tommaso (1568-1639)
Dominicano da Calábria, autor de Città del Sole, escrita em 1602, onde descreve uma república filosófica, governada por um príncipe-sacerdote, dito Sol ou Metafísico, eleito com base na sabedoria. Nessa obra, proclama que o amor deve combater e vencer todas as formas de divisão, de dispersão, de oposição, defendendo a necessidade da humanidade (... ) formar uma monarquia universal, governada por um chefe único, simultaneamente rei e sacerdote, assim se reencontrando o estado primitivo, natural e divino. Campanella, mais célebre do que conhecido, conforme as justas palavras de Giovanni Gentile, é um desses típicos pensadores de encruzilhada. Seguindo os ditames da unidade do género humano, debaixo de um só poder político-religioso, ele que acreditava ser a religião a alma da política, escreve também Monarchia di Spagna, em 1593-1595, numa primeira versão, depois revista em 1598-1599, Aforismi Politici, de 1601, Monarchia del Messia, de 1605, e Monarchia delle Nazioni, de 1635. Em Monarchia di Spagna, defende a unificação da humanidade debaixo da monarquia espanhola, mas com o primado político do Papa, dado considerar aquela como um braço secular, principalmente armado, ao serviço de um monarca-Pontífice, este sim o verdadeiro monarca universal do mundo, dotado de um principato assoluto a se stesso sufficiente con l’uno e l’altro gladio. Já a Città del Sole é escrita quando estava detido numa prisão napolitana, entre 1599 e 1626, acusado de ter alinhado numa revolta contra o poder filipino, com o apoio dos próprios turcos (ver a trad. port., A Cidade do Sol, Lisboa, Guimarães, 1990). Depois, entre 1626 e 1629, passou para os cárceres do Santo Ofício em Roma. Entre 1629 e 1634 viveu, contudo, em liberdade, sob a protecção do papa Urbano VI, mas, a partir de 1634 e até 1639, refugiou-se em França, protegido por Luís XIII. Curiosamente, foi modificando o modelo salvacionista, dado que, ao passar para a prisão romana, substitui o Sol pelo Papa e voltou a elogiar a monarquia espanhola, para, depois de 1634, substituir a monarquia espanhola pela monarquia francesa, justificando tal atitude pela consideração que monarquia espanhola terá apenas servido de preâmbulo para outras nações poderem aderir à monarquia de Cristo. Eis uma obra que, segundo Gentile, está cheia de contrastes e contradições internas, que têm um significado histórico geral e iluminam todo o período de revolução espiritual que nele culmina, dando lugar a um drama individual que não tem somente um interesse biográfico, mas que nos dá a chave para compreender o seu pensamento. Se lermos as suas próprias palavras, veremos que a monarquia filipina tinha condições para assumir esse papel porque recebera a linha imperial da Casa de Áustria, descobrira o Novo Mundo, derrubara Portugal e tinha franceses e ingleses e alemães em estado de depressão (... ) por causa das suas repugnantes e falsas religiões. De qualquer maneira, importa salientar que as suas concepções talvez sejam o exacto contrário das de Maquiavel, filiando-se, sobretudo, em Platão. Como ele próprio observa, a suma da razão política que o nosso século anticristão chama razão de Estado consiste em que se valora mais a parte que o todo, e que o homem se valora a si mesmo mais que à espécie humana, mais que ao universo e mais que a Deus. Procurava uma teoria para a unidade do género humano, num crescendo comunitário que passava pela relação homem-mulher, pais-filhos, amos-criados, família, aldeia, cidade, província, reino, império, vários impérios sob o mesmo poder, até chegar-se ao estádio de todos os homens debaixo da espécie humana, onde o Estado era definido como comunidade e associação de muitos indivíduos governada por um poder superior, como uma comunidade vinculada pela boa fé submetida a um poder moderado, visando a comunidade de bens (da alma, do corpo e da fortuna). Em primeiro lugar, a alma. Logo a ideia de que a religião, a religião natural ou racionalizada, assinale-se, constituiria a alma da política, assumindo-se mais como uma religião secular do que como uma teocracia. Porque a comunidade da religião é a que mais unifica entre todas, para o que cita o caso do Pontífice Romano, considerado mais unificante que a comunidade dos corpos (dá o exemplo do turco que une judeus, cristãos e maometanos) e que a comunidade de fortunas (caso da monarquia espanhola reinando sobre genoveses e napolitanos), dado que este governo circunscrito aos bens da fortuna é, inquestionavelmente imperfeito, pelo que o Estado assim formado é um Estado incompleto e precário. Conclui assim que nenhum rei cristão pôde jamais suster por si só a monarquia de toda a cristandade, porque o Papa está por cima dele e faz e desfaz os seus projectos.
