Os actuais donos do poder estão dependentes, não dos jogos interbancários, ou da falsa ciência da geofinança, mas antes da eficácia das bastonadas policiais nas praças de Atenas, contra a revolta de um povo enganado, que logo qualificamos como anarquistas à solta.
Os mesmos comentadores de um situacionismo de falsa consciência e nostalgia revolucionária que teoriza o Maio 68 e Tian An Men não aguentam a verdade das imagens de ontem na cidade matriz da democracia. Sobre as praças públicas da revolta começam a desaguar as torrentes de balbúrdia...
O belo construtivismo da hipocrisia que tem Barroso como consequência deste paralelograma de forças vivas parece já não ter programa disponível para a nuvem vulcânica que não estava na "check list" dos manuais de pilotagem automática desta governança sem governo...
O rolo compressor de povos, memórias e identidades começa a mostrar sinais de obsolescência. Parece que estamos a chegar, mais depressa do que o previsto pelo lume da razão, ao promontório dos séculos. Os lumes da profecia da chamada razão complexa parecem ser mais adequados ao tempo que passa.
A ditadura dos factos está a rebentar os caixilhos das fornalhas ideológicas dos que pensavam conter a criatividade nos manuais de planeamento dos processos históricos. Não é a história que faz o homem. É o homem que faz a história. Mesmo sem saber que história vai fazendo.
Sejamos sérios: nem Mário Soares consegue conjugar o que nos vai acontecer amanhã. Só resistirão os que aprenderam a assumir o risco do tudo ou do seu nada. Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Nos tempos da Grande Guerra, a hiper-inflação que gerou o fascismo e garantiu o bolchevismo, produziu, entre nós, uma revolução sociológica: transportou aldeias inteiras para as avenidas novas de Lisboa, porque os rendimentos fundiários não sustentavam elites locais nas aldeias onde o jornal "O Século" era o de maior circulação em Portugal
Nos tempos posteriores à Segunda Guerra Mundial, os neo-realistas e os tipos da JOC semearam as gerações do Maio 68 e as massas que nos deram PREC e pós-revolução, acabando com o Portugal Suave do "viver habitualmente", quando "os vascos eram santanas"...
Cerca de um milhão de retornados deram a volta ao Portugal de Salazar, Caetano e Vasco Gonçalves e, ao rejuvenesceram a nossa demografia, permitiram a integração europeia e a nova reidentificação de Portugal...
Quem souber ler os sinais dos tempos pode compreender que isto já lá não vai com a Santa Aliança de Ricardo Salgado e Joe Berardo, com discursos de Sócrates, submarinos alemães e empresários de sucata, para comissões parlamentares de inquérito fazerem dezenas e dezenas de perguntas ao primeiro-ministro em funções, mas sem que tenha sido feita a verdadeira pergunta: será que Vossa Senhoria existe mesmo?
Porque Sócrates não existe: é o representante dos fantasmas de direita e dos preconceitos de esquerda do homem comum português, isto é, daquele servo da gleba hipotecária que tem um posto de vencimento e não um posto de trabalho e a que alguns chamam "homo cavaquistanensis"...
Mas haverá uma semana de interregno, para aquelas interrupções pelas quais pedem desculpa, para que o programa possa recomeçar: o Benfica será campeão, mesmo que Jesus seja apenas filho de Deus, conforme reconhecerá Sua Santidade que, antes de nós, teve o privilégio de ler, sem censura, a terceira parte do Segredo da emanação do Uno na Cova de Iria.