sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Mito

Se o homem é razão e vontade, também não deixa de ser imaginação. Com efeito, ao lado das duas potências da alma inventariadas por Platão, a ratio e a voluntas, tem também que colocar-sese uma terceira :o mito. O homem não é apenas animal rationale et politicum, é também animal symbolicum. É, em suma, animal social e cultural. Como justamente observa Paul Ricoeur, "toda a razão tem um horizonte sobredeterminado pela crença", havendo "um ponto, onde o racional comunica com o mítico", donde deriva toda "uma constituição simbólica do laço social". Com efeito, "toda a ética que se dirige à vontade para a lançar no agir deve ser subordinada a uma poética que abre novas dimensões à nossa imaginação". Voegelin assinala também que " a sociedade é iluminada por um complexo simbolismo, com vários graus de compactação e diferenciação - desde o rito, passando pelo mito, até à teoria - e esse simbolismo a ilumina com um significado na medida em que os símbolos tornam transparentes ao mistério da existência humana a estrutura interna desse pequeno mundo, as relações entre os seus membros e grupos de membros, assim como a sua existência como um todo. A auto-iluminação da sociedade através dos símbolos é parte integrante da realidade social, e pode mesmo dizer-se que é uma parte essencial dela, porque através dessa simbolização os membros da sociedade a vivenciam como algo mais que um acidente ou uma convivência; vivenciam-na como pertencendo a sua essência humana". Mais recentemente Edgar Morin vem considerar que "não podemos fugir ao mito, mas podemos reconhecer a sua natureza de mitos e relacionar-nos com eles, simultaneamente por dentro e por fora". Porque "o problema consiste em reconhecer nos mitos a sua realidade e não a realidade. Em reconhecer a sua verdade e não em reconhecer neles a verdade. em não introduzir neles o absoluto. Em ver o poder de ilusão que segregam constantemente e que pode ocultar a sua verdade. Devemos demitificar o mito, mas não fazer da demitificação um mito".

Segundo Mircea Eliade, o mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar num tempo primordial, no começo, assumindo-se como um relato da criação. É uma alegoria ou uma fábula que explica uma determinada ordem e que assim alimenta o imaginário social. Para Sorel, o mito como poesia social, é o conjunto das representações mobilizadoras de um grupo. Para Malinowski é um instrumento de explicação e de justificação de uma situação de superioridade.

Retirado de Respublica, JAM