Erasmo, Desidério (1469-1536)
Contra a razão de Estado
No seu regime de príncipes, dedicado ao futuro Carlos V, coloca-se numa perspectiva radicalmente diversa da assumida por Maquiavel e da razão de Estado, considerando que não pode haver uma moral privada diversa da moral pública. O rei continua a ser considerado como imago Dei, pelo que deve estar mais vinculado à moral cristã do que os próprios súbditos. Faz depender a legitimidade do poder mais do exercício do que do título, enfatizando o facto das acções do príncipe estarem dependentes da lei e ao serviço do bem comum. Não admite também a resistência activa face aos poderes estabelecidos e condena as sedições.
Monarquia limitada
Defende uma monarquia limitada, controlada e temperada pela aristocracia e pela democracia onde os diversos elementos de equilibram uns aos outros. Era a perspectiva de Cícero e de São Tomás, algo que vai retomado por Montesquieu, Constant e Tocqueville.
Concórdia
No plano da política internacional assume-se como pacifista, considerando que a raiz da concórdia tem de situar-se no interior do homem. Não se mostra favorável ao conceito da própria guerra justa, estabelecendo-lhe inúmeras limitações, defendendo a arbitragem internacional.
Alguns ainda mantêm o universalismo da ideia medieval de res publica christiana, como o humanismo renascentista de Erasmo de Roterdão e Juan Luis Vivès, outros, continuando tal senda, até introduzem a ideia de comunidade universal, como os teóricos da neo-escolástica peninsular, de que se destacam Francisco de Vitória e Francisco Suarez.
Desidério Erasmo (1466-1536), principalmente em Institutio principis christiani, de 1516, e Querela pacis, de 1517, é um pacifista que tanto não advoga, como Dante, o imperium mundi de uma monarquia universal, como também parece não nutrir qualquer espécie de nostalgia pelo Império Romano, defendendo o pluralismo político e considerando que a paz não é contrária à multiplicidade dos reinos, desde que a lei evangélica seja respeitada, por considerar o reino de Cristo como o único reino universal.Adversário do maquiavelismo, adopta um programa prático de pacifismo que até se mostra céptico face à teoria da guerra justa, defendendo, pelo contrário, que seja encorajada a formação de uma consciência cristã comum, pela estabilização do estatuto territorial da Europa, pela intervenção necessária da população em matéria de declaração de guerra, pela organização da arbitragem e pela mobilização de todas as forças morais a favor da paz. Assim, tal como os estóicos, considerava que, todo aquele que se dedicasse às coisas sagradas das musas, era seu compatriota (homopatrida).
Como refere Martim de Albuquerque, concebia a Europa, como um conceito ético, como espaço cultural aglutinado pela religião cristã e sob um ideal pacifista, num mundo descentralizado e pluralista e que toda a discórdia se resolva em acordo sobre o ideal comum.
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