Retirado de Respublica, JAM
Camões, Luís de (1525-1580)
Com o autor d’ Os Lusíadas atinge-se o clímax do jusnaturalismo católico renascentista. Aí nos surge o apelo à moralidade heróica, a tentativa de actualização dos ideais de cavalaria, distinta tanto dos ideais burgueses como do modelo renascentista do cortesão, ao mesmo tempo que se mantém o fundo pastoralista, que alguns qualificam como um romantismo ante litteram. Os portugueses de então têm consciência de que mostráramos novos mundos ao mundo, que buscáramos do mundo novas partes, e que nisso havíamos superado Alexandre e os Romanos. Até tínhamos um rei que além de alto também já era sublimado. Um rei com um alto Império, governando grande parte do mundo, um rei que é tão longe obedecido.
Retirado de Respublica, JAM
Camisas Azuis
Designação dada aos nacionais-sindicalistas portugueses em 1932-1934. Os movimentos fascistas dos anos vinte e trinta eram identificados pela cor das camisas usadas pelos seus militantes. Os fascistas italianos tinham camisas negras e os nazis alemães camisas castanhas. Tudo derivam dos camisas vermelhas de Garibaldi. O movimento português da Mocidade Portuguesa instituiu a camisa verde e os integrantes chegaram a ser ridicularizados como os feijões verdes.
Retirado de Respublica~, JAM
Cameralística
Do grego kamara, sala abobadada. Deste grupo descende também o Kameralismus gerador da Staatswissenschaft, com J. G. H. Justi (1705-1771), J. von Sonnenfels (1732-1817), K. H. L. Politz (1772-1838) e Lorenz von Stein (1815-1890). O modelo tem origem na Prússia de Frederico, O Grande, o autor de Anti-Maquiavel (1739), surgindo a ideia de um Polizeistaat, de um Estado que tem como fim uma polícia de segurança (Sicherheitspolizei) externa (protecção face aos inimigos externos) e interna, bem como uma polícia de bem-estar (Wohlfahrspolizei) para a produção e circulação da riqueza. Todos se inspiram nos escritos de Wolff, para quem o príncipe (Regent) é uma personalidade abstracta e não um soberano pela graça de Deus, dado ser um representante (Stellvertreter) ou um oficial do Estado (Oberhaupt des Staates). São precisamente estas ciências políticas que, por impulso do hegelianismo e do positivismo jurídico, evoluem para uma teoria geral do Estado. E se os hegelianismos ainda vêem o Estado como uma espécie de Estado ideal situado acima da sociedade, eis que, com o positivismo jurídico, procura retirar-se esse mesmo Estado dos domínios da filosofia, transformando-o em mera realidade jurídica, gerando-se aquele normativismo que Carl Schmitt qualifica como imperialismo do direito.
Retirado de Respublica, JAM
Publicado por Zé Rodrigo às 5:13:00 da tarde
Categorias temáticas: Para uma História das Ideias Políticas (de A a Z)
Cambodja
(Kampuchea) 181 035 km2. 10 500 000 habitantes. Entidade oriunda dos império khmer, desde o século IX. Em 1841, o território é dividido entre tailandeses e vietnamitas, mas transforma-se em protectorado francês em 1863, integrando a Indochina francesa a partir de 1887. Ocupado por japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, que favorecem o movimento independentista, transforma-se em monarquia constitucional em 1947. Em 1949 é a independência dentro da União Francesa. Em 1953 a independência formalmente reconhecida pela França. O príncipe Norodom Sihanuk, no poder desde 1941, abdica a favor do pai em 1955, constituindo o partido sangkum (Comunidade Socialista Popular) que vence sucessivamente as eleições. Sofre as consequências de ser um Estado-tampão entre a Tailândia e o Vietname, dois dos seus tradicionais rivais. Surgem os khmers vermelhos, movimento guerrilheiro maoísta, em 1964, quando o país sofre das pressões resultantes da guerra do Vietname. Em Outubro de 1970, o general Lon Lol, pró-americano e anticomunista, proclama a república. Cinco anos depois, os khmers vermelhos conquistam a capital, assumindo o poder Pol Polt, desde Abril de 1976. Segue-se um período de loucura política, com cerca de 3 500 000 executados e iniciando-se uma guerra com os vizinhos vietnamitas em 1977, que leva à ocupação do país de 1979 a 1989. Eleições livres em 1993, com uma nova constituição em Setembro desse ano, com o regresso ao modelo da monarquia constitucional.
