terça-feira, 25 de setembro de 2007

Espectrismo

António Sérgio chama à idolatria do Estado um "espectrismo", porque revela "a persistência de certas formas de proceder e de pensar que sobrevivem às condições que antigamente lhe deram vida". Salienta que "a estrutura política moderna não resultou exclusivamente do desenvolvimento interno da sociedade cristã porque foi nela enxertada". E "o enxerto denominou‑se Renascimento; chamaram‑se Reis os que enxertaram, imitando os soberanos da Roma antiga; outros chamaram‑se Juristas e imitaram os juristas da antiga Roma; outros chamaram‑se Humanistas e imitaram a retórica da antiga Roma". Neste sentido "enxertou‑se o ideal de potência, guerreiro, retórico e nacionalista,no ideal cosmopolita da sociedade cristã,quando a Europa se fez romana e adoradora do génio latino". O Estado transformou‑se,assim, numa "grande caverna de Fantasmas", num "espectro que de espectros se alimenta"..Para o mesmo autor,"para sermos justos devemos pôr barba por barba o Estatismo monárquico com o Estatismo jacobino", porque "foram os espectros da Latinidade da soberania à moda romana,que um dia sugeriram a João Jacques Rousseau as fórmulas vesgas do Contrate, evangelho de demagogos". Segundo Sérgio foi o estatismo burguês e jacobino que desencadeou o estatismo monárquico e belicoso da Alemanha. Para o efeito cita Foerster,segundo o qual "os armamentos da Alemanha foram a resposta dos pensadores e dos poetas à humilhação dos alemães por Napoleão Bonaparte. O militarismo e o imperialismo napoleónicos é que transportaram de Weimar para Potsdam o centro de gravidade da Alemanha ,e colocaram a tradição militar prussiana no âmago da vida nacional".


Retirado de Respublica, JAM