New Science of Politics (Voegelin), 1952
Faz-se um ataque cerrado ao peso da herança positivista que teria feito deslocar o esforço científico da teoria para o método, quando importava voltar à consciência dos princípios, a uma ciência cristã e clássica do homem que teria sido prevertida por quatro super-homens, o progressista de Condorcet, o positivista de Comte, o materialista de Marx e o dionisíaco de Nietzsche.
O cientista político, quando aborda as realidades políticas, encontra um campo já ocupado sobretudo pelas auto-interpretações da sociedade, pelos símbolos sociais pré-existentes, pelos mitos e pelos ritos.
Todo o poder visa o ideal de um governo obtido pelo consenso dos cidadãos, o que pressupõe a articulação dos cidadãos individualmente considerados até ao ponto em que eles se possam tornar cidadãos activos na representação da verdade através do peitho, a persuasão.
A sociedade é iluminada por um complexo simbolismo, com vários graus de compactação e diferenciação ‑ desde o rito, passando pelo mito, até à teoria ‑ e esse simbolismo a ilumina com um significado na medida em que os símbolos tornam transparentes ao mistério da existência humana a estrutura interna desse pequeno mundo, as relações entre os seus membros e grupos de membros, assim como a sua existência como um todo. A auto‑iluminação da sociedade através dos símbolos é parte integrante da realidade social, e pode mesmo dizer‑se que é uma parte essencial dela, porque através dessa simbolização os membros da sociedade a vivenciam como algo mais que um acidente ou uma convivência; vivenciam‑na como pertencendo a sua essência humana.
O teórico, deve ao menos ser capaz de reproduzir imaginativamente as experiências que a sua teoria busca explicar. Em segundo lugar, a teoria como explicação só é inteligível para aqueles em que a explicação desperte experiências paralelas como base empírica para testar a base da teoria. Porque uma teoria não é apenas a emissão de uma opinião a respeito da existência humana em sociedade; é uma tentativa de formular o sentido da existência, definindo o conteúdo de uma género definido de experiências.
Gnosticismo
Voegelin considera que o gnosticismo contemporâneo é marcado por quatro ideias de super-homem: o progressista (Condorcet), o positivista (Comte); o materialista (Marx) e o dionisíaco (Nietzsche), propondo o regresso à ciência clássica e cristã do homem, a que chama new science of politics, entendida como uma ciência da existência humana na sociedade e na história e dos princípios de ordem geral, concepção já defendida por Aristóteles, Santo Agostinho e Hegel (Chicago, The Chicago University Pres, 1952) (cfr. a péssima trad. portuguesa de José Viegas Filho, A Nova Ciência da Política, 2ª ed., Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1982).
Abrange as seguintes matérias:
- análise do declínio e da restauração da filosofia política;
- acção do positivismo;
- as teses de Weber sobre a ciência livre de valores;
- obstáculos e êxitos na restauração da ciência política neoclássica.
- na segunda parte: estudo monográfico do conceito de representação política.
- na terceira parte: estudo da natureza da modernidade, da revolução gnóstica e do fim da modernidade.