Retirado de Respublica, JAM
Camarilha
Nome dado ao partido dos amigos de D. Pedro em 1834-1835. Foi o conde da Taipa, D. Gastão Pereira de Sande, que chamou aos adeptos do governo de Palmela uma camarilha feita para devorar o País à sombra de uma criança. Eça De Queirós chega a considerar que, de um lado está povo, do outro, a camarilha, porque em cada cidade, em cada município, em cada povoado há sempre um grupo de homens que estão longe do povo, dos seus interesses, dos seus tormentos, da sua alma: chama-se a este grupo mundo oficial, camarilha, aristocracia, etc.
Retirado de Respublica, JAM
Cabala
O mesmo que ciência oculta. A interpretação iniciática da Bíblia. Daí que a expressão seja utilizada para qualificar qualquer conluio ou intriga secreta visando desestabilizar a ordem estabelecida.
Retirado de Respublica, JAM
Camachistas
Dentro das própria forças apoiantes do governo provisório da República, desde logo surgiram três sensibilidades, cada qual com o seu jornal. Os afonsistas congregaram-se em torno de O Mundo, dirigido por França Borges; os chamados conservadores republicanos, preferiram A República, sob a direcção de António José de Almeida; naquilo que poderemos considerar uma espécie de centro-direita ficou A Luta, com a liderança de Brito Camacho. Pouco a pouco, essas sensibilidades, adquiriram bandeiras. Os afonsistas foram particularmente activos nos centros urbanos, apoiaram-se na Maçonaria e na nomenklatura do PRP e, graças ao maior dinamismo organizacional, foram os únicos que conseguiram uma efectiva implantação nacional. Os camachistas conseguiram, sobretudo, apoio na zona dos intelectuais e naquilo a que hoje damos o nome de classe política da capital. Os almeidistas que pretendiam assumir as reivindicações da província, tiveram o apoio de muitos quadros históricos do PRP e foram gradualmente constituindo-se como os críticos conservadores do radicalismo afonsista. Ambos estes últimos, maioritários na Assembleia Nacional Constituinte, assumiram frontais críticas ao anticlericalismo radical dos afonsistas. Em 29 de Agosto de 1911 já Afonso Costa anunciou um novo programa político, divulgado no dia 4 de Setembro, para no dia 1 de Outubro inaugurar em Lisboa o primeiro Centro Republicano Democrático, ao mesmo tempo que formalmente defendia a manutenção da unidade do velho PRP, que considerava dever ser o partido único da República. Desta forma, obrigou os opositores a terem de assumir um acto formal de dissidência, de tal maneira que é na sequência de uma manifestação de carbonários e afonsistas contra os jornais afectos ao bloco, em 19 de Outubro, António José de Almeida, em nota publicada em A República, de 22 de Outubro, declarou-se independente, confirmando o abandono do velho PRP. Tudo aconteceu na véspera do congresso deste mesmo partido, realizado no dia 27 de Outubro, no Coliseu da Rua Nova da Palma, em Lisboa, onde as teses afonsistas foram esmagadoramente confirmadas, com a marginalização dos elementos afectos ao grupo de Brito Camacho que nele ainda compareceram. Não tardou de Brito Camacho, em 3 de Novembro, tivesse seguido o exemplo de António José de Almeida, a que, antes se opusera, declarando formalmente em A Luta que a unidade do PRP era impossível. O velho Partido Republicano Português, a partir de 1911, com a saída dos adeptos de António José de Almeida e de Brito Camacho, passou a ser conhecido como Partido Democrático, ficando sob a forte liderança de Afonso Costa, apesar de se desenhar uma ala direita, a dos bonzos, que será chefiada por António Maria da Silva, e uma ala esquerda, a dos canhotos, que terá a liderança de José Domingues dos Santos. Assim, em Fevereiro de 1912, eis que a partir destas dissidências surgiram dois novos partidos: os almeidistas instituíram um Partido Republicano Evolucionista, que teve como órgão o diário República e os camachistas constituíram o Partido Republicano Unionista, que teve como órgão o jornal A Lucta. Nas margens ficou o pequeno Partido Reformista, de Machado Santos, com o jornal O Intransigente, surgido logo em 11 de Novembro de 1910, que se assumiu como o órgão dos verdadeiros carbonários, bem como o velho Partido Socialista.
