Wilhelm Dilthey que teorizou tanto a noção de explicação,de carácter causal, própria das ciências físicas e biológicas(naturwissenschaften),como a de compreensão (verstehen), respeitante às realidades culturais,opondo‑se,deste modo , ao método positivista de Durkheim, que pretendia,como vimos,tratar os factos sociais como coisas. Dilthey,marcado por Hegel,considerava a vida humana como uma realidade unitária,como unidade primária,uma unidade do devir,e não uma simples entidade composta por vários elementos. As ciências do espírito (geisterwissenschaften), seriam, assim,anteriores às ciências da natureza.Os factos do espírito,que não são dados,como os factos naturais,só poderiam ser apreendidos através de uma espécie de autognose (erlebnis).Compreender seria referir cada membro ao todo,seria descobrir as conexões de sentido (sinnzuzammenhangu), compreender as estruturas por meio da referência ao sentido. Compreender é cum mais alguma coisa.É apanhar em conjunto uma coisa com outras,é intuição não sensível,pelo que só é possível "compreender" objectos portadores de uma certa significação,de um conteúdo de sentido (v.g. compreende‑se uma obra de arte,mas não uma demonstração matemática que apenas pode perceber‑se). Dilthey adopta a hermenêutica como a teoria do conhecimento das ciências do espírito,assente em tês princípios básicos.Primeiro,que o conhecimento histórico é reflexão sobre si mesmo; segundo,que compreender não é explicar,nem simples função racional,dado que se cumpre com todas as forças emotivas da alma; terceiro,que a compreensão é um momento da vida,para a vida. A vida humana tem de ser considerada teleologicamente, como realidade unitária, como unidade de devir e não como soma ou agregado de parcelas. Entidade que possa decompor-se pela análise e, depois, recompor-se pela síntese, como se as respectivas parcelas fossem átomos fungíveis e passíveis de seriação. Nestes termos, podemos também dizer que os factos sobre os quais versam as ciências humanas e sociais, aquelas que o mesmo Dilthey designava como as ciências do espírito, não tratam de dados, entendidos como os factos naturais, mas antes como algo que só pode apreendido através da chamada Erlebnis ou autognose, a compreensão da estrutura, através de uma referência ao respectivo sentido. Aliás, só é possível compreender objectos portadores de uma certa significação, isto é, objectos que incorporem valores. Neste sentido, se é possível compreender-se uma obra de arte, já não pode compreender-se uma equação da matemática. Compreender, como salientava Dilthey, não é descobrir uma lei geral a partir de uma série incompleta de casos, mas uma estrutura, um sistema ordenador que reúne os casos, como partes de um todo. Daí que, para compreendermos qualquer coisa, tenhamos de usar todas as forças emotivas da alma, porque a natureza explica-se, a cultura compreende-se. É que as coisas do espírito são, simultaneamente, reais e ideais, são objectos que incorporam valores, pelo que, na senda de Wilhelm Dilthey, as temos de compreender, descobrindo conexões de sentido entre cada parcela e o todo da vida humana, perspectivado como uma unidade de devir. "A relatividade de todos os conceitos humanos é a última palavra da visão histórica do mundo" (cfr. trad. cast. de Eugénio Imaz, Introducción a las Ciencias del Espirito, México, Fondo de Cultura Economica, 1944).