Retirado de Respublica, JAM
Camacho, Manuel Brito 1862-1934
Médico. Propagandista republicano. Funda o jornal A Lucta em 1 de Maio de 1906. Assume-se como um aristocrata da República e tenta dar ao respectivo jornal o estilo d’ O Repórter de Carlos Lobo d’Ávila e Oliveira Martins. Integrado numa teia de relações familiares com outros hierarcas republicanos. É irmão de Inocêncio Camacho, cunhado de José Barbosa e genro de Jacinto Nunes, influente republicano de Grândola, tendo o apoio de Aresta Branco, influente republicano em Beja. Passava os dias numa tertúlia da farmácia Durão. Era um hiper-crítico, manipulador da ironia. Jesus Pabón chama-lhe um dissidente perpétuo e A. Cabral diz que se mostrou sempre tão azedo que há quem diga que nas suas veias gira vinagre puro em vez de sangue. Ministro do fomento do governo provisório, de 22 de Novembro de 1910 a 4 de Setembro de 1911. Funda o partido unionista. Apoia os inícios do movimento dezembrista que visa derrubar o governo de Afonso Costa em 1917, mas retira-se do processo nas vésperas do movimento. Alto-comissário em Moçambique 1921-1923. Acaba por apoiar de forma efémera António Maria da Silva, contra a posição asumida pelos antigos correlegionários. Nos anos trinta, chega a proclamar: não me quiseram a mim, agora têm-no a ele, numa referência a Salazar. Ver Matias Ferreira de Mira e Aquilino Ribeiro, Brito Camacho [1942], Lisboa, Bertrand, 1948.
Retirado de Respublica, JAM
Calvin, Jean ou Calvino (1509-1564)
Jurista francês. Rejeita as teses de Melanchton sobre a criação de um único sistema entre a Igreja e o Estado. Defende a separação entre o poder secular e o religioso, considerando-os como sociedades independentes. Advoga o auto-governo da Igreja. Propõe um governo forte de carácter aristocrático, uma assembleia de pessoas veneráveis. Admite a desobediência apenas quando as leis contrariam o mandato divino. Se em Genebra, sob a orientação ddo próprio e em regime de maioria, as teses levam a uma teocracia e a uma oligarquia puritana e ascética onde a autoridade secular se transformou em instrumento do concílio eclesiástico, com a oligarquia a dominar, impondo a pena de morte para os heréticos e regulando a vida privada, onde os calvinistas estão em minoria (França, Holanda, Escócia e Inglaterra) o calvinismo é uma doutrina de liberdade contra o absolutismo e a intervenção das autoridades seculares em matérias religiosas, defendendo a limitação do poder do Estado e favorecendo o republicanismo, em nome do auto-governo da Igreja. No plano religioso, considera que o êxito e o lucro constituem sinais da eleição divina, favorecendo as teses do homem de sucesso, o individualismo e o capitalismo.
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Publicado por Zé Rodrigo às 11:08:00 da manhã
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Calendário Gregoriano
Estabelecido pelo Papa Gregório XIII em 1582, onde se saltaram dez dias face ao calendário juliano, o primeiro dos que fez coincidir o ano civil com o ano solar. A palavra vem de calendoe, o primeiro dia do mês. Em 1700, 1800 e 1900, foram saltados mais três dias. Com efeito, o calendário juliano não suprimia os anos bissextos terminados em 00 não divisíveis por 400. A reforma de Gregório XIII foi, então, imediatamente adoptada pela Itália, Espanha, Portugal e França. Os países protestantes tardaram a seguir a reforma porque, como dizia Kepler, os protestantes gostam mais de estar em desacordo com o sol do que em acordo com o papa. No século XX, foram aderindo ao calendário: o Japão, em 1911; a China, em 1917; a Rússia, em 1918; a Bulgária, em 1919; a Roménia, a Grécia e o que viria a ser a Jugoslávia, em 1923, e a Turquia, em 1926. O Decreto russo foi adoptado em 6 de Fevereiro do calendário juliano, isto é, a uma semana do dia 31 de Janeiro do calendário gregoriano. Determinava-se que o primeiro dia a seguir a 31 de Janeiro (do calendário juliano, equivalente ao dia 13 de Fevereiro do calendário gregoriano) considerar-se-á não 1 mas 14 de Fevereiro. Deste modo, 25 de Outubro do calendário juliano equivale a 7 de Novembro, do calendário gregoriano (mais treze dias). O considerando do decreto dizia estabelecer-se o sistema de contagem do tempo utilizado por quase todas as nações cultas.
Retirado de Respublica, JAM
Publicado por Zé Rodrigo às 11:02:00 da manhã
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